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OPINIÃO

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O movimento antivacina alemão precisa aprender com a favela

Vista geral da favela da Rocinha no Rio de Janeiro - Yasuyoshi Chiba/AFP
Vista geral da favela da Rocinha no Rio de Janeiro Imagem: Yasuyoshi Chiba/AFP

16/04/2021 06h00

O pequeno (mas barulhento) movimento antivacina vem ganhando evidência no mundo todo, e nos países onde a vacinação contra a covid-19 está a todo vapor existe um desafio: os negacionistas não querem ser vacinados. O que pessoas nascidas com o privilégio de cometer erros podem aprender com "aquele louco que não pode errar" da letra dos Racionais MC's?

Segundo pesquisa do jornal alemão RND, 72% dos alemães querem se vacinar contra a covid-19. Do outro lado do planeta, apesar de toda a dificuldade, o Brasil conta com o percentual de 84% de brasileiros que querem se vacinar contra a covid-19, segundo pesquisa do instituto Datafolha divulgada dia 21 de março.

Mas do que é constituído esses 28% de alemães que não querem se vacinar? Assim como no Brasil e no mundo, a maior parte dos boatos que circulam na Alemanha surgem através da desinformação organizada sobre vacinas contra a covid-19. Teorias da conspiração, clichês antissemitas e até mesmo a crença em um Estado onipotente que quer implantar chips através dos imunizantes. Os movimentos antivacina andam fazendo diversos protestos, embora não exista no momento a obrigatoriedade da vacina contra o coronavírus no país europeu.

"A negação da gravidade da pandemia, a disseminação de tratamentos sem comprovação científica, o combate deliberado ao uso de máscaras e às medidas de restrição de circulação são os grandes responsáveis, neste momento, pela segunda onda explosiva que o país está sofrendo. A história colocará essa tragédia na conta desses negacionistas", disse o diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeus Covas em entrevista à Deutsche Welle.

Era esquisita a ideia de ser injetado com uma doença, certo? A incerteza seria compreensível se estivéssemos no começo do século 20, em uma época em que a vacina contra a varíola consistia no líquido de pústulas de vacas doentes. Entretanto, o cenário mudou. Não somente os métodos evoluíram como agora também temos divulgadores científicos nos explicando conceitos complicados de maneira palatável, assim como nesse exemplo:

Os 28% da população alemã evidenciam duas verdades: é necessário ter empatia e manter um diálogo amplo com os desinformados, e é urgente o combate à desinformação pautada nos interesses pessoais, a desinformação com a própria liberdade. Ser um negacionista mesmo depois de ter frequentado as melhores escolas e vivido uma vida banhada de privilégios, se torna não somente constrangedor, como também um sintoma da falta de senso de realidade. E nesse assunto a favela dá aula.

84% da nossa população é significativo e não se pode esquecer. "Aquele louco que não pode errar" da letra de Negro Drama é a maioria do nosso povo brasileiro, e é a nossa maioria dos pobres e favelados que está batendo de frente na luta contra o novo coronavírus. São os nossos profissionais da saúde, são os postinhos nas periferias que estão realizando o trabalho árduo em favor da nossa vida. São as assistentes sociais que construíram a nossa consciência com muito trabalho de base. Com muita informação pautada na importância de tomar a vacina da pólio, meningite, BGC, Hepatite B, e etc.

Nós precisamos seguir no corre até chegarmos de fato nesses 84% de vacinados. A conta é simples: quanto mais gente estiver imune ao vírus, menos ele tem lugares para se multiplicar. Então, quando você se vacina, não está salvando só a sua vida, mas também a de outras pessoas. É vacina começando nas favelas e depois para todos nós nesse mundão. É exatamente assim que daremos para o mundo aulas de consciência, de classe e de realidade.