Posição política dos EUA para o clima é absurda

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Donald Trump, negacionista do clima e presidente dos EUA, tomou posse em 20 de janeiro e, no mesmo dia, decretou mais uma vez a saída de seu país do Acordo de Paris, pacto histórico entre 196 nações que tem como principal meta limitar o aquecimento global em 1,5ºC. A decisão não surpreende: Trump havia prometido abandonar o acordo se retornasse ao cargo.
Curiosamente, a retirada dos EUA ocorre logo após a confirmação de que a temperatura média global em 2024 chegou a 1,55ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900) pela primeira vez.
As emissões de GEE (gases de efeito estufa) caíram na maior parte dos oito anos do governo Obama (2009 a 2017) e voltaram a crescer em três dos quatro anos do primeiro governo Trump (2017 a 2021). Sua volta ao poder representa um retrocesso de quatro anos na agenda climática, com impactos que se estenderão por décadas.
Como segundo maior emissor de GEE (13% das emissões globais), a saída dos EUA do acordo compromete a mitigação global.
Em 2021, Joe Biden reintegrou o país ao acordo, promovendo avanços importantes. Agora, os EUA se juntam novamente a Iêmen, Irã e Líbia, os únicos fora do pacto. Há o risco de que outros governos negacionistas, como o da Argentina, sigam o mesmo caminho.
O impacto também se reflete no financiamento climático. O Brasil deve ser afetado diretamente pelo corte do Fundo Amazônia. Em fevereiro de 2023, Biden prometeu US$ 500 milhões para o fundo, mas apenas US$ 54 milhões foram efetivamente doados.
Sair do Acordo de Paris significa que os EUA não são mais obrigados a fornecer atualizações anuais sobre suas emissões de GEE. Essa falta de transparência torna mais difícil determinar como o mundo estará monitorando a redução de emissões de GEE. Obviamente as NDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas) dos EUA, que são os compromissos climáticos assumidos pelo país para diminuir suas emissões, serão comprometidas.
Segundo Trump, os EUA estão enfrentando uma emergência energética, e ele prometeu aumentar agressivamente a produção de gás natural e petróleo. Em seu discurso de posse, falou "perfure, baby, perfure" ("drill, baby, drill"), incentivando as empresas a intensificar a exploração de combustíveis fósseis. Como negacionista do clima, ele não leva em conta que estamos no tempo da emergência climática que tem, como principal impulsionador do aquecimento global, os combustíveis fósseis.
Trump também se comprometeu a revogar políticas ambientais do governo Biden, como o Green New Deal, uma proposta de recuperação verde com a finalidade de combater as mudanças climáticas. Além disso, prometeu cancelar a obrigatoriedade de fabricar veículos elétricos.
O republicano também planeja interromper a construção de parques de energia eólica no mar, focando na utilização de combustíveis fósseis. A energia limpa não pode ser ignorada. Em 2024 movimentou US$ 2 trilhões e, no futuro, significará lucros enormes com milhões de empregos na indústria e menos poluição na atmosfera.
E a COP30?
Estou numa expectativa muito positiva com a equipe que o governo federal anunciou no dia 21 de janeiro. O embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do MRE (Ministério das Relações Exteriores), foi uma indicação muito importante para a COP30.
Experiente, tem liderado o Brasil nas últimas COPs. Eu estive presente e vi seus discursos na COP28 em Dubai em 2023. Foi uma belíssima posição do embaixador defendendo que não podemos deixar a temperatura ultrapassar 1,5ºC e também da urgência de proteger toda a Amazônia para evitar que ultrapasse o ponto de não retorno. Também tenho certeza de que Ana Toni, secretária nacional de Mudança do Clima do MMA (Ministério do Meio Ambiente), é um excelente nome como diretora-executiva da COP30. Essa equipe terá que batalhar muito para transformar a COP30 na mais importante de todas as COPs.
A convenção terá de lidar com o fato de os EUA, historicamente o maior emissor global (cerca de 20%) e atualmente o segundo maior emissor de GEE (cerca de 13%), terem saído do Acordo de Paris. A COP30 precisa trazer todos os outros países do mundo para realmente acelerarem muito suas metas.
Temos que acelerar demais a redução das emissões dos GEE globalmente. Temos que negociar com todos os demais países porque todos estes terão que ignorar completamente a posição política absurda dos EUA. Todos os países têm que se unir contra essa posição e, se isso acontecer, talvez o próximo presidente dos EUA vá mudar de posição em relação a combater a emergência climática porque todos os outros países do mundo vão estar em outra direção, a da sustentabilidade.
Independentemente da decisão dos EUA, todos signatários do Acordo de Paris devem acelerar seus compromissos. Mas, mais importante que a posição de Trump, é o fato de que a temperatura média global ultrapassou 1,5ºC e os extremos climáticos explodiram em todo o mundo no ano passado.
No primeiro mandato de Trump, na ausência da liderança dos EUA, países como China, Índia e membros da União Europeia começaram a se afirmar com maior protagonismo em questões relacionadas às mudanças climáticas. A nova saída dos EUA do Acordo de Paris pode dar espaço para países como o Brasil, que tem enorme potencial em se tornar um dos mais relevantes e efetivos líderes globais em sustentabilidade.
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