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Café com Dona Jacira

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Gente vem vê a briga de passarinho

Gente vem vê a briga de passarinho - Victor Balde/Jouis Fotografia
Gente vem vê a briga de passarinho Imagem: Victor Balde/Jouis Fotografia

30/05/2021 06h00

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O Largo Ensolarado

Pode até ser que muita gente diga que não, mas me conhecendo e tendo um conhecimento enorme devido aos cinquenta e seis anos de prática e estudos diários.
Estudos a curta distância da maior região do mundo a Rua Lucas Alaman, que tem uma população de 25 pessoas, e pra chegar a este montante precisei incluir a fauna e flora.
A curiosidade move o mundo ou pelo menos move o nosso mundo.
Agora, se acaso puxar pra briga ou esculhambação, aí move todo o resto do mundo.

Desde que me entendo por um ser observador tenho pra mim que nada une mais a galera do que a frase bem gritada:
- Olha a briga!
Uma briga move montanhas, moitas, murinhos, pequenas brechas, é capaz de dar vida a samambaias e folhagens.
E que fique bem escurecido, o que eu digo todos querem ver sem ser vistos, minto?
É meio que um sistema de defesa universal, a gente nunca sabe onde vai estourar a próxima contenda, não é mesmo?
Hoje é na casa de seu Juvenal, amanhã na Dona Maria, e como o espírito de contenda roda e não tem afilhado protegido do ruído, amanhã pode bem estourar a boiada da encrenca bem ali no seu portão, com você, comigo, não vou me defender, me conheço, estou certa ou não?
Use aqui a sua oportunidade e não me permita mentir ou mentir sozinha.
E, às vezes, a causa é séria, mas outras nem tem razão, é um chinelo virado, um sonho mau contado, um foi não foi e pronto, ta feito, ta lascado, já é o bastante.
Fofoca, dívida, amores, desamores, estas duas últimas uma precede a outra.
Mentiras, velhos guardados alheios, receios, achismos, comodismos e assombração, cabulagem de aula, cola mal passada, política e futebol são as que mais tem, não faltam motivos.
Volta e meia tem alguém cuidando, botando o dedo no umbigo, no olho do furacão de alguém.
Aqui no Ataliba este chamado pra ver uma briga já parava o trânsito bem antes de existir o próprio trânsito.
Até briga de cachorro a gente parava pra olhar, pra apartar, principalmente em dias de terça e quinta, nestes dias passava a carrocinha e cada qual ficava de olho na sua cria.
Nesses dias a gente só andava com nosso peludo debaixo da nossas vistas, trancafiado ele chorava, uivava, mas nada de rua até o caminhão do carrasco passar.

E não tem lugar pra ela acontecer, mas é horrível quando está num lugar inacessível aos olhos.
A gente ouve o diz que me diz, mas não consegue visualizar, aí a imaginação da gente tem que adivinhar o feito ou o mau feito e distinguir do não feito.
Aqui na rua de mãe no Ataliba já houve de tudo, nesses tantos anos que eu conheço, como eu mesma digo estou aqui a muitas jacirações.
Mas o nosso larguinho é eclético, briga criança, mulher, velho, nova, moleque.

O largo em frente de casa já presenciou de corpos abandonados a amores de todo tipo.
Pra além de brigas, tem um fato que eu só vi aqui, os vizinhos não se tem lá muito afeto como antigamente por várias razões, mas no dia de passagem de ano acontece uma mágica, na hora dos fogos todos saem pra rua se abraçam, se beijam e se pá até dizem que tem saudades de outrora, e prometem que no ano vindouro tudo vai mudar.
Até a cachaça passar e amanhecer, aí volta tudo ao normal ou ao anormal.
E a gente, nós que somos crias dessas mesmas pessoas, quando crianças a gente nem liga, mas depois que cresce vai ficando cheio de marra igual as pessoas grandes e aí a gente tem filhos pra roer a corda e falar com os desafetos da gente.
Sempre foi assim, desde que o brejinho sumiu e virou o larguinho do Ataliba.
Seja sincero com você, se agora neste exato momento que você está lendo aqui sentadinho na santa paz do seu cantinho talvez tomando um chá, uma cervejinha, o que faria se de repente ouvisse um ruído de briga qualquer?
Acha que seguiria seu destino isolado, sozinho, ou jogaria a leitura para o lado? Já que ela é um fato seguro um guardado seu, adquirido, que está seguro e você poderá inclusive alcançá-lo quando quiser.
Você deixaria tudo o que está fazendo pra ver uma briga?
É disto que eu estou escrevendo.

Ali, no larguinho, são feitos todo tipo de barulho, que agrada uns e outros não.
Pagodes, funks, festa junina, natal, ano novo, velório, culto, casamento e briga.

Já foi estacionamento, campo de futebol, rinha de briga de galo, pasto, palco de cirandas, era nele que a gente jogava burca, já foi terreiro de empinar pipa.
E quantas vezes ali a gente chorou e se reuniu pra velar os nossos, ali também é palco dos nossos rituais. Quando meu irmão faleceu, o larguinho encheu de gente, e os vizinhos tiveram que organizar a fila para que todos pudessem se despedir dele.
Mas se eu for colocar aqui todas as vezes que meu irmão Adi causou ali no largo.
Uma delas foi num domingo de tarde quando mãe mandou ele limpar a sujeira em frente ao nosso portão, porque o esgoto da casa do vizinho estava a céu aberto.
Ele foi lá, juntou a sujeira e colocou em frente ao portão do vizinho.
O vizinho chamou a viatura e todos foram pra delegacia.
Estes desfechos não tem nem ganho, nem graça, nem feiura, só perda de tempo.

E quantas contendas de cachorro, gato, passarinho, galinha, galo, tudo quanto era barulho vinha se acabar ali no larguinho em frente a casa de mãe.
Infelizmente agora é um grande depósito de lixo, isto é novo moderno.
Antigamente, no tempo que eu morava ali, viesse lá um fi de quem fosse com sua sacolinha de lixo ou entulho, antigamente não tinha plástico era lata mesmo.
Então viesse ali o Papa pra colocar seu lixo pra ver se ele não voltava com a sacolinha a lata dele e um bocado de impropério.
Eu falava, Dona Florinda saia na janela dela e gritava e todo mundo defendia o nosso espaço.
Ora, se o lixeiro passa três vezes por semana, e todo mundo consegue colocar o lixo, por quê a formosura nem põe o lixo pra fora e depois quer que todo mundo curta o lixo dele ou dela? O bonito ou a bonita.
Eu mesma já tomei uns catiripapo de mãe ali por causa de namorico, aí a gente entende o que é o pau que dá em Chico e em Francisco, que mãe nunca deu trégua, e aí a gente vê que não tem graça.
Já me atraquei com outros moleques por causa de pipa, de bolinha, por qualquer coisa, uma idéia que eu quisesse defender e outro dissesse que não, tome tapa, chute, safanão e beliscão, até pedrada.

O largo em frente da casa da mãe já foi transformado em fronteira, porque quando a gente é criança a gente faz barulho.
Quando cresce quer silêncio, vai entender.
A gente cresceu, estudou, e quer viver em paz, aí tem o grupo da esculhambação.
E aí é barulho, trave de gol, linha enroscada, pipa na antena, balão de madrugada, churrasco, piscina fechando a rua.
Tempos de hoje e tempos atrás.
Quem já viveu a vida quer sossego, descanso, silêncio, quem tá vivendo ela quer vivê-la, nada mais.
E não tem hora nem dia, tem o momento, que é qualquer um.
Era uma manhã bem cheia de sol.
Sempre falo das manhãs de sol, como as mais felizes, não gosto de frio, quando o assunto é triste, mesmo com sol, vejo como dia escuro.
Pra mim a tristeza é fria e escura.
Nem lembro o que estávamos fazendo, tomando café talvez.
Não importa, a um grito, um chamado desse, a gente larga o feito sendo feito e vai, na volta a gente reflete sobre o que ficou pra trás.
A primeira ação é ir olhar, é mais forte que a gente.
Dei de cara ali, diante da multidão contada de uns curiosos, com o Alfredinho, um menino magrelo e franzino, nervoso no pé do escadão, corria pra ver o ocorrido e bem na axila prendia um filão de pão.
E junto com ele vinha um outro que tinha muitas sardas, aqui já é a mais nova geração, o menino sardento é o filho do Jesus.
Escalava os degraus de três em três, quase que caia mas não caia, sem ver onde pisava ou o que fazia e sem perder nenhuma cena com os olhos esbugalhados rasgava sem cerimônia o bico do filão e comia.

A princípio eu não via nada.
Oh gente mentirosa! Eu ia já dizendo, mas num disse.
Briga num sei não, mas tava subindo um poeirão danado bem ali no miolinho do largo.
Ah! eu nunca fui mulher de ver um negócio desse e não ir lá pra assuntá de perto, tá pra nascer uma de mim que vai ver o caldeirão ferver sem olhar.
Pra ter o que contar quando viesse visita em casa talvez ou pra escrever hoje pra você.
Deus me livre de me faltar a curiosidade.
A porta da cozinha de casa dava de frente pro largo e pro escadão.
O poeirão danava subir e era só juntando gente.
Dona Zefa com a lata de fumo já estava lá.
Dona Dulce também já tava lá.
As moças crentes que moravam do outro lado da rua estavam.
Os rapazes da rinha de briga de galo chegaram também.
Dona Lourdes, a moça que tinha geladeira, tava lá também.
Seu Dito do pescocinho tava encostando.
Quase não tinha vaga.
- Olha a briga pessoal!
O bocudo não parava de chamar.
E eu também não vou deixar você esperando por mais tempo.

Ah, eu já fui logo abrindo caminho, eu tinha direito, o furdunço era em frente de casa.
Tinha uma roda formada, já contava ali umas fileiras de pé e cabeça.
Tentei olhar por cima, não consegui, tentei olhar por baixo, nada.
A poeira comendo no centro e nada, o que estaria ali debaixo daquela nuvem fechada de pé e cabeça.

E ia chegando gente querendo furar fila e saber quem tava brigando.
- Não empurra não!
E nem é que a gente seja violento é que a gente precisa tá a par pra saber, pra assuntar, pra discorrer e pra apartar.
A gente esticava o pescoço mais que podia, apoiava no ombro do coleguinha pra alcançar o meio onde a confusão estava formada.
Mas quando tem briga, sempre tem xingamento e desapropriação de desrespeito, essas coisas ali não tinha nada.
Era uma contenda silenciosa calada.
Mas a zé povinhagem estava chegando em peso.
Seu Joãozinho, que nunca trabalhava disse:
- Ah, eu tinha arrumado um dia de sirviço pra hoje mas nem vô, num perdo pur nada.
Eu já ia do meio da roda pra dentro quando avistei muito braba a mãe de Alfredinho retada cuspindo marimbondo com a alpercata na mão gritando a todo vapor feito chaminé de maria fumaça:
- Alfredo cadê tu com o pão?
Alfredo já tava pra o centro da roda e não foi difícil abrir o caminho, o Janjão deixou ele passar, tanto ele quanto o menino de jesus :
- Hey, dá um teco deste pão aí que eu deixo você olhá.
Repare que quando a mãe botou o olho no filho e ia cantar nele a chinela a curiosidade deu cabo da vontade nela e feito um outro moleque tão curioso quanto disse:
- Chega pra lá também quero oiá.
- Depois a gente conversa, você beliscou o pão eu já lhe disse que não pode, o que é que tem ai?
- Num sei, mas toma um teco de pão e se acalma que é o último naco. Ah, Janjão, quer mais um pedaço?
Quando eu saí, saímos os cinco, eu e minha prole, eu não disse que não viessem, cavamos ali nosso espaço na roda.
- Volte em casa, apaga o fogo e desligue a tv que a gente vai demorá pra voltá. Alguém disse.
E dana a juntar gente.
A pessoa ia passando, via o movimento, esquecia o serviço, o compromisso e encostava como se tivesse acordado, tomado banho, se perfumado, colocado bolsa e sapato pra ir ali ver o poeirão subir.
Chegando mais pra dentro da roda, perto do fogo, como é de costume falar, dava pra perceber sem assuntá.
Aí é que deu pra perceber minha gente, cê num vai acreditar, mesmo assim vou te contar, era uma briga de passarinho.
Eu nunca tinha visto, e olha, que como eu disse, a gente ali já tinha visto de tudo.
A gente ouvia a briga deles no alto das árvores, a gente sabe que eles brigam também, mas lá no alto.
Ocorre que naquela manhã de sol, a quizila foi tão forte que desceram para o asfalto, pra acertarem as contas.
Lá no miolo, bem pertinho, tinha gato e cachorro com olho em cima do lance sem piscar.

Teve um momento quando a poeira baixou e a gente pôde ver melhor.
Era mesmo uma briga de dois minúsculos passarinhos bem nervosos, muito nervosos.
Imagine alguém brabo!
Era mais que isso que você imagina.
Ali no meio, no centro da roda, duas coisas minúsculas rodavam e faziam algo que a poeira não deixava entender, até chegar de pertinho que eram dois passarinhos.

Seria normal que qualquer um dos felinos ali fossem pra cima dos dois, e com as patas dessem fim aquela bagunça, mas acho que faltou coragem neles.
Nem eles foram, e nenhum de nós apartou ou tentou apartar aquilo, que estava ali naquela manhã de sol.
Já tinha quem reconhecia e apostava, burca, pipa, cerveja, cigarro.
Neste ou naquele.

Teve uma hora que eles pararam.
Dava pra ver seus peitinhos arfando de cansaço.
E várias de suas pluminhas no asfalto,
E eles sangravam.
Não sei nome de passarinho, pra mim era passarinho, dos que tinha muitos no céu da vila.
Lembrei! era pardal viu!
Pardal tinha aos montes.
Hoje tem pomba rola, pomba branca, pomba maloqueira, pomba.
Dizem que as pombas vieram de Portugal.

Segundo tempo.
Eles descansaram e se atracaram novamente.
E dana a poeira subir.
E dana o povo apostar.
Gato e cachorro assistindo sem sair do lugar.
Era realmente um caso inédito de violência doméstica, ou de rua.
Não era uma coisa que se via todo dia, mas ali os dois apanhavam e batiam.
Quando isso já ia grande, porque eram guerreiros, e um arregaçava o outro, e o outro arregaçava o um.
Eles pararam, e deram uma pausa, pareciam dizer:
- Olha o que você fez, tanto besta olhando nóiz.

Daí alçaram voo.
Credita?
Cê acha que a gente, um bando de gente séria com pelo na cara e noutras parte do corpo como diz mainha.
Cê acha que este povo parou pra ver uma briga de passarinho.
Meus minino num sei se vão se lembrar deste dia.
Quando voaram nós olhamos pra cima e os fios de energia estavam repletos de outros pássaros iguais aqueles ali.
Era disputa de muié, território, sei lá.
Mas a revoada foi bonita.
E nós fumo trata das nossas vidas que o sol já ia alto.
E até hoje eu penso quando lembro;
O que será que deu origem a contenda?
Mas ali, ainda e naquele dia.
Dei de cara com a mãe de Alfredinho sentada com ele na calçada, discutiam as partes da briga.
O que viu o que não viu, mastigava ainda ali o último naco de pão, no seco, sem nada, olhou a alpercata na outra mão, desconversou, botou chinela no chão, sorriu pra Janjão e não fez nada.
E bem naquele momento, lá em cima no escadão, a avó chamava seu neto:
- Jesuuuuuuuuuuuuuuus!
E eu lembro a confusão, mas não sei o nome do passarinho.
Lembrei agora, era pardal, acho que era pardal.

Parece mentira, né? Mas um bom tanto foi verdade, o resto é minha imaginação, sabe por quê?
O causo é que neste mês, ainda esta semana, é aniversário da minha filha Katia, que é muito inventiva.
Primeira flor que nasceu de mim, bem aí nesse larguinho, ela assistiu a briga.
Quem é geminiano sabe o saber que esta ventania guarda.
Também sabe, se não sabe saberá agora, que este texto também é um ritual de intimidade do filho mais velho ou da filha mais velha.
Que é quem responde pela casa nas ausências que sempre são muitas.
É quem primeiro conheceu os temperos e cuida dos menores.
Katia é a razão da grande mudança da minha vida que pôs fim à minha vontade de morrer.
Iniciamos a nova trajetória agora lutando pela vida.
Ela teve que lutar pra nascer, pra viver, nasceu depois de uma negligência médica quando eu estava tendo, uma eclâmpsia.
Uma eclâmpsia geralmente mata mãe e a criança.
Foi ali, que eu ainda em coma, ouvi da voz de dentro de mim que eu teria de voltar e viver, que ainda eu não morreria, e eu acordei do coma oito dias depois.
Ninguém esperava que eu sobrevivesse, só ela que já estava em casa e adotada pela minha irmã Geni.
Ela seria a irmã de Simone, que tinha acho que dois aninhos, foi Simone que chamou ela de Kaki, nome que a chamamos carinhosamente até hoje.
Por isso, já aí deduzi que nós temos muita importância na conta familiar e que quem muito recebe muito precisa dar.
Nascida com menos de dois quilos, era um sopro de gente, quando eu fui aprender como dar banho deixei cair uma gota de água no nariz dela e ela quase morreu afogada.
Era miudinha mas foi crescendo igual um pé de coentro, rapidinho engordou e cresceu.
No tempo que eu tive Kaki a médica ensinava a fazer sopa de nenê e dizia:
- Nunca compre sopa de pote, é melhor fazer, mas a sopa que ela ensinou já era igual aquela que a mãe fazia.
O quintal tinha quatro mulheres pra ajudar a cuidar dela.
Pra mim, difícil era dar a maçã raspadinha porque eu botava pra dentro e ela cuspia pra fora, eu achava que ela não queria, eu lá entendia nada de criança eu entendia de burca, pipa, de outras paradas.
Mas eu entendia de fazer roupinha de crochê pra minha bonequinha.
Mãe quase deu a pilora um dia que eu deixei a criança com ela pra jogar bola.
- Num pode, agora você é mãe, quisesse jogar bola não tivesse criança.
Mas ela era tão quietinha, dormia muito e vivia emprestando a chupeta pra o cachorro.
Aí ela cresceu, andou tão rápido, falou.
Uma vez, ali mesmo no larguinho, Kaki atendeu aquele povo testemunha de Jeová.
A moça gostava de falar com ela, achava ela muito inteligente, até convidava ela pra receber aula.
Mas teve um dia que a moça não voltou mais, depois de uma conversa.
- O reino de Jeová, Deus está aberto pra todas as pessoas, mas aquelas pessoas que vivem conforme a lei de jeová certo?
- O que você acha que devemos fazer pra ajudar os casais de homem que namora homem e mulher que namora mulher?
- Devemos deixar eles namorar, por que deve ser ruim namorar quem a gente não gosta, você não acha?
A moça enfiou a sentinela no saco e foi embora sem nem olhar pra trás, aliás, ela olhou sim muitos anos depois quando se tornou mãe solo e foi abandonada pelo pai da criança.
Enfim, Kaki tem o poder de premonição, ela é modernista.
Há anos atrás, inventou o ovo em pó e a gente riu dela, e muito, mas a gente se calou quando encontrou clara e gema de ovo em pó pra vender.
Tem um olhar pra decoração, pra acabar com intrigas ou começar uma.
Tem uma mão pra fazer bolo, muito embora agora que ela resolveu ser advogada, não temos tido a sorte de saborear o bolo, mas torcemos por ela, em breve teremos nossa juíza.
Como filha mais velha e sendo ela a segunda mãe dos irmãos dela, foi ela quem liderou também muitas artes.
Nossa cozinheira por muitos anos.
Quando eu fiquei internada por seis meses, os meninos furaram as orelhas deles com uma agulha e infeccionou, ela levou eles ao médico e o médico quis saber cadê a mãe.
- Doutor, esqueça a mãe e olhe a orelha do menino.
É desta criatura ímpar que eu estou falando e apresentando hoje pra vocês, e apesar deste texto só ir a termo no dia trinta, eu aqui dou a minha primogênita os parabéns por ter mudado a minha vida.
Lembrando lá no início uma de nossas aventuras vividas ali no larguinho do Ataliba.
Hoje não é dia de lembrar coisas tristes, este texto não tem a pretensão de entristecer, e que pena que a vida quis assim, você viver feliz longe de mim, mas eu fico feliz em ver que você está se encontrando, eu sinto muita saudade de você e feliz por suas escolhas, acho que eu não deixava você crescer.
Agora, aí na sua liberdade, está cada vez mais bonita, amando muito mais você e me deixando tão tranquila.
A gente precisou se afastar, tomar distância, pra perceber o quanto nos amamos.
Feliz ciclo novo minha filha.
Nosso pardalzinho brigante.
Ah! encontrei com Jesus ali no larguinho da nossa rua e ele perguntou por você.