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Anielle Franco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Um chamado por justiça para as mais de 500 mil vidas perdidas no Brasil

30.jun.2021 - Superpedido de impeachment contra Bolsonaro foi protocolado na Câmara dos Deputados - Reprodução / Twitter
30.jun.2021 - Superpedido de impeachment contra Bolsonaro foi protocolado na Câmara dos Deputados Imagem: Reprodução / Twitter

02/07/2021 09h48

Na tarde de quarta (30), um superpedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro foi protocolado na Câmara dos Deputados em Brasília. O pedido reuniu crimes contidos em pedidos anteriores que, até o momento, não foram aceitos pelo presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP - AL).

Razões são o que não faltam para que o processo de impeachment se instaure, ainda assim parece que somente após o escândalo envolvendo o superfaturamento do contrato de vacinas da Covaxin, revelado durante a CPI da Covid no Senado é que o governo Bolsonaro passou a temer a possibilidade de cair. Prova disso é que na última terça-feira, o Ministério da Saúde decidiu suspender o contrato com a Precisa Medicamentos para obter 20 milhões de doses da Covaxin. Segundo o próprio Ministério, a decisão da suspensão é para aguardar que haja um parecer sobre o caso.

No mesmo dia, à noite, às vésperas da oficialização do pedido, um novo escândalo tomou conta dos jornais. Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, disse que o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina no dia 25 de fevereiro — o valor seria cerca de 1 dólar por dose aplicada. Vale lembrar que Roberto Dias foi indicado ao cargo pelo líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara e ex-ministro da saúde, Ricardo Barros (PP-PR). Roberto Dias foi nomeado em janeiro de 2019 na gestão do Ministério da Saúde de Mandetta (DEM).

Alinhado a esses recentes escândalos, podemos destacar inúmeras razões já discutidas anteriormente em minha coluna na UOL, pelas quais acredito que a gestão de Bolsonaro não apenas foi negligente na condução desta crise sanitária, como atuou e vem atuando de maneira ativa pela disseminação do vírus pelo país, resultando em milhares de mortes ao longo deste mais de 1 ano de pandemia. Importante destacar que, em agosto de 2020, integrantes da Coalizão Negra por Direitos, da qual o Instituto Marielle Franco faz parte, apresentaram ao Presidente da Câmara dos Deputados um pedido de impeachment contra Jair Bolsonaro pelos crimes de responsabilidade por ele cometidos durante o exercício do seu mandato. Sobretudo os crimes de responsabilidade que colocaram em risco a vida de milhares de brasileiros, especialmente, pessoas negras e em situação de vulnerabilidade. O pedido de impeachment teve assinatura das 200 organizações que compõem a Coalizão e o apoio de mais de 600 entidades de todo o país. Na época, o pedido foi protocolado quando o Brasil atingiu 100 mil vidas perdidas em decorrência da negligência criminosa presidencial no combate à pandemia no Brasil.

As pandemias de fome, violência, desemprego e claro, covid-19 vêm tirado muito de nós, além de milhares de mortes acarretadas pelo vírus, nos últimos meses vimos os governos federal e governos estaduais alinhados com este governo, atuando de maneira negligente, permitindo operações policiais, não garantindo acesso à saúde e agravando a fome por meio de desfinanciamento de políticas e programas. É hora de dizer chega. Não aguentamos mais morrer.

Vamos juntas e juntos apoiar o #SuperImpeachment e amanhã, dia 3 de julho, estar nas ruas mais uma vez para pedir junto à Coalizão Negra por Direitos a investigação imediata dos crimes cometidos por Bolsonaro. Por justiça para os mais de 510 mil brasileiros e brasileiras que perderam a vida enquanto o presidente operava esquemas de corrupção. Não morreremos mais nem por tiro, nem por fome, nem por Covid e muito menos por um presidente genocida.