Fizeram História

Maria Firmina dos Reis publicou primeiro romance abolicionista brasileiro

Por Juliana Domingos de Lima

Escritora, professora e intelectual maranhense, Maria Firmina dos Reis é autora de "Úrsula", primeiro romance publicado por uma mulher e por uma mulher negra no Brasil. Trata-se ainda do primeiro romance abolicionista escrito em língua portuguesa.
Wikimedia Commons
Ao que se sabe, ela nasceu em 11 de março de 1822 em São Luís do Maranhão. Era filha de uma liberta com um comerciante. Na infância, mudou-se para Guimarães, no norte do estado, onde foi educada pela mãe e pela tia. Lá, passou a atuar como professora primária.
Domínio público
Foi em 1859, aos 37 anos, que Firmina publicou "Úrsula", sua obra mais conhecida hoje, narrada do ponto de vista de escravizados. Apesar da importância do romance e de sua autora, ambos passaram por um processo de apagamento histórico desde o século 19 e só recentemente vêm sendo resgatados.
Domínio público

É uma intelectual que deveria estar presente desde sempre no rol de intérpretes e pensadores do Brasil e, no entanto, é ainda pouco conhecida. Isto não é pontual nem específico de Firmina. Na realidade, o silenciamento da autoria negra é sistêmico e organiza nosso sistema literário, ainda profundamente sustentado por matrizes eurocêntricas e brancocêntricas.

Fernanda Miranda,
pesquisadora e autora de "Silêncios Escritos: Estudos de romances de autoras negras brasileiras (1859-2006)"
Depois de "Úrsula", a escritora lançou em 1861 "Gupeva", novela de temática indianista. Nos anos seguintes, publicou poemas, contos e outros textos em vários jornais maranhenses. Sua poesia foi compilada em "Cantos à beira-mar", de 1871.
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O pioneirismo de Firmina não ficou só na literatura. Ela foi a primeira mulher aprovada em um concurso público no Maranhão: passou em primeiro lugar e recebeu o título de mestra régia. Em 1880, criou em Guimarães uma escola mista (para meninas e meninos) e gratuita. Na época, poucas mulheres tinham acesso à educação formal.
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Maria Firmina morreu em 1917, aos 95 anos, sem o reconhecimento devido. Nos últimos anos, sua trajetória e obra ganharam maior repercussão a partir do trabalho de pesquisadores e de novas edições de suas obras.
Antofágica/Divulgação
Publicado em 12 de março de 2022.
Reportagem: Juliana Domingos de Lima

Edição: Fernanda Schimidt