Tereza de Benguela

Qual é a importância do 25 de julho para as mulheres negras?

Por Paula Rodrigues

Em 2014, o 25 de julho entrou para a história do Brasil oficialmente. Reconheceu-se a data representativa da luta travada diariamente por mulheres negras -- e do legado de uma delas em específico. A então presidenta Dilma Rousseff (PT) sancionou a lei n° 12.987, criando o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Cris Faga/Fox Press Photo/Estadão Conteúdo
A data teve inspiração em uma experiência anterior, internacional. Em 1992, grupos feministas negros de 32 países se reuniram na República Dominicana para o 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe. Entre 19 e 25 de julho daquele ano, o evento debateu o impacto do machismo e do racismo na vida das mulheres negras em solo latino-americano.
Tânia Rêgo/Agência Brasil
Vicenta Camusso, coordenadora da Região Cone Sul da Rede Mulheres Afro-Latino americanas, Afro-caribenha e da Diáspora, relembra o momento: "[O encontro] foi quando sentamos e nos reconhecemos, pela primeira vez, quando vimos as nossas diferenças, mas também as coisas em comum."
Divulgação
A partir daquele momento, ficou estabelecido o 25 de julho como Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e da Diáspora, reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas). Anos depois, em 2009, a ex-senadora do Mato Grosso Serys Slhessarenko (PT) apresentou projeto de lei a fim de criar um dia nacional para homenagear essa luta no Brasil -- ideia que já havia sido levantada por ativistas negras.

A situação da mulher negra no Brasil de hoje manifesta um prolongamento da realidade vivida na escravidão com poucas mudanças, pois ela continua em último lugar na escala social. Inúmeras pesquisas realizadas nos últimos anos mostram que a mulher negra apresenta menor nível de escolaridade, tem jornadas de trabalho mais longas e menores rendimentos

Serys Slhessarenko,
ex-senadora (PT) do MT, em texto do projeto de lei
Aprovado em 2014, o projeto homenageia Tereza de Benguela. A ideia era ter um símbolo que representasse as batalhas do dia a dia de mulheres negras, assim como cultivamos a imagem de Zumbi dos Palmares.
Lúcio Távora/Agência A Tarde/Estadão Conteúdo
Não se sabe ao certo onde nasceu Tereza de Benguela, mas é sabido que ela viveu no século 18 na região do Vale do Guaporé (MT). E que, por vezes, é referenciada como "Rainha Tereza" -- isso porque, após o assassinato de seu marido, José Piolho, ela liderou o Quilombo de Quariterê (na foto, homenagem à ela feita pela escola de samba Barroca Zona Sul em 2020).
Ricardo Matsukawa/UOL
Foi ela quem desenvolveu uma defesa e estrutura parlamentar no quilombo, prevendo que as decisões tomadas ali devessem ocorrer em grupo, comunidade.
Reprodução/Facebook/Marcha das Mulheres Negras de São Paulo
O reinado de Tereza durou até 1770, quando foi 'capturada' por bandeirantes. Não se sabe até hoje, porém, a causa da morte. Alguns dizem ter sido suicídio, pois ela jamais aguentaria viver como escravizada; outros, adoecimento.
O fato é que a força para lutar, o poder de construção e organização de Tereza de Benguela servem como um espelho para a vida de tantas mulheres negras no Brasil até hoje.
Cris Faga/Fox Press Photo/Estadão Conteúdo
Para Jaqueline Fernandes, idealizadora do maior festival de mulheres negras da América Latina, o Latinidades, que ocorre entre os dias 22 e 27 de julho em 2020, apesar de o conhecimento produzido por mulheres negras ainda ser pouco divulgado, elas possuem um legado importante para a humanidade.
Divulgação

Somos sujeitos históricos com produção de memória e patrimônio científico, artístico, material e imaterial incomparáveis e, como mulheres negras em diáspora, temos nos organizado para disputar epistemologias que nos representem e chegamos até aqui porque as que vieram antes não abriram mão daquilo que parecia inalcançável: construir e ocupar outros lugares

Jaqueline Fernandes,
idealizadora do Festival Latinidades
Cris Faga/Fox Press Photo/Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de julho de 2020.
Reportagem: Paula Rodrigues | Edição: Adriana Terra