Retrospectiva

Os bichos que marcaram 2020

Por Marcos Candido

Uma série tomou conta das redes sociais nos primeiros meses do ano, cheia de intrigas, bichos e uma boa dose de maluquice: "Tiger King". As histórias sobre pessoas que mantém animais selvagens em casa levantou a importância de se falar sobre o tráfico de animais silvestres.
Divulgação/IMDb
Só no Brasil, o tráfico tira por ano 38 milhões de animais da floresta e gira R$ 3 bilhões. Uma reportagem de Ecoa reuniu dados inéditos e histórias de animais que conseguiram escapar da rede e lutavam para serem reintegrados à natureza
Danilo Verpa/Folhapress
Em maio, a elefanta Mara viajou de Buenos Aires até a Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso. Parte das fronteiras que estava fechada pela pandemia foi aberta só para a passagem do caminhão que a transportou. Na Argentina, Mara vivia em um zoológico condenado por deixar animais morrerem de fome.
Sofía López Mañán/Divulgação
A elefanta agora vive em paz com outros elefantes após 50 anos de vida em circos e zoológicos.
Divulgação
O mico-leão-dourado se transformou em uma caso de sucesso na preservação de espécies em extinção após décadas de trabalho intenso. Na década de 60, eram apenas 200 a 400 espécimes no país. Hoje, são 2.500. Porém seu futuro está novamente em risco.
Wikimedia
As áreas de conservação estão em risco de desmonte após mudanças estruturais no ICMBio, responsável por sua administração. Todos os chefes das áreas dedicadas ao mico-leão-dourado no RJ foram exonerados.
Andreia F. Martins/Associação Mico-Leão-Dourado/Reprodução
A polícia resgatou dezenas de cobras após um suspeito de tráfico de animais ser hospitalizado em estado grave devido à picada de uma naja. O caso aconteceu no Distrito Federal e transformou a naja em uma celebridade na internet. Graças a ela, um esquema de tráfico de animais foi desmontado pela polícia.
Instituto Butantan
Em agosto, a naja foi transferida para o Instituto Butantan, em São Paulo, onde será exibida para o público após a pandemia.
Ivan Mattos/Zoológico de Brasília
Jacarés, cobras, onças, tamanduás, tartarugas, antas, tatus e peixes foram algumas das vítimas de uma das maiores queimadas da história do Pantanal. Voluntários se organizaram para salvar as espécies. Especialistas estimam que as chamas queimaram 22% do bioma. O incêndio tem origem criminosa, de acordo com a Polícia Federal.
Reprodução MOV
Os animais ainda sentirão nos próximos meses os efeitos do fogo que destruiu parte da diversidade do ecossistema pantaneiro.
Liel Garcia/ UOL
Em julho, a imagem de um lobo-guará foi escolhida para a nota de R$ 200, lançada pelo Banco Central no segundo semestre. A espécie é ameaçada de extinção e é o maior canídeo da América do Sul. O lobo vive no Cerrado, porém o agronegócio o empurra para a Amazônia. O deslocamento forçado virou uma batalha para quem luta pela preservação do bicho.
Divulgação/Banco Central
A cédula mais alta do Real chama atenção para a preservação do ameaçado lobo-guará.
Getty Images
Entre junho e julho, uma onda de gafanhotos assustou moradores do campo que vivem entre o Brasil, Argentina e Uruguai. O inseto não transmite doenças, mas destrói plantações e pode comer o equivalente a 70% do próprio peso. Nuvens e "árvores de gafanhotos" foram registrados em vídeo por agricultores. A causa é o uso de agrotóxicos que matam predadores naturais do inseto.
Reprodução
As mudanças climáticas também aumentam as populações de forma exagerada dos gafanhotos
Reprodução
A bicada de uma ema no presidente Jair Bolsonaro (sem partido) virou meme nas redes sociais em julho. Cerca de duas semanas depois, o presidente, então infectado pelo novo coronavírus, ofereceu uma caixa de cloroquina para as aves que são mantidas no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente brasileiro.
iStock
A ema é a maior ave brasileira, com até 1,50m de altura. Ela não voa, mas é uma ótima corredora. Atualmente, não consta na lista de animais ameaçados de extinção do ICMbio.
REUTERS/Adriano Machado
Uma onça-parda "passeou" pelo município de Cerqueira César, interior de São Paulo. Um vídeo registrou a fuga do felino na cidade com pouco mais de 20 mil habitantes em setembro. Veterinários puderam capturá-la em segurança. Em novembro, outra onça-parda foi filmada enquanto descansava sobre o telhado de uma casa em Jales, também no interior paulista.
Reprodução
A presença das onças em locais urbanos é atribuída à expansão das cidades sobre o território natural desses grandes mamíferos.
Corredor das Onças/Divulgação
O caso de Mara, no 1º semestre, jogou luz às condições de vida de elefantes em santuários na Argentina. Em setembro, uma reportagem de Ecoa contou que outros seis animais estavam na fila para vir para o santuário no Mato Grosso
Divulgação
Especialistas contam ainda com a possibilidade de que Pocha, uma das que aguarda a liberação para a viagem, tenha algum vínculo familiar com Mara. A possibilidade é remota, mas eles torcem pelo final com cara de filme.
Reprodução
Um retrato inédito de um filhote do "tatu gigante" foi feito por biólogos em 2020. O tatu-canastra habita o Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia, mas apesar do tamanho é raramente visto. Os túneis do tatu-canastra podem chegar a 5 metros de comprimento, 2 de profundidade e 35 centímetros de largura e são feitos em apenas cerca de 20 minutos. O mamífero pode pesar até 50 kg e medir 1,5 metro do focinho até a cauda.
Projeto Tatu-Canastra/divulgação
Os autores do registro já receberam um ?Oscar? da preservação pelo trabalho feito há dez anos com o tatu-canastra.
Reprodução
O boto-cinza está perdendo a capacidade de se comunicar, de acordo com pesquisadores que acompanham a espécie na Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro. O golfinho é comum na região fluminense onde embarcações fazem barulho e dificultam a comunicação entre os botos embaixo. O nível da "conversa" diminuiu cerca de 90% nas últimas duas décadas.
Rodrigo Tardin
A boa notícia é que grupos se uniram para criar uma área de proteção ao mamífero que está na bandeira da cidade do Rio de Janeiro.
Rodrigo Tardin
Publicado em 31 de dezembro de 2020.
Reportagem: Marcos Candido
Edição: Fernanda Schimidt