Fizeram História

Quem foi Betinho, criador de uma das maiores ONGs de combate à fome no Brasil

Por Marcos Candido

Herbert de Souza, o Betinho, é fundador de uma das maiores entidades de solidariedade do país. A Ação da Cidadania foi fundada em 1993 para alimentar e dar auxílio a milhares de brasileiros empobrecidos. Mais de 25 anos depois, as ideias do fundador são cada vez mais necessárias.
Ação da Cidadania/Divulgação
Tudo começou quando Betinho fez uma campanha na TV e nos jornais contra a fome. O Brasil vivia uma recente estabilidade política e havia um novo horizonte. Apesar disso, Betinho alertou sobre aqueles sem ter o que comer no país. Os dados da época indicavam 32 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza. Segundo a ONG, mais de 30 milhões de doações foram recebidas nos primeiros anos.
Ação da Cidadania/Divulgação
Betinho já era um sociólogo respeitado, ex-exilado político e fundador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, uma das primeiras ONGs a estudar a sociedade civil brasileira. Irmão do cartunista Henfil, ele convocou artistas e personalidades para combater a fome em território nacional por meio de doações. O resultado foi a Carta de Ação da Cidadania, que fundou a ONG, e o início de ações como o tradicional "Natal sem Fome".
Divulgação/Ação da Cidadania
Em 2003, a Ação da Cidadania bateu o recorde de alimentos arrecadados em menor tempo na campanha Natal Sem Fome. Dez anos após a criação, o instituto já mantinha projetos nas áreas da educação, cultura, promoção de direitos, saúde, elaboração de estudos sociais e na promoção da democratização da terra em todo o país.
Divulgação/Ação da Cidadania
Betinho nasceu em 1935 em Bocaiúva, Minas Gerais. Aos 18, atuava em grupos políticos católicos e em 1962 fundou o grupo socialista humanista Ação Popular. No governo de João Goulart, trabalhou no Ministério da Educação no PNA, maior programa de alfabetização do país até então.
Ação da Cidadania/Reprodução
Com o golpe de 1964, Betinho foi perseguido e partiu para o exílio no México e Canadá a partir de 1971. Em 1979, voltou para o Brasil e foi homenageado por João Bosco e Aldir Blanc na música "O bêbado e o equilibrista", em que é citado como o "irmão do Henfil". A música se tornou um hino da campanha pela anistia política na voz de Elis Regina.
Divulgação/Ação da Cidadania

Meu Brasil / que sonha com a volta do irmão do Henfil / de tanta gente que partiu

Trecho da canção "O bêbado e o equilibrista"
Betinho era hemofílico, condição que causa dificuldade para coagulação do sangue e que fazia com que necessitasse de transfusões frequentes de sangue. "Eu não era para estar vivo quando nasci. Hemofílico não sobrevivia", dizia.
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Em uma dessas transfusões, contraiu o vírus HIV. Além do combate à fome e da promoção da cidadania no país, ele também se dedicou à conscientização sobre o vírus e Aids, que matava milhares de pessoas. Em 1986, Betinho inaugurou um dos primeiros centros de estudo da doença no Brasil, a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids.
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Betinho, fundador do Ação da Cidadania, morreu de hepatite C em decorrência da Aids em 1997. Mas a luta contra a fome está longe de acabar.
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Segundo Daniel Souza, filho de Betinho, a ONG retomou em 2021 uma campanha nacional de combate à fome para durar o ano todo. Há dez anos a instituição não promovia uma campanha anual e reforçava a doação de comida apenas no Natal. "Nós achávamos que era um problema do passado", diz o filho.
Reprodução

"Quem tem fome, tem pressa"

Hebert de Souza, o Betinho

Saiba como ajudar

Para doar para a instituição de Betinho, basta acessar o site oficial da Ação da Cidadania
Arte/UOL
Publicado em 01 de Maio de 2021.
Reportagem: Marcos Candido
Edição: Fernanda Schimidt