Fizeram História

Joan Root enfrentou corruptos e pescadores ilegais para salvar lago no Quênia

A queniana Joan Root (1936-2006) foi uma importante conservacionista, ativista ecológica e cineasta de documentários sobre vida selvagem. Ela ficou conhecida na década de 1960 ao apresentar belas paisagens da África a milhões de pessoas nos filmes premiados que rodou ao lado do marido, Alan Root.
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As aventuras do casal, pioneiros na filmagem da vida selvagem sem a interferência humana, levou a dupla aos quatro cantos do continente africano, seja por terra, céu (balão e avião) e água na busca pelas mais incríveis imagens.
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Joan foi deixada pelo marido em 1981 e se isolou em uma propriedade de 88 acres às margens do maior lago do Quênia - o Naivasha, conhecido pela biodiversidade. Cerca de 1.200 hipopótamos nadam ali e 350 espécies de pássaros vivem na região, além de muitos outros animais.
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Apesar da vida solitária, sua casa nunca esteve vazia. Era comum a presença de animais selvagens circulando livremente pela área. Joan passou, então, a se dedicar a projetos de conservação do lago, apoiando cientistas e voluntários no monitoramento das condições ambientais do local.
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Na primeira metade dos anos oitenta, a natureza da região (principalmente do lago), passou a ser ameaçada com a chegada de várias floriculturas que se instalaram a beira do Naivasha. Além de produtos químicos despejados na água, as estufas inibiram a migração dos animais, causando um desequilíbrio ambiental.
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A região do Naivasha foi impactada pelos altos índices de desemprego e pela chegada de pessoas de todo o país. Com isso, viream também novos problemas sociais, como o aumento da criminalidade. A poluição cresceu, assim como a caça e a pesca ilegal.
Preocupada com o lago, um berço de vida selvagem, Joan criou uma força tarefa anticaça com seus próprios recursos e também denunciou o despejo de pesticidas no lago. Sua atitude causou a ira de donos de floriculturas e imigrantes.
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Joan também cuidava de animais selvagens que surgiam feridos ou abandonados em sua propriedade. Tentava apoio convocando reuniões com fazendeiros ou fazendo denúncias às autoridades. Mas nada acontecia, já que o governo estava mergulhado em casos de corrupção.
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Ela feriu interesses dos mais diversos lados, desde empresários à população empobrecida que queria explorar o lago. Mesmo com ameaças por telefone e objetos de ?bruxaria? deixados em seu portão, não se intimidou.
Durante um tempo, a força-tarefa conseguiu coibir a caça e a pesca predatória. Mas nem o grupo organizado por ela estava livre de tentativas de suborno ou chantagem. Preocupados com sua segurança, amigos de Joan aconselharam que ela deixasse a região por um tempo. Ela se recusou.
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As ameaças de morte foram concretizadas na noite de 13 de janeiro de 2006, quando quatro homens invadiram sua casa munidos de AK-47. A ativista tinha quase 70 anos.
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A morte da ativista levantou discussões sobre a ética nos negócios quando o progresso afeta o meio ambiente, a corrupção no Quênia, a superpopulação e pauperização numa região de poucos recursos.
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Até hoje não se sabe quem foram os mandantes do crime. A polícia alegou se tratar de um assalto comum. Quatro suspeitos foram presos, e soltos por falta de provas. O assassinato de Joan Root foi noticiado em várias mídias internacionais, e atraiu a atenção para a conservação Naivasha.
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A história de Joan virou documentário e livro. A pedido da própria ativista, sua casa é hoje um recanto selvagem, cuja venda está proibida.
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Publicado em 23 de janeiro de 2021.
Reportagem: André Aram
Edição: Fernanda Schimidt