Dicas indígenas para cultivo de plantas e contato com natureza

O povo indígena jamamadi vive no sul do Amazonas e tem muito a ensinar para os moradores da cidade sobre contato com a natureza.

Caminhar por áreas verdes é um hábito de muitos povos, inclusive dos brancos. Mas os jamamadi não fazem uma simples caminhada. Eles andam por distâncias curtas para fazer o kakatoma, uma observação sobre como anda a vida de cada planta. Não é um olhar restrito ao estudo ou à produção, como um biólogo ou um agricultor, e nem é contemplativa.

Para os jamamadi, cada planta precisa de respeito e compreensão. Elas não são "inimigas", mas nem todas precisam ser amigáveis. É preciso saber quais delas "compartilham" madeira e frutas, e quais preferem ficar na delas.

Algumas são como parentes e ajudam a contar a história de antepassados humanos, ou inamadi. Já pensou em quanta história pode estar por atrás da vida de uma árvore?

A pós-doutorando em antropologia Karen Shiratori afirma que a caminhada dos jamamadi não busca apenas apenas recursos, mas é como uma visita à casa de outra família, a dos "amigos vegetais".

A pesquisadora explica que os jamamadi não são "hipongas", e também não cantam para "animar" as plantas. A ideia aqui é vê-las como ocupantes do mesmo espaço que os humanos.

"É uma maneira de não diferenciar totalmente o que é humano do que é vegetal, e observar o restante da natureza com menos arrogância", diz a pesquisadora.

O povo jamamadi é formado por cerca de 987 indígenas. As informações sobre o povo jamamadi fazem parte do livro "Vozes Vegetais" (editora Ubu).

Para Karen, é preciso ter contato com áreas verdes, mas não só. É preciso entender que a vida de plantas na Amazônia interfere na de todos e um vaso em casa pode não ser o suficiente.