Greenwashing

Como saber se estamos sendo enganados por produtos "ecológicos"?

Por Julia Guglielmetti

O greenwashing, ou maquiagem verde, é a manipulação de informações por uma empresa para passar ao público uma imagem ecologicamente responsável

Clauber Leite,
Coordenador do programa de Energia e Sustentabilidade do Idec
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Entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019, pesquisadores do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) foram a campo para analisar produtos das prateleiras de cinco dos maiores varejistas de supermercados de São Paulo (SP) e do Rio de Janeiro (RJ).

Foram avaliados 509 produtos de limpeza, higiene, cosméticos e utilidades domésticas.

Cada produto que possuía alguma alegação socioambiental foi avaliado individualmente para verificar se era greenwashing ou não.
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Os resultados mostraram que 48% desses produtos praticavam greenwashing

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Diante de dados tão alarmantes, como podemos acabar com isso?

A resposta não é tão simples.
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Para acabar com o greenwashing, é preciso uma convergência de consumidores, governo e empresas. Não podemos deixar a responsabilidade unicamente para as pessoas. Todo mundo teria que ser hiperespecialista no assunto, o que não é viável

Fernanda Canna,
consultora com foco em sustentabilidade e beleza
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Mas você também pode agir

Arraste para o lado e veja dicas de como identificar e ajudar a acabar com o greenwashing
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Observe os detalhes da comunicação

Fernanda Canna explica que a comunicação da marca pode dar muitas pistas: estão só falando de meio ambiente? Estão só falando de plástico? Estão só falando de veganismo? Se não englobar outras pautas, não tem como ser 100% sustentável.

"Não confie em afirmações ambientais vagas", complementa Clauber, do Idec.
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Analise o contexto da empresa

Clauber indica pesquisar sobre a política socioambiental da empresa e se a mesma realiza ações voltadas à sustentabilidade de seus produtos.

Para Fernanda, ter apenas uma linha de produtos certificados não basta para a empresa ser considerada ética: "uma corporação que faz lobby para acabar com algumas diretivas importantes do Guia Alimentar Brasileiro e lança produtos para crianças com certificação orgânica está realmente preocupada com a saúde e com o meio ambiente?"
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Diferencie selos figurativos

"É preciso prestar atenção se os selos são apenas instrumentos de design ou se realmente são de certificações. Nem todo desenho de coelhinho na embalagem significa que é realmente certificado como 'sem crueldade', por exemplo", explica a consultora.
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Conheça as certificações

Os selos de certificação ajudam o consumidor, mas é importante lembrar que não comprovam que a empresa é totalmente ética.

Geralmente, os selos tratam de apenas uma categoria, se é orgânico, se é vegano, se a mão de obra é justa etc. Um selo orgânico não atesta que a marca não explora negativamente sua mão de obra.

"Sem contar que, devido à questão financeira, nem todos os pequenos empreendedores conseguem ter esse selo, mesmo que eles estejam dentro dos critérios", diz Fernanda.
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Acompanhe organizações confiáveis

Cerque-se de bom conteúdo e busque informações confiáveis. Fernanda indica que as pessoas interessadas no assunto acompanhem o Idec e a Fashion Revolution, por exemplo.
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Compre e dialogue com o pequeno

"Nem todo pequeno produtor vai ser sustentável. A pessoa pode comprar uma barra de chocolate de uma grande corporação, derreter e vender em outro formato, por exemplo. Isso muda muito pouco a cadeia e a distribuição de renda", explica Fernanda.

Porém, quando você compra de empresas menores, o diálogo costuma ser mais aberto e honesto. Assim, é possível fazer sugestões e acompanhar os esforços do empreendedor em melhorar.
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Solicite provas concretas

"Caso a empresa promova uma autodeclaração ambiental, entre em contato com o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) e solicite provas concretas de tais afirmações", sugere Clauber.
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Cobre mudanças

É preciso cobrar mudanças e transparência das marcas. É possível, inclusive, denunciar empresas que praticam greenwashing no Procon, no Conar e no Consumidor.gov.
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Empresas devem colaborar

"É muito importante que as empresas tenham uma comunicação honesta. Explicar o que já conseguiram atingir e o que ainda precisam melhorar em relação à sustentabilidade", explica a consultora.
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Regulamentação

"É preciso aprimorar a regulamentação federal sobre rotulagem ambiental, como ainda é complexa e dispersa, deve ser reconstruída de maneira mais detalhada, de modo a suprir todas as falhas. Também é necessário aprimorar a ABNT ISO 14021, como incluir menção a temas relacionados a testes e ingredientes animais. Isso tudo é importante para assegurar que as empresas utilizem os instrumentos normativos como incentivo para a mudança de suas práticas", finaliza Clauber.
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Publicado em 23 de julho de 2021.
Reportagem: Julia Guglielmetti
Edição: Fernanda Schimidt
Fontes: Clauber Leite, coordenador do programa de Energia e Sustentabilidade do Idec; Fernanda Canna, consultora com foco em sustentabilidade e beleza