Tema difícil

Aprenda como falar sobre luto com as crianças

A morte chega sem aviso na vida dos pequenos, seja na forma da partida de um bichinho de estimação, seja de um familiar próximo.

E quando o luto é coletivo, como no caso da pandemia de covid-19, o assunto se torna ainda mais presente. Mas como falar da morte com crianças?
Respondendo suas perguntas com sinceridade.

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O que houve com ele?

"Virou uma estrelinha", "foi para o céu", "está dormindo". Não tenha medo de usar a palavra morte para explicar que alguém morreu. Quando não contamos para a criança a respeito da doença ou morte de alguém próximo, estamos tentando protegê-la. Mas isso faz com que ela se sinta confusa. Ser direto e honesto é a melhor saída.
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Há uma quebra de confiança, e ela tem de lidar sozinha com sua dor

Luciana Mazorra,
Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, cofundadora do Quatro Estações Instituto de Psicologia, especializado no atendimento a pessoas enlutadas
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Por que ele morreu?

As crianças menores podem ter "pensamentos mágicos" de que a morte foi culpa dela. Por isso é importante explicar a causa daquela morte, que pode ser um acidente, uma doença, uma violência. Não é algo que veio "do nada". Se quem morreu já vinha doente, vá preparando a criança para o que pode acontecer.
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Ele não vai voltar?

Nos games, as vidas acabam e se regeneram num piscar de olhos. Por isso, é importante explicar claramente que a morte é irreversível, mas lembre que a pessoa permanece na nossa memória.
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Quando a criança pergunta onde está a pessoa, podemos dizer que ela foi pra onde vão as pessoas que morrem, mas que não sabemos onde é e que não podemos ir lá

Maria Julia Kovács,
professora sênior do Instituto de Psicologia e membro fundadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte, ambos das USP
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Eu também vou morrer?

É importante explicar que todo mundo que está vivo um dia vai morrer. Mas não agora: pra isso é preciso estar doente, ser bem velhinho ou sofrer algum tipo de acidente.
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É uma sensação angustiante, um 'turning point' na vida da pessoa descobrir a própria mortalidade. Mas é parte do amadurecimento

Maria Helena Pereira Franco,
professora titular da PUC-SP e diretora científica da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP)
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Posso ir ao enterro?

Incluir a criança nos rituais de despedida é importante na compreensão que ela terá da morte. Como integrante da família, ela deve participar do velório e enterro, seja presencial, seja online, como vem acontecendo com a covid-19.
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Incentive rituais, como plantar uma árvore, fazer um desenho, fazer uma oração, tudo para lembrar a pessoa. A ideia não é esquecer, é ter na memória

Maria Julia Kovács,
professora sênior do Instituto de Psicologia e membro fundadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte, ambos das USP
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E sobre a covid?

A orientação é a mesma: franqueza. Confirme que muitas pessoas estão morrendo e que é uma doença muito grave, mas que você está cuidando dela e se cuidando usando máscara, evitando aglomerações e lavando as mãos.
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Se ela falar que tem medo, temos que dizer que também não gostaríamos que estivesse acontecendo, mas que sua família está se cuidando para continuar com saúde, que é a garantia que você pode dar

Maria Julia Kovács,
professora sênior do Instituto de Psicologia e membro fundadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte, ambos das USP
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Sinais que podem indicar necessidade de ajuda:

1. Indiferença
2. A criança tenta ocupar o lugar do pai/mãe ou irmão que morreu
3. Sentimentos de culpa e raiva intensos
4. Pais sobrecarregados pelo próprio luto e pouco disponíveis
5. Pensamentos e comportamentos suicidas
6. Parar de brincar
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Para não esquecer:

1.Conte o que aconteceu e abra espaço para a criança fazer perguntas
2.Deixe que ela participe do luto familiar
3.Mantenha quem morreu em suas lembranças
4.Dê espaço para a criança expressar sentimentos
Fonte: Luciana Mazorra, doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, cofundadora do Quatro Estações Instituto de Psicologia, especializado no atendimento a pessoas enlutadas.
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Publicado em 26 de Maio de 2021.
Reportagem: Clarissa Barreto
Edição de imagens: Camilla Freitas
Edição de texto: Fernanda Schimidt e Fred Di Giacomo