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Sabia que um vinho pode custar milhares de reais? Tem motivos para isso

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Imagem: Getty Images

Anna Fagundes

Do UOL, em São Paulo

06/04/2017 04h00

Quando vinhos são caros, eles podem ser realmente caros. Em leilões internacionais ou sites de vendas especializados, alguns rótulos especiais podem sair por milhares de reais.

No “Guinness dos Recordes”, o vinho mais caro do mundo já vendido em um leilão saiu pelo equivalente a R$ 741 mil (câmbio de 4/4/17) – um Chatêau Cheval-Blanc de 1947, considerado por muitos especialistas como o vinho Bordeaux perfeito.

Mesmo quem não participa de eventos para colecionadores pode encontrar preços salgados nas etiquetas de vinhos: é o caso, por exemplo, do vinho francês Romanée-Conti – o rótulo da região de Borgonha é considerado um dos mais caro do mundo. Uma garrafa da safra de 1960, no mercado britânico, foi cotada em 4.959 libras – o equivalente a surpreendentes R$ 19.226 – à venda para qualquer mortal com a quantia disponível no bolso.

Afinal, por que alguns vinhos são mais caros do que outros? A resposta está em uma combinação de oferta e demanda, impostos, grifes e um pouco de publicidade aplicada. Veja quando isso acontece. 

Vinho Romanée-Conti - Divulgação - Divulgação
Safras de vinhos como o francês Romanée-Conti podem custar milhares de reais
Imagem: Divulgação

Quando o terroir é muito valorizado

Entre os fatores que influenciam o preço do vinho está o famoso ‘terroir’ – expressão francesa que indica o solo e o clima de determinada área produtora de uvas. É o terreno que ajuda a definir que tipo de uva será plantada –e, portanto, que tipo de vinho será feito. “Se essa área é excelente, mas de território pequeno, produzindo poucos litros por hectare, isso deixará o produto mais caro ainda”, explica a sommelière Andrea Godoy.

Além do terroir, a reputação e infraestrutura dos produtores também ajudam a calibrar o preço final. “Quando o produtor tem tradição e boa reputação, ele valoriza o seu produto”, explica. “Investir em bons equipamentos torna o produto mais caro, mas a qualidade sobe junto”. Avaliações profissionais também ajudam a aumentar o "hype" do produto – quanto mais pontos a bebida recebe dos guias especializados, mais chama a atenção do público e, por consequência, mais valorizada fica.

Quando os produtos viram "grifes"

Assim como acontece com no mundo da moda, vinhos também tem marcas famosas, fáceis de identificar. “Nos vinhos as “grifes” são os produtores”, conta Andrea. “Quando o produtor tem boa reputação e uma excelente tradição, isso vai agregar valor para toda bebida que ele fabricar”.

Um nome regional emblemático, no entanto, também ajuda nas vendas. Por conta disso, não é de se admirar que rótulos vindos de um mesmo país e fabricados com o mesmo tipo de fruta possam ter preços diferentes. No entanto, isso nem sempre equivale a algo que vale o que foi cobrado na loja. “Uma dica que dou para todos antes de comprar um vinho caro: tente saber mais sobre o produtor. Algumas pessoas, infelizmente, utilizam o nome famoso com um artifício para aumentar o preço, mas o vinho não foi tão bem elaborado – e aí jogamos dinheiro fora”.

Quando o vinho é para ser apreciado. Nem sempre para beber

Comprar vinho apenas pelo preço, sem se atentar às suas preferências, pode causar alguns inconvenientes, como Andrea testemunhou em um almoço. Seu cliente em um restaurante escolheu a garrafa mais cara para impressionar a pessoa que o acompanhava. Tratava-se de um Barolo – vinho que costuma ser caro por ser de região controlada e feito com uma uva delicada de se cultivar.

“É uma bebida de teor alcoólico alto, taninos muito fortes e aroma bem específico - tem quem ame e quem odeie”, conta a sommelière. “Tentei explicar sobre o rótulo, mas ele não me deu abertura. No momento em que servi a bebida, a cara do cliente foi muito engraçada: ele quase engasgou com a bebida e sua encenação de entendedor foi por água abaixo...” 

Para Andrea, é preciso um pouco de respeito pela bebida: "vinhos caros como estes não foram feitos simplesmente para serem bebidos, mas para serem degustados e apreciados", diz. "Em minhas palestras e cursos, sempre digo que o melhor vinho é aquele de que você gosta -- e o gosto é subjetivo."