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Carlos Bertolazzi conta como foi vender coxinhas em feira em Nova York

O chef Carlos Bertolazzi com uma das coxinhas de pato vendidas em feira gastronômica de Nova York (EUA) - Divulgação
O chef Carlos Bertolazzi com uma das coxinhas de pato vendidas em feira gastronômica de Nova York (EUA) Imagem: Divulgação

Carlos Bertolazzi*

Especial para o UOL

16/05/2014 12h43

Em setembro de 2013, fui visitar a Smorgasburg, feira de rua que acontece em Williamsburg, no Brooklyn, em Nova York. Já participava da Feirinha Gastrônomica  e O Mercado, ambos em São Paulo, e queria ver as novidades -como eles se organizavam para servir seus pratos em barracas, a variedade de produtos, enfim, entender como isso poderia ajudar no meu trabalho no Brasil. Mal sabia que um dia eu estaria lá, comandando uma das barracas mais disputadas do evento.

A ideia de ir para a Smorgasbourg surgiu de um intercâmbio entre a Feirinha Gastronômica, que já tinha levado pra lá os fantásticos doces do meu colega Lucas Corazza, e trazido para cá o aclamado Ramen Burger (hambúrguer com macarrão tipo lámen no lugar do pão) e o Jack’s Chedbred (salsicha envolta em massa de milho e frita). Agora, era a minha vez de arrumar as malas e ir a Nova York.

A primeira pergunta que me fiz foi “O que fazer na Smorgasburg?”. Não queria fazer o nhoque, que sirvo com muito sucesso aqui no Brasil. Precisava ser algo mais brasileiro, que pudesse representar com autenticidade nossa comida de rua. Não foi difícil imaginar que a coxinha poderia fazer sucesso lá fora -afinal, eita povo pra gostar de fritura!


Mas por que uma fazer coxinha com recheio de pato (clique aqui para ver a receita) e não de frango, como estamos habituados? Na Feirinha Gastronômica, imaginei que a coxinha tradicional não teria tanto apelo. Decidi então pelo pato, que adoro e tem, pode-se dizer, tem licença poética para estar dentro de um salgado desse tipo. Receita aprovada no Brasil, resolvi replicá-la nos Estados Unidos.

Lista de compras
Fizemos a lista de compras. Leite, farinha, batata... Mas qual batata usar? Para quem faz nhoque como forma de ganhar a vida, sei da importância de utilizar o tubérculo correto. Conhecendo pouco os tipos disponíveis por lá, só me restava torcer para que ela tivesse características próximas aos que uso aqui. Não tinha. Perdi cerca de 100 coxinhas nessa brincadeira, testando o ponto da massa com a Russet, batata muito comum por lá, incrivelmente úmida. Desastre!

Chegamos cedo ao Brooklyn e começamos a nos preparar para a feira. Junto com as coxinhas eu tinha levado cerca de 300 brigadeiros do Bazzar, restaurante carioca que, tempos atrás, começou a vender sua linha de doces de colher no Soho. Levei ainda cerca de 100 pimentas Jack’n’Cola -que desenvolvi com a marca Decabron- dupla imbatível com a coxinha. Óleo na temperatura certa, ficamos esperando o horário de começar a feira, 11 horas da manhã. Pouco antes disso, vendemos nossa primeira coxinha para uma brasileira. Uma emoção!

A ideia era segurar um pouco a saída da comida, por isso, criamos algumas regras. Cada pessoa só poderia comprar um salgado e só começaríamos a fritá-las após o pedido. Assim, conseguiríamos que eles durassem a tarde inteira. Sonho nosso. Era tanta gente querendo o diabo da coxinha “kojina”, como pronunciavam os americanos- que logo nos vimos fritando 16 salgados por vez.

O relógio passava um pouco das 14h30 quando vendemos a última unidade. E a feira só ficou cheia mesmo por volta das 15 horas. Quer dizer, se tivéssemos preparado 800 itens, provavelmente teríamos vendido todas. Confesso que até fiquei com vontade de ficar por lá, passar um tempo vendendo coxinha e mostrando aos americanos que a gente também é craque em fazer friturinhas.

Mas dia 18 tem Virada Cultural e o público brasileiro também merece comer um dos salgados mais populares do país -só que recheado com pato. Pode ser mais gostoso? O povo da terra do Tio Sam não duvida.

*Carlos Bertolazzi é chef dos restaurantes Zena Caffè e Per Paolo e apresentador do programa "Homens Gourmet", exibido pelo canal a cabo Fox Life