Minha época de estudante foi um tanto conturbada. A hiperatividade não me permitia muita concentração nas aulas, então todo ano eu tinha que ficar na escola até a última recuperação para passar de série. Justificava aos meus pais que essa era a melhor maneira de aproveitar as mensalidades pagas, já que eu usava a escola de janeiro a dezembro.

Hoje vejo que a desculpa da hiperatividade era uma bela de uma lorota, pois para fazer as coisas erradas eu me concentrava, e muito!  Coloquei rato na bolsa de uma professora, criei fanzines para satirizar um outro, cabulei aulas para ir ao cinema, organizei greves de alunos – e também grandes festas!

No campeonato de futebol interclasses, fui vetado no time da minha série (sou um grande perna de pau, alguns dizem que nasci com dois pés esquerdos) e criei um time B com o que existia de pior no meio futebolístico da escola. Nem preciso dizer que nossas derrotas eram homéricas. Porém, tínhamos a maior torcida da história do campeonato, que chegou a invadir a quadra quando fiz meu único gol e parou os jogos daquela noite.

Isso tudo exige concentração e organização e o motivo da pouca aplicação nos estudos certamente não vinha de minha hiperatividade.

E quem diria que a cerveja, que durante a faculdade me tirava dos livros rumo aos botecos, seria a responsável por fazer com que, já adulto, eu me aplicasse aos estudos pela primeira vez na vida? Desde que me interessei pelo tema já devorei inúmeros livros e textos cervejeiros. Já há alguns anos, dou aulas sobre o assunto. Pois é, virei professor! Neste passado escolar um tanto traquina, esta é uma atividade que ninguém teria apostado ser o meu futuro.