Cervejas

Um passeio pelas escolas cervejeiras do Velho e do Novo Mundo

Cilene Saorin

Cilene Saorin

Colunista do UOL
  • Divulgação

Quando ouvimos falar de Velho e Novo Mundo à mesa é mais comum associar essas expressões ao vinho. Mais dificilmente as pessoas pensam em cervejas, mas acredite: isso também é jargão na cultura cervejeira.

Para entender melhor, comecemos explorando o Velho Mundo, ou seja, a parte ocidental da Europa. Imaginem esse continente dividido ao meio por uma linha horizontal. Ao sul, encontramos predominantemente países que têm à mesa os vinhos, porque em suas terras, desde muito tempo, melhor se desenvolvem as frutas. É o caso de Portugal, Espanha, Itália, França. Ao contrário, ao norte do continente, são as cervejas que alimentam o corpo e a alma daqueles que, de suas terras, colhem os grãos. São países como Alemanha, República Tcheca, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Reino Unido.

Os monastérios do sul da Europa tinham nos vinhedos a garantia de subsistência e isso explica o Antigo Testamento inundado em vinho. Já os monastérios espalhados ao norte naturalmente buscavam a autossuficiência produzindo cervejas. Na Idade Média, abadias de diferentes ordens religiosas, como franciscanas, beneditinas e trapistas, se mantinham por meio da elaboração de vinhos e cervejas para consumo próprio e também para venda. Os monges desenvolveram infinita paciência e profundo conhecimento, a ponto de nos oferecer o prazer dos champanhes e das cervejas de origem controlada. As chamadas "Authentic Trappist" são cervejas de monastérios trapistas produzidas de maneira muito peculiar, cuja arte e técnica influenciam cervejarias do mundo todo até hoje.

Tanto que essas influências foram levadas ao Novo Mundo, o qual, no caso das cervejas, compreende países como Estados Unidos, Canadá, Itália, Austrália, Japão e Brasil. Os Estados Unidos, particularmente, já se encontram tão bem desenvolvidos que conquistaram reputação própria como escola cervejeira.

São basicamente três importantes escolas cervejeiras no Velho Mundo; a primeira reúne Alemanha, República Tcheca e Áustria, a segunda inclui Inglaterra, Irlanda e Escócia, e a terceira engloba Bélgica e França. No Novo Mundo há apenas uma, representada pelos Estados Unidos. A referência como escola cervejeira se dá, primeiramente, pelas particulares características da região marcadas nas matérias-primas, o famoso terroir, e por algumas importantes habilidades humanas, como a criatividade e o ineditismo. Mas, com o tempo, também deve se dar pela apuração técnica, pela paciência e pela humildade de esperar o momento do reconhecimento.

Acredito que a Itália esteja fortemente nesse caminho. Ano após ano, seus cervejeiros têm ganhado boa fama e inspirado muitos outros no mundo com espírito brilhante e astuto. Nosso país também parece estar nesse bom caminho, entretanto o que estamos vivendo e aprendendo é só o começo.


::FICHA TÉCNICA::
La Goudale


A França não costuma ser lembrada pelas cervejas, mas tem muitas produções especiais. Uma delas é essa Bière de Garde – estilo autenticamente francês – produzida pela Les Brasseurs de Gayant na região norte da França, perto da fronteira com a Bélgica. De cor amarelo-ouro e espuma generosa, apresenta aromas delicados em vertentes frutadas, herbais e condimentadas. Frisante, com acidez pronunciada e amargor discreto. Combina muito bem com queijos de casca branca, como Brie e Cammembert, acompanhados de frutas secas.


País: França
Teor alcoólico: 7,2%
Volume: 330 ml
Preço: R$ 12,90
Estilo: Bière de Garde
Onde encontrar: www.clubedomalte.com.br

Cilene Saorin

Cilene Saorin é mestre cervejeira graduada pela Universidad Politécnica de Madrid- Escuela Superior de Cerveza y Malta. Com mais de 20 anos de profissão, atua como consultora, sommelier e é presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Cerveja.

UOL Cursos Online

Todos os cursos