Cervejas

Ingredientes como frutas e especiarias produzem cervejas surpreendentes

Cilene Saorin

Cilene Saorin

Colunista do UOL
  • Amazon Beer

Na Alemanha de 1516, a importante Lei de Pureza, chamada Reinheitsgebot, foi criada para restringir a produção de cervejas às suas matérias-primas básicas – água, malte de cevada e lúpulo. A levedura, naquela ocasião, ainda estava longe de ser compreendida e oferecia 'magicamente' às transformações da fermentação, que ainda era considerada ação dos deuses. Até hoje, a lei marcadamente dá à escola cervejeira alemã a reputação de elaborar suas cervejas com qualidade incontestável.

Curiosamente, ao mesmo tempo e a algumas centenas de quilômetros de distância neste mesmo Velho Mundo, a Bélgica apresentava outro compasso, radicalmente diferente. A liberdade absoluta no uso de ingredientes variados para criação de suas cervejas marca a inventividade da escola cervejeira belga e também inspira as escolas cervejeiras do Novo Mundo.

Além de água, malte, lúpulo e levedura, as receitas podem incluir, por exemplo, grãos não maltados como aveia e centeio; raízes como mandioca e gengibre; mel, rapadura, caramelo; chocolate; café; condimentos como semente de coentro, cardamomo, pimenta, cominho, anis e alcaçuz; frutas como casca de laranja, cereja, framboesa, pêssego, cassis, banana e abacaxi; abóbora; ervas e flores como camomila, rosas e jasmim. A lista é extensa e chega a ser divertida.

Na Bélgica, as cervejas Kriek Boon e Mort Subite Framboise são clássicos exemplos do estilo Fruit Lambic, apresentando fermentação espontânea e frutas vermelhas maceradas (cereja e framboesa, respectivamente). Nos Estados Unidos, a Rogue Juníper Pale Ale leva zimbro na receita, enquanto a Brooklyn Post Road Pumpkin Ale tem abóbora. Na Itália, a Del Ducato Verdi – licorosa e potente cerveja do estilo Imperial Stout – inova com pitadas de pimenta. No Brasil, em movimentos cheio de regionalismo (e orgulho), existem cervejas ricas em diversidade e personalidade de norte a sul. A cervejaria paraense Amazon Beer explora as riquezas da floresta Amazônica e apresenta a Forest Bacuri (veja ficha técnica abaixo) e a Witbier Taperabá (também conhecido como cajá). Em breve, a cervejaria mineira Wäls lançará uma versão no estilo Saison utilizando caldo de cana na receita. A cervejaria paulista Colorado tem conquistado fãs com suas criativas cervejas Cauim com mandioca, Appia com mel de laranjeira, Indica com rapadura e Demoiselle com café. E, por fim, a cerveja gaúcha Dado Bier Ilex arremata trazendo erva-mate na receita.

A cultura cervejeira não é só sobre as cervejas, reflete também a história dos povos. Incrivelmente, geografia, política, economia, cultura e tradição gastronômica se misturam no momento em que o alquimista-cervejeiro desenha sua nova receita – o infinito como limite para seduzir aqueles que genuinamente amam a exploração dos sentidos.

 
::FICHA TÉCNICA::
Forest Bacuri
O Bacuri, fruto típico da Amazônia, traz aroma cítrico, delicado e refrescante a essa produção da cervejaria paraense Amazon Beer. O designer norte-americano Randy Mosher, autor dos rótulos das cervejas Colorado, foi também convidado a dar seu traço à roupagem das cervejas Amazon.


País: Brasil
Teor alcoólico: 3,8%
Volume: 355 ml
Preço: R$ 9,90
Estilo: Fruit Beer
Onde encontrar: www.beer4u.com.br

Cilene Saorin

Cilene Saorin é mestre cervejeira graduada pela Universidad Politécnica de Madrid- Escuela Superior de Cerveza y Malta. Com mais de 20 anos de profissão, atua como consultora, sommelier e é presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Cerveja.

UOL Cursos Online

Todos os cursos