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01/06/2009 - 09h43

General Motors pede concordata nos EUA e terá dinheiro público para se reerguer

Da Redação,
com agências
Texto atualizado às 17h50
  • AFP

    Em telão instalado na sala em que um executivo da General Motors falaria à imprensa, o presidente dos EUA, Barack Obama, comenta a concordata da companhia, nesta 2ª

A General Motors entrou nesta segunda-feira (1º), numa corte de Nova York (EUA), com um pedido de concordata. Trata-se da terceira maior quebra de empresa da história dos Estados Unidos, atrás apenas do Lehman Brothers e da WorldCom. A derrocada da GM superou até mesmo a da Enron, em 2001.

O presidente norte-americano, Barack Obama, se pronunciou na tarde desta segunda sobre a concordata da GM. Para ele, a "icônica companhia americana" não poderia ficar sem ajuda, já que uma falência total poderia ter consequências muito além da indústria automotiva. De acordo com Obama, após o prazo de 60 dias recebido do governo dos EUA em março, a GM finalmente apresentou um plano de reestruturação considerado "viável".

Por isso, já sob concordata, a GM vai receber do governo dos EUA mais US$ 30,1 bilhões, em troca de 60% do controle da "nova" companhia que emergirá da quebra. O Tesouro norte-americano já havia colocado cerca de US$ 19 bilhões na GM.

O governo do Canadá, país em que as operações da GM são importantes, deterá 12% da empresa, entrando com US$ 9,5 bilhões. O sindicato United Auto Workers (UAW) terá assento na diretoria da companhia. Todos os atuais executivos devem ser trocados por homens de confiança de Obama -- que, no entanto, afirmou que seu governo não interferirá demais nos rumos da "nova" GM.

  • Comente a concordata da General Motors

    Obama disse ainda que a reestruturação e o reerguimento da GM podem demorar mais do que a recuperação da economia dos EUA, mas que, ao término do processo, a companhia fabricará mais carros nos EUA do que fora dele, além de focar em veículos mais econômicos e menos poluidores.

    Depois de Obama, foi a vez de Fritz Henderson, atual presidente da GM, falar sobre a situação da companhia. Ele confirmou a intenção de produzir carros mais econômicos e "verdes": "A nova GM, que surgirá entre 60 e 90 dias, terá como foco a produção de carros menores e mais eficientes para o mercado norte-americano, com novas tecnologias e design impressionante", afirmou. Para ele, o pedido de concordata "não é o fim da GM, mas o início de um novo capítulo -- melhor, mais aberto e transparente".

    Henderson disse que as operações da GM fora dos EUA e do Canadá não sofrerão mudanças. Isso inclui América do Sul, Ásia e África, e mesmo o México, tão próximo do mercado norte-americano. "Basicamente, [apenas] as operações dos EUA e do Canadá serão afetadas, inicialmente, pela concordata", frisou o executivo.

    DADOS DA COMPANHIA

    FINANÇAS - A GM perdeu US$ 31 bilhões em 2008, atingindo perdas totais de US$ 82 bilhões em quatro anos. No ano passado, ela vendeu 8,3 milhões de carros em todo o mundo, contra 9,37 milhões em 2007.

    STATUS - A GM perdeu a posição de maior fabricante mundial de carros, mantida desde 1931, para a japonesa Toyota, em 2008
    MARCAS/MODELOS - O grupo GM inclui as marcas Buick, Cadillac, Chevrolet (a única vendida no Brasil), GMC, Hummer, Pontiac, Saab (da Suécia) e Saturn; há planos de vender Saab, Saturn e Hummer este ano, e a Pontiac será fechada em 2010. As marcas restantes, prioritárias, representam 83% de suas vendas. Os carros mais vendidos da GM são os Chevrolet Silverado (picape), Malibu e Impala (sedãs), o Cadillac CTS (sedã de luxo) e a picape GMC Sierra.
    PESSOAL - Em dezembro de 2008 a GM tinha 243 mil empregados em todo o mundo, 170 mil deles horistas e 73 mil contratados -- desse total 54 mil trabalham em fábricas e são representados pelo sindicato United Auto Workers. Os aposentados são 384 mil horistas e 116 mil assalariados.
    O CAMINHO DA CRISE
    Fundada há 101 anos, a GM foi a maior vendedora de veículos no mundo entre 1931 e 2008, quando a japonesa Toyota a ultrapassou. Mergulhada numa crise sem precedentes -- agravada pelo derretimento financeiro mundial iniciado em 2008, mas originada em procedimentos e estratégias empresariais muito questionados, como insistir na fabricação de picapes e SUVs beberrões e poluidores --, a GM começou este ano devendo bilhões de dólares, inclusive ao Tesouro dos EUA, e enfrentando dificuldades para fechar acordos com seus credores.

    No primeiro grande sinal da derrocada, no final do ano passado a General Motors teve de publicar um histórico anúncio admitindo vários erros, fazendo uma auto-crítica arrasadora e, finalmente, explicando aos cidadãos dos Estados Unidos porque se via no direito de pedir dinheiro público emprestado para sair do buraco. Agora, vê-se obrigada a apelar à lei norte-americana para proteger-se contra pedidos de falência.

    A Chrysler, terceira maior montadora de veículos dos Estados Unidos, pediu concordata no final de abril. Seu processo de recuperação inclui uma aliança com a italiana Fiat, já autorizada pela Justiça dos EUA e saudada por Obama, nesta segunda, como um grande passo na viabilização da montadora dos EUA.

    Não será esse o caminho da GM, que em 2006 descartou uma aliança global com o grupo Renault-Nissan. O que a ex-maior montadora do mundo fez de prático já antes da concordata foi colocar à venda a marca Hummer, marcar o próximo ano como o último da Pontiac, sucatear a Saturn e, na Europa, passar o controle da Opel à canadense Magna. A Ford, segunda maior montadora dos EUA, não chegou a pedir dinheiro ao governo norte-americano.

    O processo de reestruturação da GM inclui o fechamento de diversas fábricas e unidades nos EUA e o consequente corte de postos de trabalho -- as demissões podem chegar a 20 mil, numa estimativa algo conservadora. Ao menos 11 unidades estão com os dias contados, entre elas, cinco fábricas de motores e estamparias, que devem encerrar suas atividades em 2010. Uma unidade no Estado de Delaware, especializada em roadsters (conversíveis de dois lugares) das marcas Pontiac e Saturn, é outra que terá as portas fechadas. Numa medida do que a quebra e severa reestruturação da GM podem fazer com a cadeia produtiva automotiva, cerca de 100 mil empregos podem ser perdidos nas revendas do grupo que serão fechadas nos próximos anos -- até 6.000 lojas nos Estados Unidos estariam ameaçadas.

    A esperada diminuição da produção, do catálogo de produtos e das vendas gerais da GM devem não só impedir que a empresa recupere a posição de maior do mundo no setor automotivo, como também fazer com que seja ultrapassada domesticamente pela própria Toyota e, num segundo momento, pela Ford -- que então se tornaria a maior montadora dos EUA.

    NO BRASIL
    A General Motors do Brasil ainda não se pronunciou sobre a concordata da matriz. Sua assessoria de imprensa afirmou que não está prevista qualquer manifestação da filial para esta segunda. Uma entrevista coletiva do presidente Jaime Ardila deve ser feita na terça (2). No entanto, uma nota da divisão LAAM da GM (América Latina, África e Oriente Médio) foi divulgada nesta segunda e afirma que as operações nessas regiões não serão afetadas.

    Desde o começo da crise, a GM do Brasil tem dito repetidas vezes que os problemas da matriz não afetarão o calendário local, porque as verbas para investimentos já estão garantidas. O maior deles é o projeto Viva, uma nova família de carros compactos que deve incluir um hatch e um crossover -- adiantados no conceito GPix, exibido no Salão de São Paulo de 2008.

    De acordo com informações de bastidores, o lançamento do primeiro modelo do Viva já está programado para o segundo semestre, e acontecerá na Argentina.

    Com reportagem de Claudio de Souza e Eugênio Augusto Brito

    DÉCADA A DÉCADA, A HISTÓRIA DA GENERAL MOTORS

    1900 / 1910 16 de setembro de 1908 - A General Motors Company é fundada por William Durant (foto), incorporando a Buick e depois a Cadillac; 1909 - A GM vende 25 mil carros e picapes e compra a Cadillac; 1910 - Grupo GM cresce, assim como as vendas, mas dívida sobe e Durant é derrubado.
    1911 / 1920 1911 - Ignição elétrica estreia num Cadillac modelo 1912; 1915/16 - GM integra General Motors Corp. Durant cria a Chevrolet e reassume controle da GM; 1917/19 - GM direciona a produção de picapes e veículos pesados para o esforço de guerra; financeira GMAC é criada. 1920 - Durant deixa a GM; grupo segmenta seus produtos em cinco marcas (Buick, Chevrolet, Pontiac, Oldsmobile e Cadillac) com públicos-alvo diferentes.
    1921 / 1930 1921 - GM detém 12% do mercado automotivo dos Estados Unidos; 1923 - Alfred P. Sloan vira presidente da empresa; 1925 - GM começa a operar no Brasil (foto), onde estabelece a marca Chevrolet; entra também na Argentina, Alemanha e França, e compra a britânica Vauxhall; 1929 - GM compra a alemã Adam Opel AG.
    1931 / 1940 1937 - Greves violentas (foto) dos horistas da GM em Flint, cidade natal da companhia, consolidam poder sindical do United Auto Workers (UAW).
    1941 / 1950 1941 - Fatia de mercado da GM nos EUA sobe a 41%; Cadillacs estreiam ar-condicionado; 1942 - Produção de veículos civis é parada para dar lugar ao esforço de guerra; 1945/46 - Trabalhadores fazem greve de 113 dias; 1948 - Primeiros motores V8 introduzidos em Oldsmobiles e Cadillacs; 1949 - GM compra a empresa de bondes de Los Angeles (foto) e passa a ser acusada de sistematicamente, desde os anos 1920, adquirir empresas do setor em várias cidades, para desmontá-las e aumentar o uso de ônibus -- a GM foi condenada uma vez, em Los Angeles.
    1951 / 1960 1954 - Participação de mercado da GM nos EUA chega a 54%, e companhia chega ao carro nº 50 milhões; 1956 - Sloan se aposenta; 1959/60 - GM lança o Chevrolet Corvair (foto), modelo menor que enfretaria os compactos europeus; o carro é alvo de críticas quanto à segurança, o que provoca audiências sobre essa questão no Congresso dos EUA.
    1961 / 1970 1964 - Lançado o primero Malibu; 1966 - Os muscle cars Chevrolet Camaro (foto) e Pontiac Firebird são lançados para enfrentar o Ford Mustang; 1967 - GM chega a seu carro de número 100 milhões; 1969/71 - Nave Apolo 11 chega à Lua com um sistema de navegação da GM e o veículo lunar da Apolo 15 é feito pela companhia.
    1971 / 1980 1979 - GM fecha a década com mais de 618 mil empregados nos EUA, e cerca de 853 mil em todo o mundo; são registrados tropeços, como a crise do petróleo, o avanço das marcas japonesas e uma queda nas vendas; 1980 - Roger Smith vira presidente da GM, num ano em que a companhia perde US$ 750 milhões com a queda nas vendas de carros e picapes.
    1981 / 1990 1983 - GM firma com a Toyota joint-venture para construir carros na Califórnia, ao mesmo tempo que anuncia a criação da Saturn (foto) para enfrentar os orientais; GM fatura US$ 3,7 bilhões; 1984/85 - GM adquire empresas fora do setor automotivo e amplia seus lucros; Saturn é fundada; 1986/87 - Companhia anuncia plano de fechar 11 fábricas, mas atinge pico de 877 mil empregados; acordo com o UAW só permite fechamento de fábricas se vendas de seus produtos caírem. 1989 - GM atende a regras federais e equipa cerca de 15% de seus carros com airbags para motorista, culpando o equipamento por aumento de preços; 1990 - Roger Smith é substituído por Robert Stempel; lançada a marca Saturn; lucros desabam para US$ 102 milhões; surge o carro elétrico Impact, que deu origem ao EV1, descontinuado em 2003 -- medida que gerou duras críticas à companhia pelo suposto desprezo ao meio-ambiente.
    1991 / 2000 1991 - GM sofre perda recorde de US$ 4,45 bilhões e anuncia fechamento de fábricas e cortes de empregos; 1992 - Stempel perde poder e depois renuncia, substituído por Jack Smith; 1996/97 - Empresas não-automotivas são separadas do grupo; 1998 - Greve em duas fábricas de Michigan paralisam a produção em todo o país; 1999 - GM compra a marca Hummer; 2000 - Rick Wagoner (foto), que presidiu a GM do Brasil, assume a chefia global do grupo.
    2001 / Hoje 2002 - GM gasta US$ 252 milhões por participação de 42% na falida Daewoo; 2003/04 - GM desfaz-se de negócios na área de defesa e eletrônicos, e encerra produção da Oldsmobile; 2006 - Começam demissões e aposentadorias voluntárias; aliança com grupo Renault-Nissan é rejeitada; 2007 - GM perde US$ 38,7 bilhões, um recorde da indústria; participação no mercado cai a 23,7%; 2008 - Alta no preço da gasolina e queda nas vendas de veículos de grande porte afetam negócios automotivos e atingem fortemente a GM; Hummer (foto à esq.), que fabrica utilitários beberrões, é posta à venda; crise financeira global, em outubro, piora situação do setor automotivo; em dezembro, GM afirma precisar de US$ 18 bilhões para se manter operante, e recebe US$ 13,4 bilhões do governo dos EUA; 2009 - O novo presidente dos EUA, Barack Obama (foto à dir.), exige um plano de reestruturação da GM; no dia 29 de março, Wagoner cai do poder na GM por ordem de Obama, e é substituído por Fritz Henderson; GM tem prazo até junho para mostrar-se viável, com ou sem concordata; hoje, 1º de junho de 2009, a GM pede concordata.

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