O que fazer para atualizar um carro que, em cinco anos de mercado, vendeu 100 mil unidades (mesmo sem ser das quatro grandes montadoras) e tem aprovação de 96% de seus compradores? Como resposta, a francesa Citroën decidiu mexer pouco em seu hatch compacto C3, lançado no Brasil em 2003 e que teve sua primeira reestilização no começo de agosto. A linha 2009 está chegando às lojas com a frente levemente alterada e preços antigos. O grosso das mudanças está no pacote de itens de conforto, que ficou mais completo. A mais esperada delas, no entanto, só chega em setembro, para reforçar as versões com motor 1,6 litro: é o câmbio automático seqüencial manual de quatro marchas, igual ao que equipa a linha Peugeot 207.
UOL Carros testou, por pouco mais de duas semanas, um C3 na versão 1.4 Flex Exclusive (a mais equipada). A princípio, foi preciso olhar o carro de perto e com atenção para notar que a grade frontal está mais larga e "separada" do restante da carroceria; que passou a ser preta em todas as versões, contrastando com a cor do veículo; e que ganhou moldura cromada e o símbolo da montadora em tamanho maior. O novo desenho aumentou a harmonia do conjunto, e leva à inevitável conclusão: o C3 já deveria ser assim antes. Logo abaixo, as entradas de ar foram realçadas, assim como o conjunto dos faróis de neblina.
Fotos: Murilo Góes/UOL
Após cinco anos de Brasil e 100 mil unidades no mercado, C3 mudou pouco e para ficar mais robusto |
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Completando uma volta em torno do C3, nota-se o novo desenho das calotas integrais, que recobrem a -- também nova -- roda de aro 15. Atrás, a única mudança para esta versão está no escapamento com ponteira cromada, de aspecto mais encorpado e esportivo. Esses pequenos implementos estéticos deixaram o C3 com aparência mais robusta, e devem servir para contrariar o senso comum de que este é um modelo feito para mulheres -- a Citroën, porém, não confirma nem a fama feminina do modelo, nem a vontade de alterá-la.
Quem for até uma concessionária Citroën encontrará a mesma tabela de preços para o C3, fruto da acirrada disputa dentro do segmento de compactos "premium" (mais equipados de série), liderado pelo Fiat Punto e que conta ainda com opções como Volkswagen Polo e Renault Sandero. O C3 parte de R$ 39.900 (1.4 flex GLX) e chega R$ 48.980 (1.6 16V flex XTR, sua versão "aventureira"). A versão 1.4 flex Exclusive, testada nesta avaliação, pode ser encontrada por R$ 42.490.
BOM DE PACOTEOutras novidades do C3 2009 estão ligadas ao conforto dos ocupantes. Um novo pacote de tecnologia (Pack Clim Auto, não presente na versão testada) inclui controle digital para o ar-condicionado, além do acionamento automático dos faróis em ambientes escuros e dos limpadores de pára-brisa com as primeiras gotas d'água. O hatch segue trazendo, de série, painel com mostradores digitais, airbags frontais para motorista e passageiros e direção com assistência elétrica.
Bancos e centro das portas ganham novas opção de tecido, mas na versão Exclusive o acabamento aveludado acumula poeira e rapidamente ganha aspecto de sujo (bancos em couro são acessórios). Na porta, a maçaneta cromada confere status, mas a estética do conjunto é quebrada pelo pegador e, no painel, por saídas de ar em plástico pintado imitando metal. O volante tem regulagem de profundidade e altura; atrás dele há uma alavanca que alterna as funções do computador de bordo e controla o rádio/CD player. Este possui entrada frontal para até seis CDs -- mas segue sem conexão para tocadores digitais de MP3.
A alavanca de câmbio ganhou acabamento em aço escovado no pomo e na base, o que aumenta a sensação masculinizada de esportividade, mas gera um pequeno desconforto em dias ou locais de temperaturas muito quentes ou frias. E a comentada fragilidade do acabamento do C3 surgiu durante o teste: a grade do alto-falante da porta esquerda se soltou. Foi preciso usar a famosa "batidinha" para recolocá-la no lugar. O mesmo ocorreu com parte do painel plástico que fica abaixo do volante, imediatamente acima dos joelhos do motorista.
Uma falha que poderia ter sido corrigida, mas que persistiu, é a posição do controle dos vidros traseiros, que continuam entre os bancos dianteiros, atrás da alavanca do freio de estacionamento. Estão ali para atender a quem vai à frente e atrás, mas um carro premium poderia ter mais controles disponíveis para isso.
PREÇOS E VERSÕES DO C3 |
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Linha C3 mantém preço antigo |
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1.4i Flex GLX - R$ 39.990 |
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1.4i Flex Exclusive - R$ 42.990 |
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1.4i Flex XTR - 44.290 |
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1.6i 16V Flex GLX - 43.490 |
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1.6i 16V Flex Exclusive - R$ 45.990 |
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1.6i 16V Flex XTR - R$ 43.490 |
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FICHA TÉCNICA DO C3 |
RODANDO COM O C3A novidade após ligar o motor e conduzir o novo C3 pelas ruas e estradas está no ajuste da suspensão. Ela foi recalibrada e está mais próxima da realidade de nossas pistas. Menos macia e barulhenta, responde melhor às imperfeições do terreno e traz maior estabilidade e segurança em curvas e manobras. Mesmo assim, o C3 ainda trepida um pouco em ondulações e lombadas. Já o nível de ruídos que chega ao habitáculo é baixo, o que mostra qualidade no isolamento acústico do motor.
O desempenho do C3, porém, é controverso. O propulsor 1.4 de quatro cilindros, oito válvulas, bicombustível, capaz de gerar 80/82 cavalos de potência (gasolina/álcool a 5.250 rpm) e torque máximo de 12,5 kgfm (a 3.250 rpm) sofre em retomadas e situações de baixa rotação. O sucesso ao subir ladeiras, freqüentes em cidades como São Paulo, depende muito de um fator: chegar a elas embalado. Do contrário, é praticamente obrigatório reduzir para segunda marcha. Em ultrapassagens, muitas vezes é preciso fazer o motor "esgoelar-se".
Ou seja, se você gosta do C3 e preza agilidade, a versão com motor 1.6, com potência bem maior (110/113 cv), pode ser uma opção mais interessante.
O nível de consumo de combustível se mostrou um pouco alto no começo, registrando 5,5 km/l nos primeiros dias do teste, mas chegando a uma média de 9,5 km/l em seu final (rodamos 60% na cidade, 40% em estrada, com álcool). Deve-se levar em conta que o motor da unidade testada ainda não estava amaciado (o que ocorre após os 3.000 km, segundo o manual do proprietário). Até lá, o carro é esperadamente mais beberrão. Outro problema aparece na hora de estacionar o C3 ou de manobrá-lo em espaços apertados. O diâmetro de giro é muito grande e o esterçamento fica limitado, e acaba sendo necessário fazer um esforço a mais em balizas.
De toda forma, o C3 não decepciona em sua vocação urbana. Compacto, aproveita bem o espaço cada vez mais restrito do tráfego pesado de nossos dias. E, como parte do conceito "premium", dá ao motorista uma posição mais elevada para dirigir e o presenteia com mimos de série que podem fazem a diferença em percursos forçadamente longos e estressantes.