Finalzinho de julho, e o novo Volkswagen Gol -- lançado oficalmente há um mês -- ainda é uma raridade nas ruas. UOL Carros acaba de experimentar o carro por uma semana, com propulsor 1.6 e dotado do pacote Trend Color e mais de R$ 16 mil em outros opcionais, completando 1.000 km com ele. Ao longo desse período, cruzou com exatos cinco outros exemplares nas ruas e estradas de São Paulo. Por isso, o renovado líder de vendas no Brasil ainda torce pescoços e provoca comentários por onde passa.
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Uma palavra rápida sobre o design do carro -- afinal, as fotos que acompanham esse texto falam por si. Para nós, o novo Gol se parece cada vez mais com um mini-Tiguan, o SUV compacto que a Volks lançou em Frankfurt em 2007, e que hoje é o mais vendido do segmento na Europa. A marca deve trazer um exemplar para exibição no Salão de São Paulo. Quem puder ver de perto, perceberá. Mas de alguns ângulos o novo Gol, especialmente depois de uma convivência mais longa, às vezes parece "apenas" um Fox meio achatadinho...
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Essa relação mais estável com o novo Gol reafirmou várias qualidades percebidas no test-drive anterior, realizado no calor do lançamento, e ainda fez com que descobríssemos outras. Mas também ressaltou algumas deficiências. Primeiro, falemos do que há de bom.
Na capacidade 1.6 litro, o novo motor VHT (sigla de Volkswagen High Torque), que equipa toda a linha 2009 de compactos da marca (Gol, Fox, Polo, e ainda uma versão do Golf), confirmou sua dupla adequação para uso urbano e em estradas. Leve e aerodinâmico, o Gol vira um "canhãozinho" com esse propulsor, agora disposto transversalmente.
DADOS TÉCNICOS DO CARRO |
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Com gasolina, motor 1.6 litro VHT gera 101 cv a 5.250 giros; já o robusto torque de 15,4 kgfm chega com apenas 2.500 giros
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Há bom torque disponível já em baixas rotações, o que confere ao carro esperteza para driblar as chateações do tráfego urbano e muita disposição para engolir a estrada numa viagem. Em velocidade de cruzeiro de 120 km/h, com quinta marcha, o VHT provavelmente vai trabalhar numa faixa entre 2.800 e 3.300 giros. O motorista fica com a sensação de que o Gol nem precisa fazer tanta força para agradá-lo. E o carro é bom de retomada; ultrapassagens são realizadas com bastante segurança.
É uma delícia fazer curva com o novo Gol. A suspensão, parcialmente emprestada do futuro Seat Ibiza, privilegia a estabilidade, e por isso é um tanto firme -- mas sem exageros, pois não se trata de um carro esportivo. O sistema cumpre a função de segurar o Gol colado ao asfalto, mas também evita que a maior parte das irregularidades do piso incomodem os ocupantes. Claro, se houver saliências demais, o Gol vai quicar.
O trem de força é completado por um câmbio manual de curso curto, com engates muito fáceis; alguns podem até achar que são fáceis (leia-se, moles) demais -- mas, particularmente, UOL Carros gostou de poder engatar as 2ª e 4ª marchas usando um único dedo para mover a alavanca. O pedal da embreagem é um pouco alto, mas isso não chega a cansar o motorista.
GINÁSTICA A BORDO |
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Os comandos do rádio no volante obrigam o motorista a fazer...
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...um movimento antinatural das mãos para seu acionamento
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Retrovisores têm design bonito, mas deixam muita coisa de fora e podem obrigar motorista a inclinar-se à frente para enxergar melhor
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POR DENTRO DO GOL
A posição de dirigir é inusual num carro do segmento. Os ajustes de altura do assento do motorista (curto e trabalhoso, mas vá lá, sejamos condescendentes) e do volante, e de profundidade da coluna de direção, garantem a melhor combinação para pessoas de todos os portes. Os bancos dianteiros são bem envolventes. Acomodado, o motorista se vê cercado de comandos, displays e iluminação de bom gosto -- basta notar que no painel central e nas portas as teclas têm luzes vermelhas. O acabamento cuidadoso, embora com alguns materiais plásticos baratos, chama a atenção. O I-System, que comanda a interatividade do Gol, possui um computador de bordo mais completo que o de muito sedã com preço acima de R$ 70 mil.
Mas lembre-se: estamos a bordo de um carro cheio de opcionais! Desse jeito, é fácil o novo Gol rivalizar até com compactos premium, como o Citroën C3 e o Polo, da própria Volks.
A montadora gabou-se de ter aumentado a rigidez da carroceria do Gol (que agora é feito na plataforma de Fox e Polo) e diminuído espaços entre suas partes e também entre as peças do acabamento. E disso não podemos duvidar: dentro do carro tem-se a impressão de estar numa espécie de cápsula inteiriça, sem emendas ou encaixes. É absolutamente impressionante. Tudo bem que o exemplar tinha apenas 1.600 km rodados quando o recebemos, mas quem já comprou carro "barato" sabe que bastam alguns dias e buracos para que surjam ruídos e rangidos incômodos. Mesmo tendo abusado do Gol ao longo de outros 1.000 km, inclusive em asfalto péssimo e na terra, o silêncio se manteve.
A QUESTÃO DOS PREÇOS | |||||
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CHUTE PARA FORA
Chega de elogios? Chega. O novo Gol tem lá seus pontos fracos. O primeiro deles é a visibilidade. Mais precisamente, aquela oferecida pelos retrovisores. O formato deles é bonito, mas a tendência é que os veículos à esquerda fiquem "escondidos". Em alguns casos, só aparecem após terem sido totalmente ultrapassados. Isso faz com que, a partir de um certo momento (e quem sabe após um ou outro susto), o motorista passe a projetar-se à frente para obter um melhor ângulo de visão do que acontece bem ao seu lado. As grossas colunas A também atrapalham nos cruzamentos.
Alguns equipamentos são mal-resolvidos. É o caso dos comandos do rádio no volante. Eles ficam muito para baixo, e obrigam o motorista a usar as mãos de modo pouco natural para acioná-los. O controle elétrico dos retrovisores, na porta do motorista, também não é exatamente um show de ergonomia. E faltam porta-objetos, mesmo num exemplar fortemente equipado como o que testamos. E retornamos a esse aspecto, que para nós é um ponto fraco: custa caro ter um novo Gol com um leque interessante de itens de segurança, como airbags e antitravamento nos freios, e mimos, como ar-condicionado e bom conjunto de luzes internas até para os espelhinhos dos pára-sóis (veja mais informações no quadro nesta página).
Também não agradou o consumo -- ressalvando que o carro ainda estava muito "cru". Para rodar os 1.000 km, o Gol bebeu um tanque de álcool e um tanque mais três quartos de gasolina. Com o combustível vegetal a média ficou em 7 km/l, quase somente na estrada. Já com o derivado de petróleo bateu em 9 km/l.
O GOL E OS OUTROS
É indiscutível que o novo Gol com motor 1.6 é um belo carro. Design, tecnologia e comportamento dinâmico o colocam à frente da concorrência, em alguns casos a anos-luz de distância. Não há risco de ter sua liderança ameaçada por qualquer outro modelo. E, se é óbvio que a Volks não rasga dinheiro e deve ter estudos e estratégias prontos sobre o tema, a nosso ver o novo Gol inutiliza o Fox (ao menos conceitualmente) e pode roubar compradores do Polo. Este ainda é o carro compacto "world class" da marca, mas uma diferença de alguns milhares de reais em favor do novo Gol (vai precisar de muita conta para chegar lá, mas tudo bem) pode fazê-lo sangrar. São sinais claros, aliás, que ambos -- Fox e Polo -- devem ganhar cara nova em breve.
29/05/2014