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Seguradoras temem que novas assistências automotivas tragam prejuízos

Amanda Voisard/Reuters
Imagem: Amanda Voisard/Reuters

Da Agência Reuters

27/07/2019 07h00

As montadoras querem cada vez mais acelerar o lançamento de tecnologia projetada para evitar acidentes, mas as companhias de seguro querem ter cautela com consumidores que buscam descontos em seus serviços comprando freios que evitam colisões ou controles de velocidade automatizados.

O mercado global de sistemas avançados de assistência ao motorista, conhecido na indústria como ADAS, deve chegar a mais de 67 bilhões de dólares (R$ 252 bi) até 2025, crescendo mais de 10% ao ano. Um grupo de 20 fabricantes de automóveis se comprometeu em equipar quase todos os seus novos veículos com aviso de colisão frontal e frenagem de emergência automática em velocidade urbana até 2020.

Leis para a instalação de tecnologia, como sistema de freio com alerta de colisão, estão impulsionando o mercado, assim como a promessa de lucros para esses veículos de alto padrão.

"Qualquer um que tenha estado em um carro com soluções avançadas de segurança não voltará atrás", disse Kevin Clark, diretor-executivo da Aptiv PLC, à Reuters. O custo dos sistemas avançados de segurança - freio automático, alerta de mudança de faixa e controle automático de velocidade - podem ser relativamente baixos para as montadoras, entre 500 dólares e 1 mil dólares (R$ 3.760) por veículo, disse Clark.

"O (fabricante) pode cobrar por isso e os consumidores vão pagar por isso", disse ele.

A Aptiv espera registrar mais de 4 bilhões dólares (R$ 15 bi) em novos negócios deste setor este ano. "Passamos de cinco clientes há apenas alguns anos, e acho que teremos mais de 20 daqui a alguns anos", disse Clark.

Porém, a perspectiva no setor de seguros é diferente.

O seguro de automóvel pessoal, embora seja tradicionalmente um negócio de baixa margem, fornece a maior quantidade de liquidez às seguradoras, gerando mais de 244 bilhões dólares (R$ 988 bi) em 2018 apenas nos Estados Unidos, segundo dados da Associação Nacional de Comissários de Seguros no país. O seguro de automóvel também é visto como uma forma de as companhias de seguros venderem outros produtos mais lucrativos aos clientes.

Segundo a Swiss Re AG, maior seguradora de automóveis do mundo, os sistemas de assistência têm o potencial de reduzir acidentes de automóvel em até 25%, cortando pagamentos para carros totalmente equipados com sistemas de assistência em 20 bilhões de dólares (R$ 75 bi) até 2020.

Mas as seguradoras dos EUA dizem que atualmente não têm dados suficientes para validar as promessas de benefícios de segurança de sistemas de direção automatizados da indústria automotiva.

Eles citam a relutância dos fabricantes de automóveis em fornecer informações detalhadas sobre modelos vendidos com esses recursos, falta de padrões consistentes, uso imprevisível dos sistemas pelos motoristas e custos mais altos de reparo.

"Nós não vamos contra os dados e não vamos criar qualquer tipo de falso desconto para fins de marketing neste momento. Queremos apenas garantir que a taxa reflita o risco", disse Steve Armstrong, vice-presidente do departamento de preços da Allstate Corp, uma das maiores seguradoras dos Estados Unidos.

Shantelle Thomas, também vice-presidente do departamento de preços da Allstate, disse que as taxas de seguro refletirão os benefícios e os custos da moderna tecnologia automotiva nos próximos cinco anos, mas afirmou também que isso não será necessariamente apresentado como desconto.

O sentimento foi ecoado por outros provedores de seguros.

"Estamos presos em um intervalo intermediário", disse Jennifer St. John, líder nacional da Westfield Insurance. "As assistências de segurança demonstraram fornecer benefícios reais, mas realmente não há muito entendimento em termos do que está por aí".

As seguradoras apontaram para maiores custos de reparo como um risco. Sensores e câmeras centrais para sistemas de acionamento automático são instalados principalmente no para-choque ou no para-brisa de um carro. Uma pesquisa da seguradora AAA mostrou que os custos de reparo, mesmo que colisões menores, podem dobrar, se esses sensores forem danificados.

"Não existe mais um para-choque de 300 dólares. Está mais perto de 1.500 dólaes em custos de reparo hoje em dia", disse Richard Lavey, vice-presidente executivo do The Hanover Insurance Group.

A State Farm informou em comunicado que não oferece descontos específicos para sistemas avançados de assistência ao motorista e que as taxas futuras serão moldadas por uma variedade de fatores, incluindo segurança, regulamentação, responsabilidade e custos de reparo.

A Geico não respondeu aos pedidos de comentários.

Sem dados

Com os novos recursos de direção automatizada sendo lançados em uma base contínua, as seguradoras disseram que é difícil se manter atualizadas.

O aviso de colisão frontal com frenagem automática é um dos maiores benefícios de segurança entre os vários sistemas de assistência ao motorista. O Instituto de Seguros para Segurança nas Rodovias concluiu em um estudo recente que a frenagem automática poderia reduzir em 56% as colisões frontais e de traseira com ferimentos.

Mas a maioria dos recursos das assistências ainda é vendida como equipamento opcional, tornando impossível para as companhias de seguros validar quais recursos acabarão em um carro específico. As seguradoras relutam em confiar nos compradores de carros para identificar corretamente a tecnologia que seu veículo tem a bordo.

Recursos avançados de segurança não diferem apenas em desempenho e descrição entre diferentes fabricantes, mas também entre os modelos da mesma montadora, de acordo com uma pesquisa da IIHS e da equivalente inglesa Thatcham Research, que conduz testes de estrada para avaliar o desempenho da tecnologia de segurança.

"A única maneira que você pode avaliar adequadamente é obtendo mais dados para entender o que um veículo tem e se faz alguma diferença", disse Matthew Avery, diretor de pesquisa da Thatcham.

Esses dados não são suficientemente fornecidos por fabricantes, que frequentemente citam razões de propriedade intelectual, disse Tom Karol, conselheiro geral da Associação Nacional de Seguradoras Mútuas, cujos membros asseguram mais de 170 milhões de automóveis norte-americanos segurados.

Montadoras e seguradoras disseram que estão lidando com os problemas de dados. A General Motors tem uma equipe que trabalha com assistências e seguros, de acordo com Barry Engle, chefe das operações da GM na América do Norte.

Engle disse que espera com melhores informações que a indústria de seguros responda positivamente. "Precisamos nos comunicar melhor", disse ele.

A Swiss Re está liderando os esforços para desenvolver uma classificação global de risco as assistências ao motorista, e um mecanismo que permita que as montadoras forneçam dados à Swiss Re, o que, por sua vez, recomendará descontos para as seguradoras de automóveis.

"Se dissermos que esses carros são mais seguros, as seguradoras estão mais propensas a acreditar em nós como parte do risco", disse Sebastiaan Bongers, chefe de produtos e tecnologia da Swiss Re.

Bongers acredita que as reduções na frequência e gravidade dos acidentes acabarão por compensar os custos de reparação mais elevados. Mas ele disse que os pagamentos mais baixos podem resultar em problemas temporários de liquidez no setor de seguros em cerca de dez anos.

A Swiss Re até agora se associou à alemã BMW e está em negociações com mais fabricantes de automóveis para desenvolver um sistema abrangente.

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