Topo

Carlos Ghosn perde último cargo na Nissan após votação de acionistas

Carlos Ghosn voltou a ser preso após cumprir mais de 100 dias de detenção no Japão - Kyodo/via Reuters
Carlos Ghosn voltou a ser preso após cumprir mais de 100 dias de detenção no Japão
Imagem: Kyodo/via Reuters

Naomi Tajitsu*

De Tóquio (Japão)

08/04/2019 10h17

Resumo da notícia

  • Reunião com acionistas foi a 1ª desde a prisão de Ghosn, em novembro
  • Novos chefes de Nissan e Renault não detalham futuro de aliança
  • Investidores estão "perplexos" com novas acusações
  • Executivo foi preso novamente na semana passada

Os acionistas da Nissan afastaram Carlos Ghosn do cargo de diretor da companhia nesta segunda-feira (8), cortando sua última ligação com a montadora japonesa que resgatou da quase falência há duas décadas -- e da qual agora é acusado de desviar fundos.

Dias depois da última detenção de Ghosn em Tóquio (Japão), os acionistas se reuniram para uma reunião extraordinária, expressando desconcerto e inquietação quanto às crescentes alegações de má conduta financeira apresentadas antes deles --enquanto buscavam mais clareza sobre como a Nissan planeja se recuperar do escândalo.

Reunindo os acionistas pela primeira vez desde a primeira prisão de Ghosn, em novembro, o presidente-executivo da Nissan, Hiroto Saikawa, e Jean-Dominique Senard, presidente da parceira Renault, disseram que precisavam se concentrar na colaboração e na melhoria da governança da empresa japonesa. Mas eles ofereceram poucos detalhes concretos sobre o caminho a seguir.

"Não consigo compreender como isso poderia ter acontecido, apesar de haver auditores", disse Setsuko Shibata, uma dona de casa aposentada que disse que sua família tinha ações da Nissan há décadas. "Eu não posso dizer que me sinto melhor sobre a situação depois da explicação de hoje."

Ghosn tem negado todas as acusações e dito que ele é a vítima de um golpe da diretoria.

A votação que decidiu o afastamento definitivo de Ghosn chegou a ser interrompida por alguns manifestantes no plenário da reunião, assistida por quase 4.100 acionistas. Eles votaram pela remoção o executivo e também acusaram Greg Kelly, da diretoria da Nissan, de coparticipação nas irregularidades. Kelly também nega as acusações.

A assembleia também confirmou Senard no cargo de diretor, movimento que foi amplamente visto como uma tentativa de amenizar a preocupação com o futuro da aliança de montadoras Nissan e Renault, projetada por Ghosn.

De volta à prisão

Na semana passada, os promotores adotaram a medida altamente incomum de prender novamente Ghosn -- que estava livre após pagar fiança de US$ 9 milhões -- devolvendo-o ao centro de detenção de Tóquio, onde ele já havia passado mais de cem dias detido. De acordo com as acusações mais recentes, ele é suspeito de tentar enriquecer com a quantia de US$ 5 milhões, às custas da montadora.

Os advogados de Ghosn chamaram a prisão de tentativa de amordaçá-lo. Ele iria falar em uma coletiva de imprensa nesta semana, mas em vez disso, uma declaração em vídeo dele será mostrada na terça-feira (9) no FCCJ (Clube de Correspondentes Estrangeiros do Japão), informou a entidade em seu site.

Ghosn foi acusado de não declarar parte do seu salário na Nissan durante uma década e de transferir temporariamente perdas financeiras pessoais para os livros da fabricante. No entanto, a nova alegação é potencialmente mais séria, pois pode mostrar que ele usou fundos da empresa para seus próprios fins.

Acionistas da Nissan "perplexos"

Tanto Saikawa quanto Senard falaram sobre a necessidade de se concentrar mais na união e respeito entre executivos e trabalhadores, embora nenhum tenha oferecido detalhes sobre as perspectivas de sua complexa estrutura de capital, na qual a Renault menor possui uma fatia maior da Nissan.

"Vou sugerir constantemente as melhores evoluções possíveis no âmbito da aliança", disse Senard após os eleitores aprovarem sua nomeação para o conselho da Nissan. "Queremos garantir o futuro certo para a Nissan", disse ele, sem dar detalhes.

A queda de um dos executivos mais famosos do mundo pareceu ter deixado alguns acionistas da Nissan perplexos.

"Eu estava esperando ouvir mais detalhes sobre o caminho a seguir. Eu queria saber que tipo de papel uma empresa japonesa pode ter em uma aliança internacional como essa ", disse um acionista que se recusou a ser identificado, por questões de privacidade.

"A situação parece ir mais fundo do que parece com base nas informações", disse Roberto Montoya, acionista de 68 anos,. "Eu sou muito desconfiado da situação, e a maioria das pessoas é."

Saikawa disse que a Nissan poderá reivindicar que Ghosn reembolse a companhia. Ele também disse que vai trabalhar para estabilizar a empresa antes de passar adiante o cargo de executivo-chefe da Nissan.

"Esta não é uma questão que podemos consertar da noite para o dia", disse Saikawa aos acionistas. "Precisamos cumprir a tarefa (de melhorar a governança) e preparar a empresa para nossos próximos passos, e depois passar o bastão."

*Reportagem adicional de Maki Shiraki