Rolê do adesivo: grupos desafiam leis para marcar placas de trânsito em SP
Colaboração para o UOL
01/10/2025 05h30
A rua guarda suas histórias, e muitas são as manifestações culturais que utilizam a infraestrutura viária para contá-las. Entre eles, estão as turmas dos adesivos: de motociclistas a grafiteiros, elas reúnem pessoas que fazem questão de marcar a infraestrutura viária com seus stickers.
A moda é antiga, mas, através do Instagram, os grupos de adesivadores tem ganhado nova repercussão. Atualmente, há até intercâmbio de adesivos entre cidades como São Paulo, Amsterdã e Nova Iorque.
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O que é?
Um dos grupos mais populares de São Paulo é a Turma da Placa, que reúne as intervenções no Instagram desde o ano passado e acumula cerca de 3 mil seguidores.
O grupo evita identificar seus integrantes, a fim de evitar problemas. Entre eles, porém, há artistas, motoboys e até meros interessados na divulgação dos adesivos e na intervenção na sinalização viária.
Um dos meios de operação mais comum é simplesmente juntar algumas pessoas que, de uma vez, "lacram" placas, letreiros e equipamentos de infraestrutura com diversos adesivos.
Há os adesivos que identificam cada grupo, e os coletivos aproveitam para trocar figurinhas entre si. Não à toa, a Turma da Placa já tem adesivos colados no Chile e em países da Europa.
No grupo Os Cola, o alcance é ainda maior: 13 mil seguidores nas redes sociais, além de trabalhos que envolvem grafite e lambe-lambes.
Sob anonimato, um dos membros diz ter levado os adesivos até para Nova Iorque e Amsterdã. "Mas o mais importante para mim é a satisfação estética. Fico feliz de ver ilustrações bonitas colorindo a cidade", explica.
Algumas regras são derivadas dos motoclubes, que colam stickers nos vidros de restaurantes pelos quais passaram na estrada — e foram bem atendidos.
"Uma das principais regras é não cobrir um outro adesivo, que pode ser entendido como provocação", afirma.
É ilegal?
Segundo Marco Fabricio Vieira, advogado e pesquisador especializado em trânsito, a prática é ilegal, além de comprometer a segurança das vias em que há placas adesivadas.
"O artigo 82 do CTB veda a afixação de inscrições, legendas e símbolos em placas de sinalização, reforçando que qualquer adulteração ou comprometimento da sinalização oficial é irregular", explica Marco.
O especialista afirma que os adesivos comprometem a visibilidade da sinalização, elevam o risco de acidentes e causam confusão — além de gerarem custos de reparo aos cofres públicos.
Por fim, destaca, o ato pode ir além do Código de Trânsito: é possível que a prática seja enquadrada como dano qualificado, com multa e detenção de até três anos.