Cadê o Ricardão? Qual foi o destino do 'marronzinho reborn' da CET
Eduardo Passos
Colaboração para o UOL
23/06/2025 05h30
Quem dirigia em São Paulo (SP) nos anos 1990 tinha quase nenhum radar para se preocupar. Por outro lado, uma presença comum era um manequim trajado com roupas de agente de trânsito e nome próprio: Ricardão.
O boneco foi lançado pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) em 1994. Ele era convincente o necessário para assustar os motoristas, que não percebiam tratar-se de um manequim e tiravam o pé do acelerador.
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O nome curioso de Ricardão não tem a ver com o amante hipotético do imaginário nacional. Na verdade, fazia referência ao diretor Ricardo Teixeira, que hoje é vereador na cidade e quem teve a ideia incomum.
Segundo Teixeira, a estratégia surgiu em um cenário de recursos escassos que a CET enfrentava no governo Paulo Maluf. O principal objetivo do manequim era segurar os caminhoneiros que circulavam nas marginais.
"Naquela época morria uma pessoa por dia só nas Marginais Tietê e Pinheiros, e o maior problema eram os caminhões que andavam a qualquer velocidade e em qualquer faixa", contou em sua rede social em 2023.
Meme dos anos 90
Em um dos primeiros testes do boneco, relembra Teixeira, os funcionários da CET foram almoçar e deixaram-no sozinho ao lado da pista. "Nesse ínterim de ir e voltar do almoço, passou o César Tralli, que parou e filmou o boneco", explica.
A pauta do então repórter foi para o Jornal Nacional, e a prefeitura acabou pega de surpresa. "Ninguém sabia desse teste: nem o prefeito ou o secretário de Transportes".
Diante da repercussão, marcou-se uma coletiva de imprensa no dia seguinte. Durante a entrevista, o então presidente da CET, Gilberto Lehfeld, foi perguntado sobre o nome da política pública e respondeu com o do boneco: Ricardão. Teixeira, o Ricardo original, temia ser demitido por conta do burburinho gerado.
Vida curta e marcante
Segundo registros da coletiva, ocorrida em 4 de janeiro de 1994, o primeiro Ricardão foi financiado por Teixeira e custou CR$ 2.000 (cruzeiros reais), equivalente a R$ 80 hoje segundo o IGP-M.
"Paguei mais barato porque o Ricardão só tem meio corpo e estava com os dois braços quebrados", disse Teixeira aos presentes.
Como o "funcionário" ficava nas cabines, o corpo incompleto bastava, mas a CET queria expandir a ideia para outros endereços da cidade. Para tanto, o Ricardão ganhou a companhia de dois dois manequins femininos: Suzi e Barbie. Também houve Roberto Antônio, que usava motor de limpador de para-brisa para balançar os braços por até 12 horas.
Em abril daquele ano, ainda foi lançado o Gilbertão. Essa era uma versão mais robusta dos bonecos, com direito a alto-falantes que reproduziam mensagens de educação no trânsito em esquinas da região central. A versão falante, entretanto, ficava "fanho" em dias chuvosos, quando a água interferia em seu toca-fitas, e durou pouco.
Os outros bonecos ainda persistiram até 1997, quando a Companhia de Engenharia de Tráfego começou a ampliar seus radares e, ao mesmo tempo, percebeu que Ricardão, Roberto Antônio, Suzi e Barbie já eram ignorados pelos motoristas.
"Com a chegada do CTB (Código de Trânsito Brasileiro), em 1997, a fiscalização eletrônica se consolidou e os bonecos deixaram de ter impacto", explicou um porta-voz da companhia.