Carro eletrificado vira 'carregador gigante' para celular ou até cozinhar
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Todo mundo sabe que carros eletrificados usam energia das baterias para andar. Mas você sabia que esses modelos também podem funcionar como uma espécie de 'powerbank gigante' e até alimentar uma casa inteira por vários dias?
Alguns veículos são dotados da tecnologia chamada V2L ou Vehicle-to-Load, em inglês, que permite usar a bateria para alimentar dispositivos externos, como eletrodomésticos, por exemplo.
Um carro elétrico com uma bateria de 60 kWh poderia fornecer energia para uma residência com consumo mensal médio de 400 kWh por vários dias. Isso transforma o veículo em uma espécie de gerador de energia portátil, funcionando como uma alternativa ou solução temporária em momentos críticos, como apagões.
"Parece um contrassenso, mas ficar sem energia quando se tem um carro elétrico é quase um luxo. Uma geladeira básica pode ficar ligada por mais de 20 dias em um hatch elétrico de entrada", comenta Clemente Gauer, Coordenador do Grupo de Trabalho sobre Segurança e integrante do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Gauer diz que essa funcionalidade conquistou os donos, principalmente, de carros elétricos. "Basta um cabo para manter geladeira, roteador e luzes acesas durante um blecaute, sem o barulho (e o custo) de um gerador".
A ABVE diz que é necessário um adaptador V2L compatível, que converta a energia da bateria do carro para um formato adequado ao uso doméstico, como a conversão de corrente contínua (CC) para corrente alternada (CA), que é o padrão utilizado em residências.
Outra peça importante é o inversor, especialmente para alimentar dispositivos domésticos de maior potência. Esse equipamento converte a eletricidade da bateria do carro para a forma que os aparelhos elétricos da casa utilizam, normalmente em 110V ou 220V, dependendo da região.
"Todo elétrico que recarrega em corrente alternada carrega consigo um On-Board Charger, que converte a corrente alternada (AC) da tomada em corrente contínua (DC) para a bateria de tração. Em muitos modelos, esse mesmo OBC faz o caminho inverso: transforma a alta tensão da bateria em 220V, pronta para qualquer extensão ou régua de tomadas", explica Gauer.
Questionado se esse movimento afeta a bateria, o especialista é enfático. "A bateria mal sente o esforço. O V2L costuma entregar até 3 kW — uma gota d'água perto dos 60 kW (ou mais de 300 kW nos esportivos) que o motor elétrico do carro pede nem uma aceleração", afirma.
É importante, no entanto, monitorar a carga enquanto fornece energia para a casa, para evitar que o carro descarregue completamente e afete a vida útil da bateria. Vale ressaltar que os apps nativos das fabricantes e/ou dos veículos deste tipo oferecem o monitoramento em tempo real para o manter o nível da bateria em uma faixa segura.
Existe também o V2G
Além do V2L, há um conceito batizado de V2G ou Vehicle-to-Grid. A tradução mais simples é que os carros elétricos passam a "devolver" energia para a rede elétrica quando necessário. Mas o que se ganha com isso? O carregamento torna-se um processo bidirecional, o que significa que a rede não mais se limita a fornecer eletricidade à bateria do veículo, mas também considera essa bateria como uma fonte de energia a ser usada para atender horários de pico de demanda, por exemplo.
Os carros elétricos podem ser utilizados como, novamente, uma espécie de "acumuladores de energia", estabilizando a rede, trazendo mais eficiência e, claro, economizando na conta de luz.
"[Essa funcionalidade] ainda espera regulamentação no Brasil e suporte nativo nos modelos de maior volume. Mas é questão de tempo: os ganhos financeiros para o proprietário e o alívio à rede nos picos de demanda tornam essa evolução técnica e financeiramente inevitável", aposta Gauer, da ABVE.
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