'Passageiro reborn' infla na hora e vira tática contra assaltos no trânsito

Os 'bebês reborn' são moda recente, mas os bonecos que imitam humanos são, há muito tempo, utilizados no trânsito. Em alguns casos, servem para a segurança do motorista. Em outros, tem finalidade ilegal, rendendo multa para a pessoa (de verdade) a bordo do veículo.

No caso do público feminino, o UOL vem relatando diferentes motoristas que vêm utilizando esse 'passageiro reborn' para trazer tranquilidade enquanto dirigem sozinhas. Foi pensando nessa clientela que Roberto 'Juca' Amaral criou Wilson, o boneco inflável que vem acoplado a uma bomba elétrica, ligada à tomada 12 V do carro.

Quando necessário, a motorista pode encher o "acompanhante" instantaneamente. A figura do homem de meia-idade e nada simpático foi proposital, diz Juca.

Wilson é mal encarado por querer, e tem silhueta marcada para facilitar sua percepção sem entregar o disfarce
Wilson é mal encarado por querer, e tem silhueta marcada para facilitar sua percepção sem entregar o disfarce Imagem: Reprodução

O artista plástico de ofício mora em São Paulo (SP) e se divide, há cerca de 20 anos, entre a venda de Wilson e serviços gráficos a partidos políticos.

Cada unidade do boneco é vendido por R$ 690, mas há promoções que reduzem-no para R$ 450. Segundo o criador, também há homens que vêm utilizando a companhia extra principalmente em fretes.

"O público é principalmente feminino, mas há o pai que compra um boneco para o filho ou filha que volta da faculdade à noite. Também vendo para pessoas que sobem sozinhas do litoral, trazendo mercadorias".

Modelo Dany Bananinha é uma das que recorre ao passageiro falso para espantar olhares ao seu carro
Modelo Dany Bananinha é uma das que recorre ao passageiro falso para espantar olhares ao seu carro Imagem: Reprodução

Sensação de segurança

A reportagem consultou órgãos de segurança pública, mas não recebeu dados que mostrem que motoristas sem acompanhante têm mais risco de serem roubados.

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Uma pesquisa feita por IBGE e Ministério da Justiça, inclusive, mostrou que fatores como gênero, idade e escolaridade também não parecem influenciar tais ocorrências. Mesmo assim, acredita Juca Amaral, a sensação de conforto oferecida por Wilson já vale a pena.

"Uma coisa que as pessoas não entendem é que, mesmo que ele não seja um segurança e não vá fazer nada, o Wilson traz uma confiança", explica Juca. "Várias mulheres me relatam que elas não ficam naquela ansiedade".

Em todos os casos, uso do boneco pode trazer problemas ao condutor, explica especialista em trânsito
Em todos os casos, uso do boneco pode trazer problemas ao condutor, explica especialista em trânsito Imagem: Reprodução

Uso indevido

Em paralelo aos que precisam de companhia para sentir segurança, há quem utilize os "passageiros reborn" para obter benefícios ilegalmente.

A reportagem colheu relatos de motoristas profissionais que recorrem aos bonecos para, por exemplo, trafegam por faixas exclusivas — o que é permitido somente quando há passageiros a bordo.

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Essa prática é até mais comum no exterior: nos Estados Unidos, há registros frequentes de policiais que abordam carros com o manequim embarcado. Um deles, curiosamente, até cumpriu a missão de imitar um humano, mas foi descoberto quando o motorista foi abordado por dirigir em zigue-zague.

"Se a fraude for percebida, configura infração gravíssima, com direito a multa e sete pontos na CNH, conforme determina o artigo 184, inciso III, do CTB", explica Marco Fabricio Viera, advogado, pesquisador e especialista em trânsito.

Ainda de acordo com Vieira, mesmo quem recorre ao boneco para se proteger também pode ser multado.

"Se algum agente de trânsito confundir o companheiro inflável com um ser humano de carne e osso, a ausência do uso do cinto pelo boneco pode render uma bela multa por infração grave, nos termos do artigo 167 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB)", explica.

"Sim, até boneco gera 5 pontos na carteira de motorista".

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