De Virgínia e Zé Felipe a traição exposta, faixas ilegais tomam vias de SP

O uso de faixas ilegais em espaços públicos, com a promessa de revelações bombásticas sobre anônimos e celebridades, tem crescido em metrópoles como São Paulo.

Tais dispositivos, instalados sem autorização da prefeitura nem de outras autoridades em viadutos e outros locais de grande circulação de veículos, são usados de forma viral para fazer propaganda irregular de produtos e serviços - o material publicitário "disfarçado" sempre é acompanhado por um QR Code, que direciona ao verdadeiro conteúdo.

Além de poluição visual, essa propaganda eleva o risco de acidentes de trânsito, distraindo motoristas que apontam os respectivos celulares para o QR Code, curiosos para descobrir o tal "segredo".

A mais recente iniciativa do tipo envolve a separação dos influenciadores Virgínia Fonseca e Zé Felipe - pelo menos uma faixa, instalada no viaduto Guadalajara, no bairro do Belenzinho, em São Paulo, promete revelar a razão do fim do famoso casal.

"Saiba o verdadeiro motivo do término da Virgínia e do Zé Felipe", diz o banner, que já viralizou nas redes sociais.

Em abril, outra iniciativa semelhante trazia a mensagem 'Daniel, decidi te expor", dando a entender que o respectivo QR Code revelaria uma traição amorosa (leia mais abaixo).

No caso envolvendo Virgínia Fonseca, o código leva a um site de venda de cursos online, aparentemente sem nenhuma ligação com o agora ex-casal, que também promete revelar outro "segredo" por R$ 19,90 ao mês.

Empresário diz que faturou R$ 520 mil com ação

Continua após a publicidade

No Instagram, Bruno Vinicius, que se apresenta como proprietário de uma loja de vestuário, afirma que é o responsável pela ação publicitária.

Ele, que se autointitula como "rei do marketing", também anuncia cursos que prometem técnicas para viralização de conteúdo nas redes sociais.

"Nós não somos a favor do término de um casamento. Mas, de um limão, temos que fazer uma limonada, certo? É o assunto do momento", diz o empreendedor em seu perfil no Instagram. "Então a gente também tem que usufruir isso 'pro' nosso marketing".

No vídeo compartilhado, Bruno conta com ajuda de colegas para pendurar a faixa.

Em 66 segundos da gravação, são registrados mais de dez motoristas interagindo com a publicidade. Desses, há um condutor de ambulância, um de ônibus e sete pessoas utilizando o celular ao volante.

No final do vídeo, Bruno Vinicius declara ter faturado R$ 522.678, supostamente com pessoas que escanearam o QR Code e adquiriram o material didático.

Continua após a publicidade

Marketing de guerrilha

Faixa com estratégia idêntica já havia sido utilizada na mesma avenida há dois meses
Faixa com estratégia idêntica já havia sido utilizada na mesma avenida há dois meses Imagem: Cesar Candido dos Santos/UOL

O uso do espaço público para ações publicitárias em que a própria reação das pessoas faz parte da propaganda é exemplo do chamado "marketing de guerrilha". O conceito foi criado pelo publicitário e escritor Jay Conrad Levinson, com registros há pelo menos 42 anos.

A faixa mencionando a separação de Virgínia e Zé Felipe antecedeu iniciativa semelhante, com a frase "Daniel, decidi de expor". O QR code levava a um site de divulgação da nova música de MC Daniel e Gloria Groove.

Na época, especialistas e autoridades disseram ao UOL Carros que tal tipo de publicidade fere tanto o CTB (Código de Trânsito Brasileiro) quanto a legislação municipal.

Marco Fabrício Vieira, especialista em Direito de Trânsito, destaca que "o artigo 81 do CTB proíbe expressamente a colocação de luzes, publicidade, inscrições, vegetação e qualquer mobiliário que possam gerar confusão, interferir na visibilidade da sinalização e comprometer a segurança do trânsito."

Continua após a publicidade

Segundo Marco, qualquer material afixado próximo à sinalização e que não tenha vínculo direto com a mensagem oficial de trânsito pode ser removido pelos órgãos competentes.

Na ocasião, por meio de nota enviada à nossa reportagem, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento afirmou que a campanha também infringia a Lei Cidade Limpa (nº 14.223/2006), que proíbe a instalação de banners, faixas ou quaisquer elementos visuais em pontes, túneis, viadutos e passarelas com fins comerciais.

Tentamos contato com Bruno Vinicius, mas não obtivemos retorno.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.