Brasil se torna ímã de montadoras chinesas, mas já vê marcas indo embora

Há cerca de 15 anos, as primeiras montadoras chinesas chegaram ao Brasil, apostando em nosso pais para expandir seus mercados e aumentar seus lucros.

Na época, marcas como JAC Motors e Chery desembarcaram aqui e até hoje mantêm suas operações locais - a última, inclusive, hoje é a única chinesa a fabricar carros no Brasil, em associação com a Caoa. Outras, porém, passado algum tempo, acabaram encerrando suas atividades em solo brasileiro, como Lifan, Brilliance e Geely, que teve rápida passagem por aqui.

Recentemente, teve início um novo movimento de fabricantes chinesas decididas a vender e até fabricar veículos no Brasil, muito mais forte do que o anterior e com foco na eletrificação: a própria Geely, dona de marcas como Volvo e Lotus, acaba de confirmar seu retorno ao país, agora em parceria com a Renault, e se une a dezenas de fabricantes originárias da China que já chegaram ou estão por chegar ao nosso mercado.

BYD e GWM são expoentes dessa "invasão chinesa", com as obras das respectivas fábricas de automóveis eletrificados em curso, somando-se a conterrâneas como GAC e Omoda Jaecoo, que acabam de iniciar suas operações locais e já anunciaram planos de produzir carros aqui.

Antes mesmo de fabricar carros de passeio no Brasil, BYD e GWM já conseguiram, em pouco tempo, tornar relevante o mercado local de automóveis elétricos e híbridos, que há cerca de dois anos ainda era irrelevante. Seu sucesso serve de combustível para o interesse de outras montadoras chinesas. Contudo, só o tempo dirá quais efetivamente irão se consolidar e formar raízes aqui - pelo menos uma marca dessa nova fase, a Seres, mal chegou e já foi embora.

Veja a seguir quais marcas chinesas de veículos já estão operando no Brasil, quais devem chegar em breve e quais já se despediram de nosso país.

Montadoras chinesas instaladas no Brasil

BYD assumiu fábrica baiana que era da Ford e usará complexo industrial para tentar chegar a 300.000 unidades vendidas em 2028
BYD assumiu fábrica baiana que era da Ford e usará complexo industrial para tentar chegar a 300.000 unidades vendidas em 2028 Imagem: Divulgação

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- BYD: á tem fábrica no Brasil há dez anos, mas focada em ônibus elétricos e baterias para fins diversos. O investimento em carros começou, de verdade, em 2022, já focando exclusivamente veículos eletrificados (elétricos puros e híbridos plug-in).

Em 2024, a BYD entrou para o Top 10 de montadoras no Brasil em volume de vendas, fechando o ano em décimo lugar com 76.811 unidades vendidas — crescimento de 328% em relação a 2023. Seus líderes de vendas - os elétricos Dolphin e Dolphin Mini - também representam a maioria dos carros a bateria vendidos no país.

Yangwang U9, da BYD, deverá custar mais de R$ 1 milhão
Yangwang U9, da BYD, deverá custar mais de R$ 1 milhão Imagem: Divulgação

A empresa também está instalando uma fábrica em Camaçari (BA) para montagem de veículos da família Song (híbridos) e futuramente modelos 100% elétricos. Além disso, a BYD planeja introduzir no Brasil suas submarcas de alta tecnologia e luxo, Denza e Yangwang, para competir no segmento premium.

Com essa estratégia, a BYD visa cumprir a meta anunciada em 2023: fechar o ano de 2028 com 300 mil carros vendidos no Brasil, atrás só de Fiat e Volkswagen.

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- Great Wall Motors (GWM): a GWM chegou ao Brasil na virada para 2023, logo adquirindo a fábrica de carros de passeio que a Mercedes-Benz fechou em Iracemápolis (SP) e vendendo inicialmente carros importados.

Em 2024, emplacou 29.219 veículos e chegou ao 13º lugar geral no ranking de vendas. O foco inicial tem sido a linha de SUVs híbridos da marca Haval, especificamente o Haval H6 (híbrido e híbrido plug-in), que foi o primeiro produto a marcar presença.

GWM deve iniciar produção em São Paulo nos próximos meses
GWM deve iniciar produção em São Paulo nos próximos meses Imagem: Divulgação

Seu único automóvel 100% elétrico atualmente à venda no Brasil é o Ora 03, que compete com o Dolphin. O GWM Tank 300 é outra opção PHEV e será acompanhada dd picape Poer, que terá produção nacional.

Já estão no cronograma novos modelos como o Haval H4 e a submarca Wey (linha premium).

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- Caoa Chery: a joint venture formada pelo Grupo Caoa e a Chery se estabeleceu no Brasil em 2018, ainda com foco em carros movidos a combustíveis fósseis.

Atualmente, a Caoa Chery produz em Anápolis (GO) modelos como os SUVs da linha Tiggo - com versões híbridas leves e plug-in..

Tiggo 7 Sport: maior sucesso da Caoa Chery é modelo a combustão
Tiggo 7 Sport: maior sucesso da Caoa Chery é modelo a combustão Imagem: Divulgação

Em 2024, a Caoa Chery emplacou cerca de 50 mil veículos no Brasil - volume que lhe garantiu o 11º lugar no ranking geral de vendas no ano passado. Os próximos passos incluem o novo Tiggo 9 e atualizações de seus produtos já vendidos.

Também há planos para o lançamento da submarca de luxo Exeed.

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- JAC Motors: pioneira da "primeira onda" de chinesas no Brasil (chegou em 2011), a JAC Motors passou por transformações recentes em sua estratégia, que era focada em carros elétricos como e-JS1 e e-JS4, além de veículos comerciais.

Enfrentando vendas modestas, a empresa recuou da ideia de vender somente elétricos e voltou a apostar também em motores a combustão com picape média a diesel T8 Hunter.

JAC e-JS1 chegou a ser o carro elétrico mais vendido do país em alguns meses
JAC e-JS1 chegou a ser o carro elétrico mais vendido do país em alguns meses Imagem: Divulgação

A marca opera em regime de importação independente, tocado pelo empresário Sergio Habib. Mesmo assim, a JAC mantém presença em nichos específicos como o segmento de veículos comerciais leves elétricos.

- Omoda Jaecoo: a empresa que acaba de iniciar vendas de veículos no Brasil pertence ao grupo Chery e suas operações locais não têm ligação com a Caoa.

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A marca Omoda foca produtos de apelo jovem e tecnológico, ao passo que a Jaecoo se dedica a produzir e vender SUVs mais robustos e requintados.

Jaecoo e Omoda são marcas chineses, mas com foco total em mercados estrangeiros
Jaecoo e Omoda são marcas chineses, mas com foco total em mercados estrangeiros Imagem: Divulgação

Dois modelos iniciais chegaram juntos: o Omoda E5 (SUV cupê 100% elétrico) e o Jaecoo 7 (SUV médio híbrido plug-in). Ambos são importados da China inicialmente, mas a empresa confirma que pretende nacionalizar produtos nos próximos dois anos.

A estratégia das duas marcas é lançar de oito a dez modelos até 2026 no país, incluindo opções elétricas, híbridas e até flex.

- Zeekr: marca de carros elétricos de luxo do grupo Geely, a Zeekr iniciou operações discretamente no Brasil em 2024, com SUV compacto Zeekr X (R$ 272 mil) e a perua Zeekr 001 (R$ 495 mil).

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Em breve, a 001 ganhará uma versão esportiva de 1.265 cv e R$ 1.510.000. Com valores elevados, as vendas são mais modestas: 280 unidades até aqui. O aporte da Geely, entretanto, permite a operação nichada.

Zeekr X
Zeekr X Imagem: Divulgação

Mesmo assim, o conglomerado tem planos de seguir a expansão nacional coma Lynk & Co, uma outra submarca que, a grosso modo, traz opções mais joviais para os carros da Volvo.

É possível que a Lynk & Co enfatize carros híbridos conectados e modelo de vendas por assinatura. A Zeekr, por sua vez, priorizaria luxo e alta performance.

GAC Aion Y é SUV elétrico a partir de R$ 174.990 com 4,53 m de comprimento e 318 km de autonomia
GAC Aion Y é SUV elétrico a partir de R$ 174.990 com 4,53 m de comprimento e 318 km de autonomia Imagem: Divulgação
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- GAC Motor: A GAC (Guangzhou Automobile Group) acaba de chegar ao Brasil e anunciou nesta sexta-feira (23) seus primeiros modelos em nosso mercado.

Sexta maior montadora da China, a empresa inicia suas operações locais com cinco modelos eletrificados: quatro elétricos e um híbrido, sendo quatro SUVs e um sedã. Os preços começam em R$ 169.990 e chegam a R$ 349.990

A meta de vendas é ousada: a GAC planeja vender oito mil unidades até dezembro de 2025, com expectativa de que o número chegue a 29 mil carros no próximo ano.

Com vendas a partir deste sábado, a GAC contará com 33 concessionárias e 50 pontos de venda em shoppings. A expectativa da montadora é de que o número chegue a 120 pontos até o fim do ano.

Marcas chinesas que já foram embora

Ainda que a nova onda de montadoras chinesas mostre força, houve casos de insucesso recente. As duas principais baixas desde 2020 foram a Lifan e a Seres:

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- Seres: a montadora iniciou vendas no Brasil em julho de 2023 e ficou apenas até meados de 2024, em regime de importação independente. A companhia apresentou o SUVs elétricos Seres 3 e Seres 5, mas sofreu com preços pouco competitivos e assumida falta de experiência dos empreendedores.

No final do ano passado, encerrou as operações após ter vendido oito carros. Seus antigos importadores, entretanto, afirmaram que a gigante Dongfeng (uma das donas da marca) pretende tentar uma nova entrada da Seres no Brasil, com modelos mais recentes.

Neta: chinesa fica ou vai embora?

Compacto 100% elétrico é um dos modelos que a Neta anunciou no Brasil; marca passa por dificuldades
Compacto 100% elétrico é um dos modelos que a Neta anunciou no Brasil; marca passa por dificuldades Imagem: Divulgação

A startup Neta Auto detalhou sua chegada ao Brasil durante o Festival Interlagos de 2024, quando exibiu seus modelos e até os respectivos preços.

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Três carros foram lançados, mas o momento financeiro conturbado na China vem atrapalhando os planos na América do Sul.

Nas últimas semanas, a Neta começou a desativar perfis brasileiros nas redes sociais e, segundo a revista Quatro Rodas, concessionárias da marca tiveram a abertura cancelada pouco antes de ficarem prontas.

A Hozon Auto - controladora da Neta -afirma que as especulações de falência decorrem de problemas jurídicos e que mantém planos de grande expansão para o mercado brasileiro.

Montadoras chinesas que estão chegando

Picapes elétricas estão no alvo da gigante Geely
Picapes elétricas estão no alvo da gigante Geely Imagem: Divulgação

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- Changan Automobile: ausente desde 2016, a Changan confirmou que retornará ao Brasil como parte de sua expansão global. A subsidiária brasileira será a base sul-americana da marca, que focará SUVs elétricos com tecnologia proprietária.

Um desses produtos é o Avatr 11 - SUV elétrico desenvolvido em parceria com Huawei - que já foi flagrado em testes em São Paulo. Embora não haja data exata divulgada, a expectativa é de lançamento de modelos a partir de 2025.

A Changan não confirma ainda se terá produção local e ainda não deu maiores detalhes sobre seus produtos no Brasil.

- MG Motor: criada na Inglaterra há 101 anos, a MG pertence a outra gigante chinesa, a Saic Motors, e deve chegar ao Brasil em 2025, após breve período de importação limitada na década passada.

Modelos já estão em processo de homologação, como o hatch elétrico MG 4 que, na Europa é bem avaliado como rival do VW ID.3. Até o momento, não há confirmação de fábrica no Brasil, e a MG deve disputar segmentos mais baratos de carros elétricos e híbridos.

- Grupo Geely: além de Volvo, Zeekr e Lynk & Co, o conglomerado da Geely ampliará sua presença nacional com a Polestar, submarca esportiva da montadora sueca que terá operação própria.

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Também serão vendidos os carros da própria Geely e a picape Riddara, que busca dar vazão à nova tecnologia do conglomerado, que vem aumentando a aposta em picapes elétricas de médio porte ou menores.

Também haverá fábrica no Brasil, com expectativa de alto volume e localização ainda não oficializada.

- Leapmotor: startup chinesa de elétricos, a Leapmotor ganhou holofotes ao fechar em 2023 uma parceria estratégica com a Stellantis. É a oportunidade de usar a liderança da China junto à infraestrutura de Fiat, Jeep, Citroën, Peugeot e Ram - marcas ocidentais que não conseguem igualar a competitividade oriental.

O subcompacto elétrico T03 chegaria para concorrente com o BYD Dolphin, mas sua vinda foi abortada. Quem chega primeiro é o SUV C10, seguido B10 e do sedã B01, que pode concorrer com o BYD Seal.

Com a economia de escala da Stellantis, também há escala para apostas alternativas, como o segmento de assinatura veicular e aluguel para frotistas, além de ampla rede de concessionários.

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