Último papamóvel do papa Francisco dispensa blindagem e não gasta gasolina

Em sua última aparição pública em vida, no Domingo de Páscoa (20), no Vaticano, o papa Francisco foi visto a bordo de um SUV branco da Mercedes-Benz, adaptado para transportar o pontífice em eventos.

O último papamóvel utilizado pelo líder religioso foi presenteado a ele pela montadora alemã em dezembro do ano passado e é baseado em um Mercedes-Benz Classe G EV, com tração 100% elétrica.

A própria Mercedes efetuou as modificações requisitadas pela Igreja Católica no veículo - a marca de automóveis de luxo produz papamóveis regularmente desde 1980, quando o então papa João Paulo 2º, hoje santificado, visitou a Alemanha. Antes disso, a Mercedes-Benz foi a primeira a fornecer um veículo de transporte comum à Santa Sé, em 1930.

Papa Francisco faz última aparição pública em vida a bordo de papamóvel no Domingo de Páscoa (s0), no Vaticano
Papa Francisco faz última aparição pública em vida a bordo de papamóvel no Domingo de Páscoa (s0), no Vaticano Imagem: Tiziana Fabi - 20.abr.25/AFP

O papamóvel atual é construído com base no Mercedes-Benz G580, cujos motores elétricos somam 587 cv e 118,7 kgfm, com tração nas quatro rodas.

Obviamente, só uma fração dessa performance é aproveitada andando a menos de 10 km/h, mas, segundo o Vaticano, o torque instantâneo foi muito útil para que o carro se locomovesse de modo lento, constante e sem trancos que poderiam machucar o religioso, falecido nesta segunda-feira (21) aos 88 anos.

De acordo com a Mercedes-Benz, a escolha de um carro elétrico para Francisco era clara, mas ficou ainda mais evidente quando os envolvidos no projeto leram da encíclica Laudato si, escrita por Francisco a sacerdotes e fiéis católico.

A carta de 2015 foi um dos documentos mais incisivos em seu papado e, em quase 200 páginas, criticou o consumismo e a despreocupação com o meio ambiente.

Papa João Paulo II no papamóvel feito à base do Mercedes-Benz 230 G tinhas placas do Vaticano com matrícula SCV 7
Papa João Paulo II no papamóvel feito à base do Mercedes-Benz 230 G tinhas placas do Vaticano com matrícula SCV 7 Imagem: Divulgação
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"A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam. Isto é particularmente agravado pelo modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis, que está no centro do sistema energético mundial", diz o documento.

Ainda que use o Classe G EV de base, o papamóvel pouco se parece com o jipe oferecido ao público em geral.

Isso porque, da segunda fileira para trás, quase tudo de original foi substituído por uma plataforma onde há o assento giratório elevado, do qual o Papa consegue acenar para todos os fiéis. Também há dois banquinhos, onde vão assessores e seguranças e que restou da porta traseira direita — cortada para seguir as linhas da cobertura, que protege somente contra chuva.

Interior do papamóvel elétrico da Mercedes-Benz
Interior do papamóvel elétrico da Mercedes-Benz Imagem: Divulgação

Após a tentativa de assassinar São João Paulo 2º, em 1981, ele e Bento 16I usaram um papamóvel blindado por décadas, mas Francisco aboliu a medida (a despeito da recomendação de forças de segurança).

O papamóvel elétrico da Mercedes é pintado em branco perolado, assim como interior, completamente neutro. O último papa foi categórico ao proibir qualquer tipo de ostentação no veículo, que seguirá em uso pelo sucessor.

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Lamborghini leiloado por caridade

Ao visitar o Brasil em 2013, papa Francisco utilizou versão mais antiga de um Mercedes Classe G adaptado
Ao visitar o Brasil em 2013, papa Francisco utilizou versão mais antiga de um Mercedes Classe G adaptado Imagem: Reprodução

Apesar da modéstia, Francisco ganhou um Lamborghini Huracán da marca italiana em 2018.

O argentino recebeu e abençoou o carro em evento público, mas, como já estava combinado, leiloou o superesportivo pelo equivalente a R$ 5 milhões em valores atuais.

O montante foi enviado a uma ONG que ajuda cristãos iraquianos vítimas de guerras, à fundação do Papa João 23 que protege mulheres vítimas de tráfico sexual e outras duas ONGs que combatem a pobreza na África.

Além disso, em viagens onde o papamóvel estava indisponível, Francisco fazia questão de utilizar alternativas baratas, como o Fiat Idea no qual encarou o trânsito do Rio de Janeiro em 2013.

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Jorge Mario Bergoglio também andou de Fiat 500L nos Estados Unidos e até de riquixá, quando foi a Bangladesh. No mesmo estilo modesto, seu principal carro para deslocamentos cotidianos entre o Vaticano e a cidade de Roma era um Ford Focus 2010, sem nenhuma adaptação.

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