Motorista atropelou pedestres no ABC a mais de 120 km/h, dizem peritos

O motorista que conduzia o Honda Civic que atropelou e matou duas jovens em uma avenida de São Caetano do Sul trafegava em velocidade superior a 120 km/h, conforme cálculos feitos por especialistas ao UOL Carros.

A conclusão é dos peritos criminais Rodrigo Kleinubing e Isaac Newton Lima da Silva, que desenvolveram um software específico para analisar acidentes de trânsito como esse. O programa de computador foi usado pelos engenheiros gaúchos junto aos registros das câmeras de segurança da avenida Goiás, onde o acidente aconteceu na noite de quinta-feira.

O que aconteceu

Brendo dos Santos Sampaio, de 26 anos e estudante de Direito, dirigia um Honda Civic por uma das avenidas mais movimentadas de São Caetano do Sul, na Região Metropolitana de São Paulo. A via tem velocidade máxima de 60 km/h e, segundo relatos de moradores, é comumente utilizada para "rachas" (corridas ilegais em vias públicas).

Honda Civic ficou destruído após impacto
Honda Civic ficou destruído após impacto Imagem: Reprodução

As imagens de câmeras de segurança mostram duas jovens de 18 anos — Isabelli Helena de Lima Costa e Isabela Priel Regis — atravessando a faixa de pedestres na avenida, cujo semáforo estava aberto para os carros. No meio da travessia, a dupla é atingida pelo veículo e arremessada a metros de distância. Ambas as jovens tiveram múltiplas fraturas e morreram no local.

O carro de Brendo

O veículo envolvido no acidente é um Honda Civic Touring, fabricado em 2019 e da linha 2020. O sedã utiliza motor 1.5 turbo que, de fábrica, rende 173 cv com velocidade máxima de 208 km/h.

Segundo a delegada Kelly Sachetto, entretanto, há suspeita de que o veículo tenha sido adulterado, a fim de incrementar sua performance esportiva. "Ele tinha dois escapamentos esportivos, alterações na parte estética, de aerodinâmica", afirmou ao UOL.

Honda Civic como o de Brendo atinge máxima de 208 km/h de fábrica; mesmo assim, veículo foi 'tunado', segundo a polícia
Honda Civic como o de Brendo atinge máxima de 208 km/h de fábrica; mesmo assim, veículo foi 'tunado', segundo a polícia Imagem: Divulgação
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O que dizem os peritos

Segundo Rodrigo Kleinubing e Isaac Pinheiro, é possível concluir que o Honda Civic viajava em velocidade superior a 123 km/h. As imagens analisadas já mostram o carro em processo de frenagem, de modo que é possível concluir que ele estava mais rápido anteriormente, ainda que não se saiba exatamente quanto.

"Utilizamos uma metodologia conservadora, que dá o benefício da dúvida ao condutor do veículo. Logo, sabemos que se for possível uma outra análise com maior precisão, a velocidade encontrada será sempre maior do que 123 km/h, nunca menor", disse Rodrigo.

"No início das imagens, o veículo já vinha perdendo velocidade. Por conta de todos esses fatores, é seguro dizer que ele vinha a uma velocidade maior do que 123 km", - Rodrigo Kleinubing, perito criminal especialista em acidentes de trânsito

O programa de computador desenvolvido junto a Isaac é capaz de extrair modelos tridimensionais e medições precisas a partir de fotos e vídeos comuns, corrigindo eventuais distorções nas imagens. Os registros também são analisados através de fórmulas físicas, que permitem mensurar diferentes aspectos do incidente.

Segundo especialistas consultados pelo UOL Carros, assim que a polícia constatar, oficialmente, que o carro estava acima da velocidade máxima da via (60 km/h), a culpa do atropelamento passa a ser de Brendo — independentemente de o semáforo estar fechado para pedestres e aberto para carros no momento da ação.

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"O motorista acaba assumindo o risco e pode ser imputada uma parcela de responsabilidade a ele", explica Marcelo Miguel, advogado especialista em leis de trânsito. "É o típico caso de dolo eventual, onde o agente deveria prever o resultado dos seus atos", completa.

A CNH de Brendo estava em vias de suspensão, devido ao acúmulo de 71 pontos por infrações de excesso de velocidade. O advogado Francisco Ferreira classificou o incidente como uma "fatalidade". "As vítimas de certo modo atravessaram ainda quando o semáforo estaria vermelho para ela, o meu cliente acabou não observando as vítimas", disse.

O motorista foi submetido, ainda na noite do incidente, a testes que não detectaram presença de álcool no organismo. Os elementos do caso, entretanto, se somam ao depoimento de uma testemunha, que teria visto o Civic disputando uma corrida ilegal com outro carro logo antes da batida.

A polícia investiga se Brendo estava envolvido em "rachas" naquela noite. "Estamos nos debruçando nas imagens das imediações, nas imagens antes do atropelamento. Vamos cercar todo esse perímetro para ver se tem outro veículo", explicou a delegada. "O racha é outro crime, independente do homicídio, com prisão de cinco a dez anos porque ocasionou em morte", disse a delegada Sachetto.

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