Neta X tem preço e potencial, mas marca chinesa precisa sobreviver

Como a Neta tem o X, um SUV elétrico moderno, tecnológico, espaçoso e, ao mesmo tempo, produz o Aya, um hatch com formato estranho e visual datado? Esta foi a pergunta que ficou na minha cabeça após dirigir cerca de 200 km o utilitário que é maior que um Jeep Compass e custa o mesmo que o Honda ZR-V: R$ 214.900.

Entro no carro e logo meus olhos são inundados por um tom de marrom que percorre todo o interior: painéis, console central, bancos, portas e volante. Chama atenção, definitivamente. A primeira impressão é de que se trata de um veículo com etiqueta de preço mais cara.

Além da cor que dá um ar premium, o acabamento surpreende com materiais de qualidade e finalização esmerada. Talvez, com o tempo, o proprietário fique enjoado do tom forte e chamativo. Mas, claro, dá para escolher um tom preto, mais sóbrio.

Outro ponto que merece destaque é o espaço interno, principalmente para quem viaja atrás. Os 2,77 m de entre-eixos, o mesmo de um Caoa Chery Tiggo 7, e os 1,62 m de altura garantem uma área grande (para pernas e cabeça) até mesmo para pessoas mais altas.

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O túnel central é plano e facilita a acomodação de uma terceira pessoa no assento do meio, que não tem tamanho reduzido. Saída de ar-condicionado e portas USB completam a boa experiência de sentar atrás. O comprimento é de 4,61 m - 15 cm a mais que um Toyota Corolla Cross, por exemplo. O porta-malas é robusto: 508 litros.

Coloco a alavanca de câmbio a la Mercedes-Benz, acoplada na caixa de direção onde, normalmente, estaria a haste do limpador de para-brisa, no "D" e o Neta X parte silenciosamente. Os primeiros quilômetros na cidade são de reconhecimento.

Os grafismos do painel de instrumentos com tela de 8,9 polegadas denunciam que é um carro oriental. São simplórios e me lembram aqueles minigames só com tetris. Ao menos ele é completo e traz diversas informações dos sistemas de segurança, bateria, autonomia e, claro, velocidade.

Um botão

Tento acender os faróis para tirar uma foto. Vou direto para o lado esquerdo do volante procurar, mas quem disse que encontro o comando de primeira? Pudera. Todas as funções do Neta X estão concentradas exclusivamente na grande multimídia com tela de 15,6 polegadas.

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Além das luzes, retrovisores, teto solar, climatização e outros itens são controlados exclusivamente na central. Mexer em alguma coisa demanda um certo tempo para achar na imensidão de funções e, muitas vezes, não é intuitivo. Há apenas um botão, o do pisca-alerta, que fica em uma posição também nada convencional: no teto.

Mais uma dezena de quilômetros dá pra perceber que a suspensão é firme, mas sem ser rígida, agrada na absorção das imperfeições do asfalto e não faz parecer que o SUV vai desmontar como em alguns carros chineses. Atrás, o conjunto multilink faz um trabalho excelente no conforto. O volante com o peso correto transmite uma boa sensação para quem dirige e não 'pede' correções a todo momento em linha reta.

Entrando em uma estrada sinuosa, o SUV se sente à vontade. A carroceria rola um pouco em curvas mais fechadas, mas nada que tira a confiança do motorista. O utilitário aponta sem complicações ou sustos. Em termos de desempenho, o Neta X não traz uma ficha técnica que se sobressaia. São módicos 163 cv e 21,4 kgfm de torque.

Em movimento, no entanto, a impressão é melhor. Não falta força para empurrar os 1.740 kg apesar dos 9,5 segundos para atingir os 100 km/h. Ultrapassagens e retomadas são feitas sem complicações e sem precisar de muito espaço - é válido colocar o modo de condução no Sport nessas ocasiões.

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Com bateria de 64,1 kWh, o SUV elétrico da Neta consegue rodar 317 km, de acordo com o Programa de Etiquetagem Veicular (PBEV). Um alcance considerável para rodar na cidade e viagens, digamos, curtas. O problema' é que a recarga em corrente alternada (AC) só pode ser feita até 6 kWh (não muito diferente dos rivais), o que levaria mais de 10 horas para encher o 'tanque'. Já em corrente contínua (DC) a capacidade sobe para 88 kwh.

E, como todo carro chinês, o preço competitivo vem acompanhado de uma lista de equipamentos recheada, como dispositivos de segurança, como seis airbags, controle de cruzeiro adaptativo, frenagem automática de emergência, alerta de mudança e permanência em faixa, detectores de desvio de atenção e fadiga e leitura de placas. Fora isso, há câmera 360°, sistema de monitoramento de pressão dos pneus e carregador por indução.

Vale ressaltar que falo da versão topo mais cara. A inédita marca chinesa ainda comercializa outras duas opções, de R$ 194.900 e R$ 204.900, respectivamente. Seu concorrente direto é o compatriota BYD Yuan Plus, de R$ 235.800. Apesar de mais potente e rápido, o BYD tem 20 km de autonomia a menos de acordo com a medição do do Inmetro.

Sim, a marca chinesa passa por apuros em sua matriz, tendo uma queda de 98% nas vendas e demitido todo o departamento de pesquisa e desenvolvimento. Há falta de investimentos, atrasos de pagamentos a fornecedores e até promessas não cumpridas, como carros topo de linha com menos equipamentos que o anunciado.

A diferença abissal entre os dois carros elétricos que a Neta vende atualmente por aqui me traz um pensamento dúbio. Por um lado, com Aya, dá para entender a crise, polêmicas e críticas. Porém, a capacidade de fazer o X (e, claro, outros modelos, como L, premiado como o Carro do Ano 2024 na China), me dá um fio (muito fino, diga-se) de esperança que, talvez, a marca tenha uma salvação.

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