Rolê de carros destruídos zomba da PM e causa tumulto em rodovia de SP

Um encontro de carros em situação intencionalmente precária provocou tumulto e confronto com a Polícia Militar no último domingo (9), em São Paulo (SP). O "rolê dos sem topete" reuniu, segundo participantes, cerca de 150 veículos velhos e parcialmente destruídos, que foram detidos pela Polícia Rodoviária Estadual na rodovia dos Bandeirantes.

As imagens mostram veículos antigos, cujas modificações incluem, principalmente, a remoção do teto, tornando-os conversíveis improvisados (os sem topete, na gíria). Entre o conteúdo divulgado nas redes sociais, também há zombaria à tentativa da PM em detê-los.

Foi um rolê meio que para perder o carro, né? Todo mundo já sabia que iria dar merda

Alguns carros também chamaram atenção pela precariedade, como o Fiat Uno sem para-brisa, colunas e portas, que contava com um sofá no lugar do porta-malas para acomodar ocupantes. Os ocupantes viajavam sem cinto e absolutamente nenhuma proteção na via cuja velocidade máxima é de 120 km/h.

Ainda na Marginal Tietê, o grupo parou o trânsito e brincou de queimar borracha no asfalto
Ainda na Marginal Tietê, o grupo parou o trânsito e brincou de queimar borracha no asfalto Imagem: Instagram

Rota da confusão

O rolê dos sem topete surgiu de maneira descentralizada, a partir de grupos online que reúnem entusiastas da modificação caseira de automóveis antigos e baratos, explica um dos participantes, Márcio Duarte.

O comboio reuniu cerca de 150 carros, que saíram do bairro Jardim Imperador, na Zona Leste, com destino a uma praça de alimentação na rodovia dos Bandeirantes. "O rolê era parar em algum lugar da Bandeirantes, tomar um café e voltar para casa".

Ainda na Marginal Tietê, porém, há registros do grupo parando o trânsito para realizar os 'borrachões' — manobra de queimar os pneus no asfalto gerando fumaça. A caminho da principal rodovia do estado, os participantes também brincaram de bate-bate, destruindo retrovisores e outras peças de seus carros.

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Cientes do erro

De acordo com Márcio, que diz ter viajado de carona em um dos carros, o grupo já sabia que cometeria infrações de trânsito. "Foi um rolê meio que para perder o carro, né? Todo mundo já sabia que iria dar merda", conta, afirmando que, mesmo assim, se preocuparam com a segurança do evento.

"A ideia era ficar o mais organizado possível, não atrapalhar. Todo mundo no cantinho e em um horário escolhido por não haver tanto fluxo de veículos". Quanto ao Fiat Uno e outros veículos destruídos muito além da remoção do teto, Márcio diz que foi iniciativa própria do dono, que se excedeu. "Tem carro que abusou, né? A pessoa quer se destacar na internet"

Comboio dos sem topete se preparando para pegar a estrada
Comboio dos sem topete se preparando para pegar a estrada Imagem: Márcio Duarte/Acervo Pessoal

O especialista Marco Fabrício Vieira, assessor da presidência da CET-Santos, conselheiro do Cetran-SP e autor de livros na área de gestão de trânsito, explica que, só com base nas imagens, é possível constatar uma série de infrações de trânsito. Entre elas:

Conduzir o veículo sem qualquer uma das placas de identificação;

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Conduzir o veículo sem equipamento obrigatório ou estando este ineficiente ou inoperante (sem as portas e os vidros dianteiro e laterais; sem o limpador de para-brisas; sem faróis dianteiros e traseiros; sem os para-choques dianteiro e traseiro; sem cintos de segurança; sem retrovisor interno etc)

Conduzir o veículo em mau estado de conservação, comprometendo a segurança (veículo deteriorado, com para-choque danificado etc)

Deixar o condutor ou passageiro de usar o cinto de segurança,

Desobedecer às ordens emanadas da autoridade competente de trânsito ou de seus agentes:

Confronto com a PM

Diante de tantas irregularidades, a Polícia Militar Rodoviária deu ordem de parada ao comboio, que zombou dos agentes de segurança. Em outros vídeos, também é possível notar um carro destruindo um cancela de pedágio enquanto evadia as ordens dadas.

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Só quando a PM ameaçou atirar que alguns dos participantes pararam
Só quando a PM ameaçou atirar que alguns dos participantes pararam Imagem: Instagram

Só quando a PM ameaçou atirar, segundo Márcio Duarte, foi que o grupo aceitou parar no acostamento. "O cara falou: vai atirar? Então atira que a gente tá filmando", relatou, acerca de um outro participante do rolê.

Márcio não soube especificar, mas disse que dezenas de veículos foram apreendidos. Por falta de efetivo, supõe, não foi possível reter o resto dos "sem topete". Até onde se sabe, ninguém foi preso. UOL Carros entrou em contato com a Polícia Militar, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

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