BYD contrata construtora brasileira após denúncias em obras na Bahia

A BYD anunciou nesta quinta-feira (23) a contratação temporária de uma empresa brasileira para realizar adequações nas obras da fábrica de Camaçari (BA). O local está parcialmente embargado desde dezembro, após ação do Ministério Público do Trabalho (MPT) que resgatou 163 trabalhadores chineses em condições análogas à escravidão.

Segundo a marca chinesa, a Sepeng Engenharia foi contratada por 30 dias exclusivamente para ajustar as obras embargadas. A BYD ainda ressalta que a nova construtora não será a substituta da Jinjian, empresa chinesa que era responsável pelas obras e que teve seu contrato rescindido após as denúncias de maus-tratos.

A nova construtora colocará até 100 trabalhadores na obra, em sua maioria residentes de Camaçari. De acordo com a BYD, eles serão responsáveis pela sinalização da obra, instalação de áreas para descanso, implementação de medidas de proteção, além de regulamentação de normas para a realização das escavações.

Mudanças após denúncia

Em 23 de dezembro de 2024, uma força-tarefa composta pelo Ministério Público, Ministério do Trabalho, Defensoria Pública e Polícias Federal e Rodoviária encontrou os operários chineses vivendo em condições análogas à escravidão nas obras em Camaçari.

A fiscalização constatou situações como banheiros em quantidade insuficiente, sem reposição de papel higiênico e limpeza, e alimentos da cozinha armazenados próximos aos sanitários e a materiais de construção. Entre outras descobertas, alguns operários dormiam em colchões com 3 cm de espessura e tinham que beber água da torneira.

Imagem
Imagem: Agência Pública

Também foi constatada a exigência de jornadas de trabalho de até 70h por semana, sem folgas. A fadiga dos trabalhadores, somada ao uso de ferramentas sem qualquer medida de segurança, levou a diversos acidentes que foram ignorados pelos responsáveis, segundo o MPT.

Os operários eram terceirizados, e foram trazidos ao Brasil pela empreiteira chinesa Jinjiang. Alvo de investigações internacionais por violação de direitos humanos, a empresa fazia a retenção de passaportes e de 60% dos salários dos imigrantes, que são práticas relacionadas à escravidão moderna, segundo resoluções da Organização Internacional do Trabalho.

Continua após a publicidade

Na semana passada, a BYD anunciou mudanças no complexo. Além do fim do vínculo com a Jinjiang e a contratação de uma construtora brasileira, a montadora criou um comitê de compliance, formado por representantes da montadora, advogados, especialistas em Direito do Trabalho, consultores de engenharia e uma terceira parte, teoricamente sem viés.

Imagem
Imagem: Divulgação

Outra medida foi mudança no refeitório dos funcionários chineses, que passaram a usar o mesmo local dos empregados brasileiros - imagens divulgadas em novembro pela Agência Pública mostravam os asiáticos se alimentando em baldes, em instalações mal iluminadas e sem limpeza.

O MPT baiano iniciou um processo de regularização junto à marca, com uma das exigências sendo o alojamento imediato dos 163 operários em um hotel na região metropolitana de Salvador. Lá houve um mutirão onde os imigrantes foram atendidos e receberam CPFs a fim de acessar as verbas trabalhistas e indenizatórias — devidas retroativamente já que o trabalho foi, de toda forma, exercido.

O combinado é que eles ficassem lá até o retorno à China, com passagens e ajuda de custo equivalente a US$ 120 cedidos pelos contratantes. A BYD afirma que todos os 163 chineses já retornaram à Ásia, com todas as verbas rescisórias pagas pela Jinjiang.

Em paralelo, a BYD acrescenta que outros chineses que continuam exercendo diversas funções na Bahia também estão alojados em hotéis daqui em diante. Os estrangeiros ficarão assim até que novas moradias sejam construídas, "seguindo todas as normas brasileiras".

Continua após a publicidade
Imagem
Imagem: Divulgação

A empresa também divulgou imagens de como seriam as novas moradias dos funcionários, em cômodos com TV e ar-condicionado.

Consultado pelo UOL Carros, o Ministério Público do Trabalho disse que ainda não foi procurado pela montadora e aguarda a comprovação formal de todas as mudanças para oficializar o cumprimento do termo de ajustamento de conduta.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.