BYD anuncia mudanças em fábrica na Bahia após denúncias de maus-tratos

A BYD anunciou um pacote de medidas tomadas na construção de sua fábrica em Camaçari (BA), que busca atender às demandas do Ministério Público do Trabalho (MPT) após 163 trabalhadores das obras terem sido resgatados no mês passado em condições análogas à escravidão. Atualmente a obra está parcialmente embargada.

Segundo comunicado da empresa, a construtora chinesa Jinjiang (responsável por trazer os imigrantes asiáticos) será substituída por uma empreiteira brasileira, que cuidará das instalações mais problemáticas. A promessa da marca é de que haja uma espécie de auditoria interna com "total liberdade para atuar na correção de qualquer eventual problema que possa surgir".

A marca ressalta que para isso foi criado um comitê de compliance, que teve as primeiras reuniões e é formado por representantes da BYD, advogados, especialistas em Direito do Trabalho, consultores de engenharia e uma terceira parte, teoricamente sem viés.

Imagem
Imagem: Divulgação

Outra medida seria mudanças no refeitório dos funcionários chineses, que passaram a usar o mesmo local dos empregados brasileiros - imagens divulgadas em novembro pela Agência Pública mostravam os asiáticos se alimentando em baldes, em instalações mal iluminadas e sem limpeza.

Após força-tarefa em dezembro, o MPT baiano iniciou um processo de regularização junto à marca, com uma das exigências sendo o alojamento imediato dos 163 operários em um hotel na região metropolitana de Salvador. Lá houve um mutirão onde os imigrantes foram atendidos e receberam CPFs a fim de acessar as verbas trabalhistas e indenizatórias — devidas retroativamente já que o trabalho foi, de toda forma, exercido.

O combinado é que eles ficassem lá até o retorno à China, com passagens e ajuda de custo equivalente a US$ 120 cedidos pelos contratantes. A BYD afirma que todos os 163 chineses já retornaram à Ásia, com todas as verbas rescisórias pagas pela Jinjiang.

Em paralelo, a BYD acrescenta que outros chineses que continuam exercendo diversas funções na Bahia também estão alojados em hotéis daqui em diante. Os estrangeiros ficarão assim até que novas moradias sejam construídas, "seguindo todas as normas brasileiras".

Continua após a publicidade
Imagem
Imagem: Divulgação

A empresa também divulgou imagens de como seriam as novas moradias dos funcionários, em cômodos com TV e ar-condicionado.

Consultado pelo UOL Carros, o Ministério Público do Trabalho disse que ainda não foi procurado pela montadora e aguarda a comprovação formal de todas as mudanças para oficializar o cumprimento do termo de ajustamento de conduta.

Entenda o caso

Em 23 de dezembro de 2024, uma força-tarefa composta pelo Ministério Público, Ministério do Trabalho, Defensoria Pública e Polícias Federal e Rodoviária encontrou 163 operários chineses vivendo em condições análogas à escravidão nas obras da BYD em Camaçari (BA), onde será inaugurada a maior fábrica da montadora nas Américas.

Continua após a publicidade

A fiscalização constatou situações como banheiros em quantidade insuficiente, sem reposição de papel higiênico e limpeza, e alimentos da cozinha armazenados próximos aos sanitários e a materiais de construção. Entre outras descobertas, alguns operários dormiam em colchões com 3 cm de espessura e tinham que beber água da torneira.

Imagem
Imagem: Agência Pública

Também foi constatada a exigência de jornadas de trabalho de até 70h por semana, sem folgas. A fadiga dos trabalhadores, somada ao uso de ferramentas sem qualquer medida de segurança, levou a diversos acidentes que foram ignorados pelos responsáveis, segundo o MPT.

Os operários eram terceirizados, e foram trazidos ao Brasil pela empreiteira chinesa Jinjiang. Alvo de investigações internacionais por violação de direitos humanos, a empresa fazia a retenção de passaportes e de 60% dos salários dos imigrantes, que são práticas relacionadas à escravidão moderna, segundo resoluções da Organização Internacional do Trabalho.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.