Por que marcas correm contra o tempo para ter SUVs híbridos flex no Brasil
Por mais que os híbridos flex não sejam exatamente novidade, tendo sido introduzidos no nosso mercado em 2019, com o Toyota Corolla Hybrid, tais modelos são a bola da vez no Brasil.
Fabricantes já instalados no país ou que estão a caminho de inaugurar fábricas aqui correm contra o tempo para lançar esse tipo de tecnologias em seus veículos, o que inclui até modelos híbridos do tipo plug-in (recarregáveis na tomada). Dentre as explicações para esse fenômeno está a necessidade de colocar no mercado carros mais eficientes e menos poluentes, para atender as novas regras do governo brasileiro que vêm aí. O etanol, combustível sustentável que compensa na respectiva produção suas emissões, é um diferencial brasileiro crucial nessa equação.
Estamos falando dos novos limites de emissões do Proconve L8, que começará a valer no ano que vem. O programa será mais exigente de maneira escalonada nos anos seguintes, com endurecimentos previstos para as etapas de 2027, 2029 e 2031. Cada fabricante terá que responder às metas de menores emissões divididas pela linha inteira da marca, não modelo a modelo. Portanto, os híbridos terão que ter grande volume.
Aprovado no último dia 29, o Mover (programa de mobilidade verde) é outra explicação para esse movimento dos híbridos flex. O programa já foi votado pela Câmara dos Deputados e caberá ao Senado Federal analisá-lo.
A iniciativa é marcada pelo incentivo de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, principalmente as ligadas ao processo de descarbonização, prometendo descontos no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e também incentivos financeiros, além de prever a isenção de impostos de importação de peças não disponíveis no mercado nacional, como são os casos de muitos componentes de modelos eletrificados.
Caminho sem volta?
Conforme falado, a primeira companhia a introduzir um híbrido flex no Brasil e no mundo foi a Toyota, com o Corolla sedã - em 2021, a marca lançou o Corolla Cross Hybrid com a mesma tecnologia.
A marca japonesa é pioneira na oferta de carros híbridos no planeta - movimento que, em nosso mercado, começou com o Prius no distante ano de 2013.
"Era um carro híbrido a gasolina. Naquela época, a venda de eletrificados no Brasil não passava de 500 unidades por ano", relembra Roberto Braun, diretor de comunicação e presidente da Fundação Toyota.
O crescimento do mercado híbrido levou a marca a investir no desenvolvimento de um modelo flex do tipo. O processo de adaptação do carro de gasolina para bicombustível foi de 2016 a 2019, quando foram feitas as adaptações de calibração e de componentes. O fabricante também planeja colocar no mercado um híbrido plug-in flex que, por ora, está sendo testado em um RAV4.
Mais do que um projeto nacional, os híbridos bicombustíveis já se tornaram produtos de exportação da marca. Até mesmo o conceito está sendo analisado em outros países, nações que desejam seguir a solução de descarbonização brasileira.
"O conceito está sendo exportado para a Índia, onde eles estão fazendo um programa de aumento do etanol na sua gasolina, chegando até 20% de mistura até 2025. E já existem 400 postos de combustível ofertando E100, o que vai permitir que as montadoras presentes na Índia façam o lançamento de híbridos flex em um futuro próximo", analisa Braun.
A Toyota vai ampliar a oferta de SUVs híbridos bicombustíveis no Brasil no ano que vem, quando vai lançar o Yaris Cross com essa tecnologia e produção em Sorocaba (SP), integrando um ciclo de investimentos de R$ 11 bilhões na fábrica do interior paulista.
Novos SUVs híbridos flex vêm aí
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Quero receberFabricantes que, em breve, vão inaugurar suas fábricas no Brasil também estão investindo nessa tendência.
A GWM (Great Wall Motors) é uma delas. Com a fábrica de Iracemápolis, no interior de São Paulo, prevista para ser inaugurada no final do ano, a marca chinesa começará a produzir localmente seus primeiro modelos no início de 2025. Ainda não foi definido qual será o primeiro híbrido flex, mas ele será escolhido muito em breve.
"Vai ser o Haval H4 ou H6. Estamos indo para a China e devemos bater o martelo sobre qual é a decisão ideal, as duas [opções] são feitas na mesma plataforma. Na verdade, a intenção é depois fazer as duas. O anúncio será feito daqui a 15 a 20 dias", afirma Ricardo Bastos, diretor de relações institucionais e governamentais da GMW. O executivo afirma que o processo de desenvolvimento é um pouco demorado, pois a marca não tem laboratório no país, mas contou com parceiros especializados - dentre eles, a Bosch.
A rival BYD também tem a intenção de fazer híbridos flex em Camaçari, na Bahia. Uma fonte ligada ao fabricante afirma que a tecnologia "ainda não está sendo divulgada, mas está na mira da marca". O anúncio oficial não tardará muito.
Ricardo Bastos explica que a exigência do sistema flex varia de acordo com os preços do carro.
"Na medida em que você tem consumidores com volume representativo, eles querem flex. Quando ao nosso Haval, vale a pena ter flex, mas em carros de R$ 500 mil não vale. São necessários alguns milhões de reais em investimento [para adaptar o veículo à tecnologia flex]. A conta é fechada nos casos de carros que custam até R$ 300 mil. Ela se paga até o volume e, acima disso, a conta não fecha".
Outros têm híbridos flex em seus planos próximos. A Renault prepara o seu primeiro carro nacional com essa tecnologia, com vendas previstas para 2025.
A Stellantis lança ainda em 2024 seus primeiros carros com tecnologia Bio-Hybrid, como parte de um investimento de R$ 30 bilhões no Brasil, que devem ser Fiat Pulse e Fastback.
A Volkswagen também investirá em híbridos de vários tipos.
A Hyundai também anunciou investimento para o desenvolvimento de híbridos flex. Uma candidata a enveredar por esse caminho é a Chevrolet, entre outras marcas.
Híbridos leves flex vão predominar
Híbridos leves (mild hybrids) também serão desenvolvidos em escala cada vez mais acelerada.
Atualmente, a Caoa Chery se destaca por fazer SUVs com essa tecnologia de 48V associada ao sistema flex, incluindo os Tiggos 5X e 7, como também o Arrizo 6.
São três os tipos de híbridos.
O híbrido leve funciona com base em um super alternador, motor elétrico que é capaz de acionar vários sistemas. A voltagem pode ser de 12V ou 48V, mais cara. De acordo com Braun, ele oferece, em média, 5% de economia em relação a um carro puramente a combustão.
Os híbridos convencionais (ou plenos) têm motores a combustão e elétrico, que podem atuar individualmente ou combinados.
Já os plug-in tem propulsor elétrico mais potente, qualidade que se soma às baterias maiores para rodar mais tempo na eletricidade. Os preços sobem de acordo com a complexidade das tecnologias.
Vale reforçar que a economia com um híbrido pleno pode ultrapassar 30% na comparação com um carro flex ou gasolina. Aqui cabe uma questão: o sistema é capaz de compensar a perda de rendimento energético de motores a etanol, calculada em 30%. Seria um empate, porém, saudável, dado que as emissões ao longo da cadeia de produção de etanol são menores.
Por mais que o híbrido pleno seja um caminho certo, a popularização passa pelos híbridos leves.
"Vai ter um crescimento nos híbridos leves. A Stellantis está trabalhando nisso, a Volkswagen e a Renault também. Essas são as que já falaram. Tem a possibilidade, sim, de termos um crescimento maior. A rota tecnológica mais frequente será dos híbridos leves, porque eles podem ser montados na mesma linha de produção, é a mesma carroceria e você pode montar um motor totalmente a combustão ou um híbrido leve. Os outros híbridos para consumir etanol, que não é um projeto complicado, mas que demora um ano, um ano e meio", analisa Cassio Pagliarini, sócio da consultoria Bright Consulting.
Alguns fabricantes pretendem investir pesado nos três tipos de híbrido flex: mild, convencional e plug-in, o que inclui as marcas do grupo Stellantis.
"Uma das protagonistas deste investimento é a tecnologia Bio-Hybrid, que combina eletrificação com motores flex movidos a biocombustíveis (etanol) em três diferentes níveis, além de uma opção 100% elétrica", conclui Pagliarini.
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