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De Gol Ford a Voyage Bolinha: os Volkswagen secretos que você nunca viu

Na década de 1990, a Ford iniciou o projeto de um compacto fabricado sobre a base do VW Gol, mas ideia foi engavetada com o fim da Autolatina - Reprodução
Na década de 1990, a Ford iniciou o projeto de um compacto fabricado sobre a base do VW Gol, mas ideia foi engavetada com o fim da Autolatina Imagem: Reprodução

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

01/08/2022 04h00

Na indústria automotiva, é percorrido um longo caminho antes do lançamento de um veículo.

Dos primeiros esboços à construção de protótipos funcionais, designers, engenheiros e outros profissionais encaram meses de trabalho árduo que não tem garantia de aprovação pela diretoria da montadora. Muitos projetos são cancelados e nunca chegam às concessionárias.

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Durante os cerca de 40 anos nos quais trabalhou na Volkswagen, o designer Luiz Alberto Veiga, responsável pelo visual de carros famosos como Gol "Bolinha" e Fox, viveu intensamente essa realidade. Ele tem compartilhado com seus seguidores no Instagram e no Facebook uma série de carros cujo projeto ele comandou, mas não foram lançados.

São os carros secretos da VW, que incluem até uma versão do Gol com emblema da Ford, concebida nos tempos da Autolatina, união da marca norte-americana com a Volks que existiu entre 1987 e 1996 e rendeu carros "irmãos" comercializados pelas duas marcas no Brasil e em países vizinhos.

Confira.

Gol da Ford

Gol da Ford - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Esse projeto, que nunca ganhou as ruas, teria emblema da Ford, mas essencialmente seria um Volkswagen Gol de segunda geração, popularmente conhecido como "Bolinha".

Veiga publicou foto inédita, aparentemente de um modelo de clay, feito com argila, em tamanho real.

Nele, dá para ver as lanternas traseiras arredondadas e unidas por uma barra, seguindo o estilo dos modelos da Ford em meados dos anos 1990.

Reponsável pelo projeto de carros como Fox e Gol 'Bolinha', Luiz Alberto Vejga trabalhou na VW durante cerca de 40 anos - Divulgação - Divulgação
Reponsável pelo projeto de carros como Fox e Gol 'Bolinha', Luiz Alberto Vejga trabalhou na VW durante cerca de 40 anos
Imagem: Divulgação

De acordo com o designer, a ideia acabou azedando de vez a relação entre Volks e Ford, que em seguida encerrariam a joint venture chamada de Autolatina.

"A proposta de se usar a plataforma do Gol para gerar um "Gol da Ford" ajudou a acabar de vez com a Autolatina. Além de não estar no contrato original, o mercado brasileiro tinha melhorado muito e não fazia mais sentido dois concorrentes estarem juntos brigando entre si, dentro de casa. E este foi o fim", diz o designer na publicação.

Fiesta e Ka cumpriram o papel de modelos da entrada da Ford no Brasil até saírem de linha no ano passado.

Voyage Bolinha

Voyage Bolinha - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Dentre os projetos da Volkswagen que foram cancelados está o Voyage "Bolinha", baseado na segunda geração do Gol, que chegou ao mercado em 1994.

Com formas arredondadas e com ares de Logus, o sedã da Volkswagen baseado no Ford Escort dos tempos da Aurtolatina, o carro foi rejeitado pela alta cúpula da Volks.

Em seu lugar, seria lançado no fim de 1996 o Polo Classic, montado na Argentina com base no Seat Cordoba europeu.

Luiz Veiga afirma, na postagem que acompanha a foto acima, que a rejeição à proposta teve como pano de fundo "ciúmes e demonstrações políticas".

"Na mesma histórica apresentação em Wolfsburg [sede da VW na Alemanha], quando apresentamos a proposta da segunda geração do Gol (Bolinha), fizemos um Voyage "teórico", 2 portas, só como modelo de proporção", contextualiza o designer.

Voyage Bolinha e Polo Classic - Reprodução - Reprodução
Proposta de Voyage 'Bolinha' (esq.) ao lado do Polo Classic, que ganhou a preferência da alta cúpula da VW
Imagem: Reprodução

Veiga acrescenta que houve mais de uma tentativa de emplacar o Voyage "Bolinha", sem sucesso.

"Mais tarde fizemos outra tentativa de emplacar um Voyage, mas, depois de muita luta e decepções, por ciúmes e demonstrações políticas, o board acabou aprovando o Polo Classic, ainda por cima, montado na Argentina. Tenham certeza que na vida de um designer existem mais decepções do que vitórias, mas assim como um jogador, temos que estar, no dia seguinte, prontos para outra desafio".

O Polo Classic não fez sucesso e sairia de linha em 2002, após seis anos de vida. Já o Voyage retornaria somente em 2008, quando estreou a terceira geração do Gol, e permanece sem grandes mudanças até hoje - irá sair de linha, porém, até o comedo de 2023.

Kombi modernizada

Kombi modernizada - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Primeiro veículo fabricado pela Volkswagen no Brasil, que até hoje conta com uma legião de fãs, a Kombi saiu de linha no fim de 2013, por conta da obrigatoriedade de airbag duplo e freios ABS em carros novos vendidos no Brasil.

Quando foi aposentada, a perua estava havia muito tempo sem alterações significativas e trazia basicamente o mesmo visual lançado em 1976, quando estreou a geração "Clipper". Nesse meio tempo, ganhou teto elevado e porta lateral corrediça.

Antes de a Kombi morrer, Veiga e sua equipe buscaram atualizar a veterana e apresentaram sugestões para uma eventual reestilização, que nunca aconteceria.

"Juro que nós tentamos. Durante toda minha carreira, tentamos fazer um upgrade na velha senhora, mas, no fim, as novas exigências de segurança determinaram o fim de produção de um dos mais inteligentes automóveis de trabalho de todos os tempos", elogia.

A foto acima mostra duas ideias diferentes para modificar a dianteira da Kombi: uma com novos piscas abaixo do para-brisa e faróis arredondados em forma de gota; a outra segue estilo inspirado na Transporter europeia, com faróis semelhantes aos do Gol "Chinesinho" de primeira geração.

Kombi modernizada interior - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Luiz Alberto Veiga também revelou aquele que poderia ter sido o novo interior da Kombi, trazendo painel com formas arredondas e elementos do Gol, como o volante e também os mostradores do painel.

Contudo, o modelo seguiu basicamente com o mesmo interior, muito mais simples do que na foto acima, até a sua despedida.

E você, o que achou?

Facelift do Golf 4

Facelift do Golf 4 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Conhecido como "Sapão", o Golf de quarta geração foi o primeiro a ser fabricado no Brasil, a partir de 1999, em São José dos Pinhais (PR) e fez bastante sucesso no país.

Só que ele ficou bastante tempo sem modificações, enquanto a Volks desistiu de lançar aqui a quinta geração do hatch médio, que estreou na Europa em 2003 e ficaria cara demais para ser montada localmente.

O jeito, então, foi partir para um facelift do Golf 4.

Veiga apresentou uma primeira proposta de redesenho, que você confere acima e teve até protótipo fabricado - contudo, ela foi rejeitada pela direção da VW.

"Fizemos esta proposta de facelift do Golf, que foi apresentado a representantes do board alemão como uma solução "barata" para uma modernização do modelo no Brasil. Após a apresentação, recebemos ordens de esconder e destruir o modelo", conta o designer nas suas redes sociais.

Ele acrescenta que a atualização representaria "um grande impacto visual com muito pouco investimentos e mudanças", enquanto a Alemanha estava desenvolvendo "um Golf completamente novo, até o último parafuso, com um custo astronômico".

Luiz Veiga acredita que a ideia apresentada por seu time "poderia levantar questionamentos quanto à necessidade de um modelo alemão completamente novo".

"Para o Brasil, a decisão foi ruim, porque continuamos com um modelo desatualizado e não tivemos dinheiro para produzir aqui o novo Golf, mais uma vez, devido aos grandes investimentos necessários, versus nosso mercado, sempre vacilante e traiçoeiro", conclui.

A VW lançaria no Brasil em 2007 o Golf "4,5", uma reestilização que trouxe boa parte das ideias anteriormente apresentadas por Veiga e que sobreviveu até 2013, quando finalmente a VW trouxe ao país a sétima geração do Golf - inicialmente importada da Alemanha e depois produzida no Paraná, até sair de linha em 2019.

Os europeus hoje têm o Golf 8, que não tem previsão de lançamento em nosso mercado.

Facelift do Logus

Facelift do Logus - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Lançado em 1993 com base no Ford Escort de quinta geração, o Logus é mais um produto da Autolatina.

Substituto do VW Apollo, que por sua vez era um Ford Verona com emblemas da Volkswagen, o Logus tinha carroceria de duas portas e convivia com o Pointer - outro derivado do Escort vendido pela marca alemã, disponível com quatro portas.

Em meados dos anos 1990, antes de Volkswagen e Ford decidirem encerrar a Autolatina, Luiz Veiga e seu time ainda trabalhavam em uma reestilização do Logus.

Veiga publicou uma foto do que poderia ser o Logus reestilizado, visto de traseira no estúdio de design da Volks na fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP).

A imagem revela a tampa do porta-malas mais arredondada e lanternas redesenhadas.

"Antes do fim da Autolatina, trabalhamos em um facelift do Logus e Pointer e estudamos um SUV já prevendo, muito antes, está onda que tomou conta do mundo automobilístico", diz o chefe de design na publicação.

A renovação de Logus e Pointer não aconteceu e a dupla deixaria de ser produzida em 1996. Já o SUV "brasileiro" não ganhou as ruas naquela época: a Volkswagen lançaria o T-Cross, seu primeiro utilitário esportivo fabricado no Brasil, apenas em 2019.

Santana Picape

Santana Picape - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Hoje, a Fiat Toro é sucesso de vendas, maior do que picapes compactas e menor do que as médias.

No fiim da década de 1980, a Volkswagen estudou o lançamento de uma picape com proposta semelhante, trazendo caçamba espaçosa e cabine simples.

O conceito foi concebido a partir do Santana, o sedã médio que a VW comercializava naquela época.

O projeto foi além dos esboços e dos modelos em argila e, a julgar pela foto acima, teve pelo menos um protótipo fabricado.

Santana Picape desenho - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

"Está proposta de uma picape derivada do Santana foi realizada inteiramente pela área de protótipo da Ala 17, com algumas recomendações da nossa área", explica Veiga em postagem no Instagram e no Facebook.

O designer justifica a razão de a ideia de uma picape do Santana não ter ido adiante.

"No fim, como em muitas outras investigações, o projeto não atingiu um retorno financeiro necessário para justificar os grandes investimentos".

A Volks não teria desistido de ter uma picape de porte intermediário e apresentou no Salão do Automóvel de 2018 o conceito Tarok, que até hoje não foi confirmado para produção em série.

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