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GNV mortal: acidente no RJ prova que seu carro pode virar bomba sobre rodas

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo

27/07/2022 11h43

Com o preço da gasolina nas alturas, a instalação de kits GNV tem aumentado devido ao preço mais acessível do gás natural veicular. A busca por economia, porém, exige cuidados. Se não seguir critérios rígidos de segurança previstos na legislação, a conversão para GNV pode transformar seu carro, literalmente, em uma bomba sobe rodas.

Um exemplo foi o acidente que aconteceu ontem no Rio de Janeiro, onde um Peugeot 207 sedã explodiu durante abastecimento e provocou a morte do motorista Mário Magalhães da Penha, de 67 anos. A causa ainda é investigada, mas frentista afirmou que o cilindro estaria enferrujado.

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De acordo com Everton Lopes, mentor em tecnologia de energia a combustão da SAE Brasil, o GNV requer cautela por ser acondicionado sob altíssima pressão, muitas vezes dentro do habitáculo do veículo. Portanto, qualquer vazamento do combustível pode ser catastrófico.

"Na maioria das vezes, o kit não é item original de fábrica e muitos usuários fazem adaptações, como instalar posteriormente cilindro adicional sem a certificação exigida. Trata-se de uma grande quantidade de energia mantida sob pressão elevada, em torno de 200 bar", explica.

Por essa razão, há 20 anos os cilindros para armazenamento do gás têm de trazer obrigatoriamente um selo de certificação do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).

Requalificação de cilindro e inspeção anual

Chevrolet Camaro com GNV 1 - Reprodução - Reprodução
GNV atrai por ser o combustível mais barato, mas não dá para descuidar da segurança
Imagem: Reprodução

Não bastasse isso, a cada cinco anos cada cilindro instalado deve passar pelo teste de requalificação, para constatar eventuais vazamentos e se ainda está próprio para uso. A avaliação deve ser realizada exclusivamente por empresa certificada por organismos acreditados pelo Inmetro.

Para completar, veículos convertidos para GNV só estão autorizados a rodar em vias públicas se portarem o CSV (Certificado de Segurança Veicular).

Esse certificado é emitido após inspeção por empresa acreditada pelo Inmetro e licenciada pelo respectivo Detran (Departamento Estadual de Trânsito), com o CRI (Certificado de Registro de Instalador) válido. A vistoria deve ser realizada em até cinco dias após a instalação do kit.

Além disso, o CSV deve ser renovado anualmente, com a realização de nova inspeção. Sem ele, o licenciamento do automóvel é bloqueado.

Everton Lopes explica o que é avaliado na vistoria:

"Verifica-se os itens mais críticos, a começar pelo cilindro. Também são checadas as condições da válvula de abastecimento, do redutor de pressão, das tubulações e até do suporte do cilindro", diz o engenheiro.

Lopes esclarece que todo o sistema de GNV requer o redutor, pois o gás é injetado para queima no motor em pressão muito menor daquela verificada dentro do cilindro.

Principais causas de explosão

Além da instalação em local não autorizado, outra prática que traz riscos, informa o Inmetro, é a manipulação indevida dos componentes do kit por empresas ou pessoas não capacitadas ou não autorizadas a fazer o serviço. A falta de manutenção preventiva ou corretiva do sistema é outra causa de incêndios e explosões.

O Inmetro alerta, ainda, que a pressurização do gás acima dos limites regulamentados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) também é um fator de risco.

O órgão certificador alerta que o uso de cilindros impróprios para o armazenamento do GNV, como botijão de GLP (gás de cozinha), ou de cilindros recondicionados fora das especificações, pode causar problemas.

Cuidado na hora de abastecer

abastecimento veículo GNV - Ricardo Borges/Folhapress - Ricardo Borges/Folhapress
Abastecimento de veículo GNV; veículo deve ser aterrado durante o procedimento, diz Inmetro
Imagem: Ricardo Borges/Folhapress

No ato do abastecimento em posto de GNV, o usuário deve evitar: fumar; permanecer dentro do veículo; ficar próximo do ponto de abastecimento; e utilizar telefone celular e outros aparelhos elétricos ou eletrônicos. Também é recomendado observar na bomba a pressão utilizada: deve ser de 200 bar, com tolerância de 10% para cima.

"Caso a pressão de abastecimento ultrapasse o valor especificado, o abastecimento não pode ser realizado", diz o órgão.

Não deixe de observar se o frentista está utilizando o sistema de aterramento no veículo.

O que fazer em caso de vazamento

No dia a dia, caso seja notado vazamento de GNV, por meio do cheiro característico do gás, feche imediatamente a válvula do cilindro de armazenamento.

Logo em seguida, caso o veículo não rode exclusivamente com gás natural veicular, leve-o a um instalador registrado pelo Inmetro, de preferência naquele que realizou a instalação do sistema, para inspeção e realização dos reparos necessários.

E se pegar fogo?

GNV incêndio explosão - Reprodução - Reprodução
Em 2019, veículo com kit GNV explodiu dentro de garagem; negligência traz alto risco
Imagem: Reprodução

Caso o incêndio já tenha começado, o veículo deve ser desligado, as pessoas devem sair dele e se afastarem o máximo possível. O Corpo de Bombeiros deve ser imediatamente acionado. Quanto ao uso do extintor, este deve ser do tipo ABC, caso esteja disponível (é opcional para veículos de passeio). "Se o incêndio for de pequena proporção, pode ser utilizado", diz o Inmetro.

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