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Macumber: motorista de app faz sucesso ao levar religiosos para despachos

Edson Macumber fazia o transporte de religiosos, instrumentos, despachos e outras peças - Arquivo Pessoal
Edson Macumber fazia o transporte de religiosos, instrumentos, despachos e outras peças Imagem: Arquivo Pessoal

Colaboração para o UOL

20/07/2022 04h00

A atitude corriqueira de pegar um ônibus, táxi ou carro de aplicativo para ir a um culto religioso parece simples, mas não é assim para todos. Para fiéis de religiões de matriz africana, por exemplo, a saída para uma cerimônia pode ser acompanhada de preconceito e dificuldade de encontrar um transporte. Para atender a essa demanda reprimida, um motorista de aplicativo decidiu se especializar nesse tipo de serviço, levando religiosos e seus instrumentos para despachos, saídas de santo e outros rituais.

Edson Edson Araújo, o "Macumber", virou sucesso nas redes sociais ao publicar um anúncio de seu trabalho com a frase "vai para saída de santo e não tem como voltar? Macumber é a solução".

Integrante do candomblé, ele explica que o serviço foi uma resposta a toda intolerância religiosa que já viveu quando estava indo aos rituais.

"No transporte coletivo, as pessoas não queriam ficar do meu lado por causa das vestimentas brancas. Quando ia pedir um carro de aplicativo, ao ver a roupa, o motorista não parava e cancelava a corrida, fora as ofensas na rua. Nunca foi simples. Quando me tornei motorista de aplicativo, pensei em ajudar os irmãos que sofrem com esses preconceitos", conta.

Foi então que Edson começou a divulgar os seus serviços para transporte de religiosos, instrumentos, cumbuca, santos, despachos e outras peças.

"A demanda começou a crescer, hoje já tenho motoristas parceiros e sonho em criar uma empresa especializada. É horrível sair para um despacho e não saber se vai conseguir transporte, por exemplo. É muito preconceito", explica Edson, que tira 90% de seu sustento do transporte de religiosos - o restante vinha de outros aplicativos.

O sucesso foi tanto que sua esposa, Erika Ponciano, passou a trabalhar exclusivamente com a marcação das corridas. Além das religiões de matriz africana, Edson começou a ser procurado por fiéis de outras religiões - como muçulmanos, que também sofriam preconceito por conta de suas vestes.

Segundo Edson, que atua no Rio de Janeiro, Baixada Fluminense, Região Serrana e sul fluminense, o trabalho, além de fonte de renda, também é um grito contra a intolerância religiosa. No Instagram, Edson já acumula quase 4 mil seguidores e um alto engajamento dentro do candomblé.

O veículo, recuperado pela polícia, foi batido pelos bandidos e está sem condições de rodagem - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O veículo, recuperado pela polícia, foi batido pelos bandidos e está sem condições de rodagem
Imagem: Arquivo Pessoal

Vítima de crime

Na última semana, no entanto, um contratempo interrompeu o sonho do negócio próprio. Na última sexta-feira (15), Edson teve seu carro roubado no bairro Abolição, Zona Norte do Rio de Janeiro. O motorista estava com uma passageira no veículo quando foi abordado por dois bandidos, que levaram o veículo.

No mesmo dia o carro foi recuperado, mas havia sido batido e estava sem condições de rodagem. Sem o instrumento de trabalho, precisou contar com a solidariedade de seus apoiadores para manter as contas em dia.

"O meu carro é segurado por uma cooperativa, mas os trâmites são muito mais demorados do que o de uma seguradora comum. Não sei quantos meses ele ficará parado. Para seguir trabalhando, vou precisar alugar um outro veículo, mas continuarei pagando a parcela do meu carro financiado e ainda uma porcentagem do conserto", conta Edson, que também teve celular e carteira com documentos roubados.

Para ajudar a pagar as contas, Edson Macumber criou uma vaquinha online, que em apenas alguns dias já reuniu mais de cem doadores e quase R$ 6 mil. A meta é chegar a R$ 65 mil, que seria o valor do carro batido, um Volkswagen Voyage 2018. "Assim como meu trabalho, a vaquinha se tornou um símbolo da luta contra a intolerância religiosa".

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