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Bolha estourou? Por que já passou da hora de lucrar com seu carro usado

Luiz Carlos Murauskas
Imagem: Luiz Carlos Murauskas

Paula Gama

Colaboração para o UOL

25/05/2022 04h00

Quando o assunto é mercado automotivo, a elevação de preço dos carros usados em 2021 tomou conta das rodas de conversas dos brasileiros. A escassez de componentes para a produção de carros novos fez com que os usados subissem quase 22% no período, mas o cenário começa a mudar. Os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril mostram que o preço dos carros usados teve queda de 0,47%, a primeira vez em 21 meses.

Apesar de a queda ser tímida, outro dado do setor reforça uma mudança no jogo: segundo números da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), as transações de veículos usados retraíram 13,5% em abril em relação a março, o que faz com que o acumulado do ano esteja 21,2% abaixo do registrado em 2021, ano de recorde nas trocas de titularidade.

Foram comercializados mais de 3,7 milhões de veículos usados no acumulado do primeiro quadrimestre de 2022, contra mais de 4,7 milhões em igual período do ano passado. Ou seja, diferença de 1 milhão de veículos usados, que deixaram de ser negociados.

Para o consultor automotivo Ricardo Bacellar, os números refletem outro fenômeno: o empobrecimento do brasileiro médio. Para o especialista, os indicadores dão um sinal de alerta de que o mercado de carros usados voltará à normalidade de antes da pandemia.

"O primeiro fator é que os carros novos vão voltar a ser entregues normalmente, ainda que custando mais caro. Mas há algo ainda mais importante, enquanto o preço do carro usado subiu 22%, o brasileiro médio empobreceu 11%, de acordo com a Fipe. Temos um gap entre a renda das pessoas e o preço do carro. Na prática, o veículo ficou um terço mais caro", explica Bacellar.

Para continuar vendendo carros a todo vapor, só há uma saída para o mercado de usados, de acordo com o consultor: baixar os preços. "Em algum momento, o mercado vai precisar fazer um realinhamento de preços para continuar vendendo. Entre os carros novos não há muito espaço, porque o custo de produção continua crescendo, o que não acontece com usado, já que o custo já foi amortizado. Não há expectativa de que a renda do brasileiro suba, então haverá desequilíbrio entre a oferta e a procura."

Federações suavizam o cenário

O presidente da Fenabrave, Andreta Jr., avalia que a queda nas vendas de carros usados em abril não foi tão grave, já que o volume diário de transações se manteve estável.

"A queda de abril está, diretamente, relacionada à diferença de três dias úteis em relação a março, que teve 22 dias úteis, contra apenas 19 em abril. A média diária segue estável. No acumulado do ano, como 2021 teve o maior volume da história nas transações de usados, temos uma base de comparação alta, e ajustes deste tipo podem acontecer. De qualquer maneira, temos notado uma estabilização nos volumes", explica o presidente da Fenabrave, Andreta Jr.

Já o presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), Enilson Sales, diz que os preços devem cair, mas não drasticamente.

"As vendas realmente recuaram desde os três últimos meses de 2021, mas elas voltaram a se recuperar em março e abril de 2022. A redução de preço é um reflexo dessa queda, e é possível que caiam mais um pouco, mas não tão dramaticamente como nos meses iniciais do ano", pondera.

O presidente explica que a instituição atribui essa queda nas vendas ao momento econômico, que reúne fatores como inflação e combustível altos, guerra, disputa política polarizada e uma taxa de desemprego que está caindo aquém do esperado.

"Tudo isso se reflete num cenário não favorável para a economia como um todo. O mercado de carros usados, talvez, seja um dos segmentos que sofrem menos. Aposto em um equilíbrio com uma sutil queda de preço nos próximos meses, mas nada tão grave e acentuado", analisa.