Investimento? Por que carros da Porsche hoje rendem mais do que poupança
Desde o início da pandemia do coronavírus, os preços dos carros novos e usados têm disparado devido a fatores como flutuação do dólar e falta de chips e outros componentes, que afeta a produção de automóveis zero-quilômetro. A história não é diferente entre veículos de luxo, que chegam a estar ainda mais inflacionados, dependendo da marca e do modelo.
Quando se trata de carros caros e exclusivos, a Porsche é um dos expoentes dessa valorização, ao menos no Brasil.
Basta fazer uma rápida pesquisa para descobrir que modelos seminovos da montadora alemã hoje são oferecidos por consideravelmente mais do que o mesmo exemplar zero-quilômetro. A diferença pode passar de 30%, muito mais do que os rendimentos da caderneta de poupança.
Via de regra, carro não é considerado investimento. Contudo, há relatos de donos de Porsche que mal recebem o veículo e já o colocam para revenda, com a expectativa de lucrar algumas dezenas de milhares de reais.
Veja um exemplo: o 911 Carrera S Cabriolet zerado atualmente tem preços a partir de R$ 909 mil no site oficial da Porsche do Brasil, enquanto um exemplar 2020 com mais de 9 mil km rodados está anunciado por R$ 1.190.0000 - um acréscimo de 30,9%.
A título de comparação, o rendimento da poupança no ano passado foi de 2,11%, enquanto a inflação chegou a 4,52% no mesmo período - segundo o IPCA.
A longa fila de espera, combinada com a demanda bastante superior à oferta, são apontados como fatores decisivos para explicar o fenômeno da "inflação do Porsche".
"Dependendo do carro, a espera por um exemplar zero pode chegar a cinco meses, por conta da personalização do veículo pelo cliente. Tem proprietários que nem rodam ou usam muito pouco o carro e já o deixam em consignação para revender, sabendo que vão lucrar às vezes mais de R$ 100 mil, já pagando a comissão do vendedor. Rico quer ganhar dinheiro também", diz Pietro Consolini, diretor da loja multimarcas Wish, localizada na capital paulista.
"Mesmo rodando muito, é possível reaver o dinheiro pago e ainda obter algum lucro", complementa.
Para não ficar só no anúncio, ele conta que no ano passado vendeu um 911 Carrera 2018/2019 por R$ 520 mil e o cliente revendeu o mesmo veículo em 2021 por R$ 649 mil - um ganho de R$ 129 mil ou 24,8% em questão de alguns meses.
Conforme Consolini, outro fator que ajuda a valorizar tanto os Porsche seminovos é que a marca demorou mais do que outras a repassar o aumento do dólar ao preço final durante a pandemia. Muitos daqueles que encomendaram um veículo pagaram de acordo com o câmbio vigente meses antes da entrega, explica.
Procurada por UOL Carros, a Porsche do Brasil não comenta o comportamento do mercado de seminovos e usados, porém admite que a procura por automóveis novos da marca no País é maior do que a empresa atualmente consegue atender.
"De fato, hoje a demanda é muito maior do que nós podemos oferecer e isso é consequência do crescimento da marca no mercado brasileiro. Nosso objetivo é vender mais carros, oferecer mais estrutura e disponibilizar mais concessionárias e locais de serviços pós-vendas", afirma Rodrigo Soares, head de comunicação e porta-voz da Porsche no País.
Ainda de acordo com Soares, desde 2018 a marca tem batido recordes de vendas no mercado brasileiro e o mais recente foi registrado no ano passado, quando a companhia comercializou 2.487 unidades em plena pandemia.
O volume corresponde a uma alta superior a 35%, em relação aos emplacamentos no País em 2019, e a expectativa é de bater a marca do ano passado no fim de 2021.
O executivo acrescenta que mais de 90% das vendas efetuadas aqui são referentes a encomendas e que o preço a ser pago, nesses casos, é baseado na cotação do dia em que a reserva é oficializada mediante "cota de produção" - com assinatura do contrato de venda e pagamento de 10% de sinal.
O restante é pago à vista ou por meio de financiamento após a chegada do veículo ao Brasil.
'Carro não é investimento'
Apesar da alta valorização, que faz um 911 Turbo S de segunda mão hoje ser anunciado por R$ 2 milhões, valor mais de 30% acima do praticado pela Porsche para um exemplar novo, ainda assim carros não podem ser considerados um investimento.
Essa é a avaliação de Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos e professora de finanças da ESPM.
"Via de regra, automóveis não são investimento, salvo aqueles de coleção, em que pese o custo para mantê-los. No caso dos modelos da Porsche e de outros veículos de luxo, dá para dizer que representam uma possibilidade de ganho a curto prazo, porém com alto risco", avalia a especialista.
Segundo Pasianotto, trata-se de demanda reprimida, que não torna a compra e a revenda de veículos um investimento "sustentável".
"Não tem como saber quanto tempo vai durar essa situação, se o dólar manterá a cotação atual, se a marca vai em algum momento equalizar a oferta e a procura. Para ganhar dinheiro, antes é preciso ter certeza de que haverá compradores dispostos a pagar o que se pede", pondera.
Considerando a hipótese de um cliente esperar cinco meses para receber um Porsche zero e vendê-lo em seguida com ágio de 30%, a economista diz que esse é um ganho factível no mercado de ações.
"Existem ações que dão retorno de 10% ao mês, há fundos que chegam a 20% mensais. Contudo, esse grau de rentabilidade também tem alto risco e a exigência de você não mexer no dinheiro investido por pelo menos seis meses".
Se você quer lucrar comprando Porsche para revender, saiba que o modelo zero mais barato no configurador da marca hoje é o 718 Cayman, que custa R$ 455 mil. Já a opção mais cara é o 911 Turbo S Cabriolet, por R$ 1.559.000. Os valores mencionados ficam ainda mais altos com a adição de itens opcionais.
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