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Citroën trará novidades ao Brasil e aposta em eletrificação, diz CEO global

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Imagem: Divulgação

Joaquim Oliveira

Colaboração para o UOL

17/03/2021 04h00

Depois de uma carreira de sucesso trabalhando principalmente para a Renault/Nissan, Vincent Cobée mudou-se em 2020 para o Grupo PSA (agora Stellantis após a recente fusão com a Fiat Chrysler), onde se tornou CEO global da Citroën há pouco mais de um ano.

Tendo sobrevivido a um ano pandêmico caótico, ele acredita que a recuperação será construída com uma identidade de marca mais focada e uma aposta consistente na eletrificação.

Em entrevista ao UOL Carros, ele ainda prometeu investimentos no Brasil, onde muito em breve será feito um importante anúncio - recentemente a marca admitiu a chegada de um novo SUV compacto no segundo semestre.

Como a Citroën está se saindo no mercado brasileiro e quais são suas expectativas para o curto e médio prazo?

Estamos trabalhando em um plano de reestruturação para iniciar uma nova fase da Citroën no Brasil. Este plano, iniciado em 2018, envolveu a expansão da rede de concessionárias, oferta de serviços de alta qualidade e preparação para o lançamento de novos produtos.

Foi uma transformação baseada em eixos estratégicos ancorados no tripé da sustentabilidade, crescimento perene e satisfação do consumidor. Sua implantação foi fundamental para ganharmos eficiência e nos prepararmos para o futuro. E, em breve, teremos um anúncio muito importante para a Citroën no Brasil.

Está contente com a pegada industrial da Citroën no Brasil e na América do Sul?

A atividade da Citroën nessa região é sustentada por uma fábrica no Brasil (Porto Real) e uma na Argentina (Palomar). Há vários anos que todas as fábricas trabalham para melhorar seu desempenho para produzir carros competitivos para nossos clientes e todas as fábricas sabem que o desempenho é a melhor proteção para o Grupo e seus funcionários.

Ao criar a Stellantis, o Grupo também explicou que sua ideia de reforço de sinergias não se baseia no fechamento de qualquer planta resultante da transação. No entanto, passaram apenas dois meses desde que o novo Grupo foi criado e ainda é muito cedo para dar mais detalhes sobre a estratégia da Stellantis na América do Sul.

O Grupo Stellantis está juntando muitas marcas e algumas delas tradicionalmente pisaram em segmentos de mercado comuns e posicionamentos semelhantes. No seu caso, passa a ter a Fiat como meia-irmã. Isso vai obrigá-lo a reajustar a linha de modelos?

Quanto mais marcas você tiver, mais definida e confiável sua mensagem deve ser. Este é um caminho onde a Citroën tem sido forte e se tornará ainda mais forte e consistente.

Por outro lado, embora só esteja aqui há um ano e meio, a capacidade do Grupo PSA (agora Stellantis) de equilibrar a sinergética eficiência econômica com a diferenciação de marca é a melhor do setor e isso não é apenas uma opinião. Os números provam que estou certo (temos a maior margem de lucro operacional nesta indústria).

Se você pegar um Peugeot 3008 e um Citroën C5 Aircross notará que os carros são diferentes não apenas na aparência, mas também na maneira como se dirigem. E este é o caminho que precisamos seguir.

O primeiro semestre de 2020 foi muito difícil para a Citroën (as vendas globais caíram 45%) e depois houve uma ligeira recuperação no final do ano (cerca de 25% abaixo de 2019). Gostaria de ter seu comentário sobre isso e também se a Citroën foi afetada pela carência de chips que a indústria está enfrentando.

Dizer que a primeira metade do ano foi difícil é um grande eufemismo. Se podemos extrair algo de positivo daquele período é a grande resiliência que nosso Grupo demonstrou neste cenário caótico. E disponibilidade econômica, pois ainda conseguíamos ser o fabricante de automóveis mais lucrativo do mundo.

Fizemos o nosso melhor para preservar nossos funcionários, marca e clientes na crise pandêmica profunda e passando pela fusão da PSA e Fiat / Chrysler, o que diz muito sobre o quão bem-sucedido nosso Presidente Carlos Tavares tem sido.

Sobre a escassez de componentes eletrônicos, as montadoras sofreram com alguns dos cálculos dos fornecedores de nível Tier 2 e Tier 3, que previam que as vendas globais de automóveis seriam inferiores ao que realmente acabaram sendo. Felizmente fomos capazes de compensar a crise mais do que outros concorrentes, sendo mais ágeis e nos ajustando à situação, mas não posso dizer que em algum momento isso não nos prejudicará.

A covid-19 afetará tanto as vendas de carros que o canal online se tornará a regra, e não a exceção?

Claramente a pandemia acelerou algumas tendências que já estavam em seus estágios iniciais e a digitalização da compra é uma delas. O mesmo havia acontecido nos setores bancário e de reservas de viagens anos atrás e, em nosso caso, devido ao benefício dos test drives - em que é possível tocar e sentir o carro -, ainda era praticamente uma indústria analógica.

Os configuradores dos sites já estavam reduzindo o número de carros diferentes que o cliente considerava antes de sua decisão sobre qual comprar. Há alguns anos, o consumidor visitava seis concessionárias ao longo de todo o processo, hoje passa por apenas duas, em média.

Um dos modelos mais importantes do ano é o novo C4, que será lançado na Europa. A Citroën está procurando um novo cliente com esse tipo de carroceria crossover?

Nos últimos cinco anos a marca fez um importante reposicionamento, com carros de nova geração como o C3, o Berlingo, o C3 Aircross, o C5 Aircross, as vans comerciais. Mas também com novos serviços, que permitiram melhorar a competitividade da empresa.

Não é nenhum segredo que as carrocerias SUV e crossover têm alta demanda e estamos ajustando nossa oferta com essa prioridade em mente. No caso do novo C4, há uma evolução clara em termos de linguagem de design, juntamente com uma posição de assento mais elevada, um reforço do bem-estar e conforto a bordo.

E, é claro, a liberdade de escolher entre três sistemas de propulsão diferentes (gasolina, diesel e elétrico) com exatamente a mesma base de veículo. Por isso acredito que a Citroën está vivendo um momento muito positivo.

Você menciona a inovação como um dos atributos do novo C4, mas este é tecnicamente um veículo que você pode encontrar em duas ou três outras marcas do Grupo Stellantis...

Se você olhar os hatches do segmento C, encontrará veículos muito semelhantes: linha baixa, visual esportivo, atributos multiuso. Trazer carros com uma posição de assento mais elevada para o segmento C é, acredito, uma solução inteligente, porque optamos por manter a forma elegante da carroceria. De uma certa forma, proporcionando o melhor dos dois mundos.

Se esse crescimento acelerado da demanda carros elétricos se confirmar no curto prazo, a Citroën está industrialmente pronto para responder a isso?

Duas coisas acontecerão na vida do novo C4 que podem influenciar essa questão. Infraestrutura de carregamento e mentalidade do cliente por um lado, porque é importante entender que 350 km é alcance suficiente para 97% do uso.

O fato de o C4 a gasolina e o elétrico serem construídos na mesma linha de montagem, em Madri, nos permite ser bastante flexíveis. Hoje existe uma linha de submontagem de cerca de 50 metros onde o chassi da versão elétrica é preparado e depois outra área semelhante para a versão a gasolina e podemos fazer variar o volume de produção entre os dois sem grandes investimentos. Portanto, a capacidade de ir de 10 a 60% de elétricos na produção levaria semanas, não anos.

Vários países já definiram quando o carro com motor de combustão será banido. Quando acha que isso vai acontecer na Citroën?

É um assunto muito complexo. O Green Deal definiu regras rígidas para 2025 e 2030 e isso impactará o mix de produção e vendas até o fim desta década. Mas espera-se que isso defina um nível médio de emissões de CO2 de 50 g/km até 2030.

Mas 50 não é zero, o que significa que ainda haverá algum espaço para motores a combustão quando entrarmos na próxima década e a mistura será feita de elétricos puros, híbridos plug-in, híbridos e híbridos leves - muito provavelmente não haverá motores de combustão puros, sem nenhum tipo de eletrificação.

Há uma outra dimensão que tem que ver com o que as cidades irão impor em termos de emissões, proibindo carros a gasolina no período entre 2030 e 2040. O que dissemos é que cada novo carro que lançarmos agora terá uma versão eletrificada no mesmo dia.

E então vamos ajustar de acordo com as necessidades, sendo a infraestrutura de carregamento a principal obstrução: quando o carro elétrico se tornar o único carro de cada lar, deve haver uma rede de recarga amplamente disponível e confiável, mesmo durante os horários de pico de demanda, e deve haver um modelo de negócio lucrativo para os fornecedores de energia, que é um problema que está longe de se encontrar resolvido.

Quando a Citroën produzirá apenas elétricos? Essa é a pergunta de mais de um milhão de dólares. Industrialmente, estaremos prontos para construir apenas carros elétricos até 2025 e estamos apoiando a mudança com nossa linha de modelos atual e futura. Mas isso não vai acontecer tão rápido.