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Por que o Japão está perdendo terreno na corrida da eletrificação

Nissan Ariya - Divulgação
Nissan Ariya Imagem: Divulgação

Do UOL

Em São Paulo (SP)

09/03/2021 12h48

Cada vez mais os analistas do mercado automotivo têm visto as marcas japonesas ficando para trás na crescente onda de eletrificação global. Depois de ter sido um dos países que liderou a ida para este tipo de motorização na última década, lançando o 100% elétrico Nissan Leaf, modelos como este se tornaram uma raridade na indústria do país.

O veículo vendeu nada menos que 500 mil unidades, entretanto o Japão não tem investido e não tem incentivado a eletrificação como a China e os países europeus, que já estipularam um ano limite para o fim da produção de carros a combustão. Enquanto isso, a indústria japonesa se foca em seu domínio do mercado de carros híbridos. Espera-se que este seja o foco do país no curto prazo.

Isso assusta Masato Inoue, designer-chefe do Leaf original, que está aposentado da Nissan desde 2014. "Quando ocorre uma interrupção, sempre há medo. Uma grande onda de veículos elétricos está realmente chegando", disse ele ao New York Times.

O fato é que o mercado de elétricos ainda representa um pequeno número das vendas globais, ficando em 3% ao todo. No entanto, lideradas pela Tesla - montadora mais valiosa do mundo - marcas da Europa, Estados Unidos e China estão passando as japonesas, como Toyota e Honda. Em 2020, modelos japoneses representaram menos de 5% dos veículos a bateria vendidos em todo o mundo, com o Nissan Leaf representando 65% deste total.

Em dezembro, o Japão anunciou que acabaria com a venda de carros novos movidos a gasolina até 2035. Porém, o país ainda vê os híbridos como uma tecnologia importante e não tem intenção de seguir o exemplo de lugares como Reino Unido e Califórnia que planejam bani-los. A resistência à eliminação dos híbridos conta com a voz poderosa de Akio Toyoda - presidente da Associação de Fabricantes de Automóveis do Japão e presidente da Toyota, a líder mundial em vendas de carros híbridos.

Além de ter parcerias japonesas para o desenvolvimento de híbridos, a marca também promove para o futuro carros com motor a hidrogênio de queima limpa - tecnologia que ainda não pegou no Japão e em nenhum qualquer outro lugar do mundo.

Para Toyoda, os elétricos são tão limpos quanto a eletricidade que os alimenta e as fábricas onde são construídos. Segundo ele, os benefícios ambientais que carros elétricos oferecem são "uma miragem" sob estas circunstâncias. O Japão planeja se tornar neutro em carbono até 2050.

Em dificuldades no momento, as montadoras japonesas se veriam obrigadas a fazer grandes cortes no caso de uma mudança para elétricos ser determinada. Isso ocorreria pelo fato de os modelos serem mais fáceis de fabricar e terem menos componentes.

A preocupação para Inoue é que a mudança da construção de híbridos para a construção de veículos totalmente elétricos não é fácil. Os dois tipos de carros não podem ser fabricados de maneira econômica nas mesmas plataformas. "Se muitas empresas não mudarem agora, a produção eficiente de veículos elétricos se tornará bastante difícil no futuro", afirma.

Apesar de a Nissan estar à frente de suas compatriotas no mercado de elétricos, no momento ela se encontra atrás de concorrentes pelo mundo, apesar do lançamento do Ariya recentemente - SUV elétrico baseado no Leaf. Em suma, no Japão a falta de entusiasmo do governo por carros livres de emissões pode colocar suas montadoras em desvantagem no futuro.