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BMW i4: andamos no elétrico anti-Tesla ainda em fase final de testes

Joaquim Oliveira

Colaboração para o UOL, em Munique (Alemanha)

12/02/2021 04h00

À medida que o mundo se prepara para que o automóvel elétrico substituía, definitivamente, o de motor a combustão, vão ficando mais próximos os lançamentos dos modelos de grandes volumes de vendas, como o i4. O UOL Carros esteve no centro de testes de Munique (Alemanha) para conhecer melhor o projeto e fazer os primeiros quilômetros de co-piloto de um modelo crucial para a BMW.

Com o i4 a BMW atacará a Tesla em seu território, mas também os sedãs concorrentes de marcas "tradicionais" que deverão surgir no mercado nos próximos 12 meses.

Já foram feitos centenas de milhares de quilômetros de testes nos pontos mais recônditos do mundo, para avaliar o comportamento do carro em diversos tipos de estradas, mas também a resposta do sistema de propulsão elétrica (especialmente a bateria de alta voltagem) em climas extremos, muito quentes e muito frios.

Mas como não basta ir para longe para garantir que o i4 não seja visto por ninguém, o carro é mascarado tanto quanto possível para ficar irreconhecível. Tudo porque tanto as marcas concorrentes quanto a imprensa adorariam saber, seja o que for, sobre um novo modelo, especialmente este que será o primeiro sedã 100% elétrico da marca bávara.

Já de volta ao centro de testes da BMW, a norte de Munique, o i4 está nos retoques finais do desenvolvimento dinâmico ao lado de outros modelos envoltos em menos segredo, como o Série 4 Cabrio (que voltará a ter uma capota em lona) e o Gran Coupé de quatro portas.

David Ferrufino, diretor do projeto i4, explica que "o i4 é um dos carros mais importantes da BMW nos últimos anos porque é o primeiro 100% elétrico com uma carroçaria mais baixa e clássica, que necessariamente terá de juntar o seu forte caráter de Gran Coupé com proporções esportivas e uma dinâmica de dirigir que nada fique a dever à dos carros com motor de combustão".

Dito de outra forma, é fundamental que dê sua contribuição para passar esse DNA da BMW para a era da eletromobilidade.

BMW i4 - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Depois de me fazer passar por uma infindável sequência de portas e corredores labirínticos, Ferrufino para diante de uma porta de correr na zona W08, que se abre após um breve telefonema. E ali está o i4, como uma estrela de cinema no seu camarim recebendo a última maquilhagem antes das filmagens de uma importante cena do filme.

Camuflagem a parte, visualmente é sabido que vai ser mantida a mais proeminente grade que conhecemos no i4 Concept, criando uma ponte entre o passado e o futuro da BMW. Isto porque mesmo "fechada" (por não existir motor de combustão que exija uma elevada capacidade de arrefecimento), serve como uma espécie de "central de inteligência" que abriga vários sensores.

Mudança de paradigma

Se até hoje a propulsão eletrificada na BMW tem sido feita principalmente nos modelos híbridos plug-in (ainda que o i3 tenha sido um dos pioneiros entre os modelos "à bateria") a partir do ano que vem os bávaros prometem mostrar à Tesla o que pode fazer com os muito importantes iX3 (o SUV que chega ao mercado no próximo outono) e este sedã i4.

"Temos que ser fiéis à tradição de fazer automóveis que inspiram os seus motoristas quando os dirigem e, por isso, ser apenas tremendamente rápidos nos arranques em linha reta está muito longe de ser um objetivo", explica Ferrufino, que mal pode esperar para ver o resultado do seu esforço nas mãos dos futuros clientes. Isso vai acontecer exatamente dentro de um ano, na primavera de 2022, espera-se que num mundo já livre da pandemia.

O outro campo em que já se esperava um salto quântico relativamente ao que a Tesla oferece hoje é na qualidade dos interiores.

BMW i4 - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Temos os conhecidos módulos de controle da BMW, mas associados às novas telas curvas (de 12,3" + 14,9") que se estrearam recentemente no iX3. Este será o painel usado nas versões de produção em série dos BMW iNext e i4, e nele quase todas as funções operacionais estão integradas na tela curva, como parte de uma abordagem geral centrada na redução do número de comandos físicos ao mínimo.

Por outro lado, os bancos confortáveis dão mostras de uma qualidade percebida que, mesmo em um protótipo de testes a um ano do lançamento, já mostra ser mais consistente do que o que conhecemos em qualquer Tesla.

O revestimento dos bancos (aquecidos à frente e, opcionalmente, ventilados) é sempre em pele - parcial ou total - e Alcantara, mas existe uma alternativa vegana para quem o preferir.

Inicialmente estarão disponíveis três variantes e dois tamanhos de bateria. A versão de entrada terá 272 cv (200 kW) com tração posterior, enquanto o i4 de quatro rodas motrizes (inicialmente sem o logo M na traseira) chegará aos 476 cv (350 kW).

O M elevará o rendimento máximo até 530 cv, ao nível do que estávamos habituados a ver em um motor V8 - a aceleração de 0 a 100 km/h em 4s confirma, mesmo que a velocidade de ponta na ordem dos 210 km/h esteja, como habitualmente nos carros 100% elétricos, condicionada pela natureza da sua propulsão.

Tão ou mais importante, a evolução da tecnologia das baterias permitirá uma autonomia máxima na ordem dos 600 km para a versão de topo graças a uma capacidade a rondar os 80 kWh (e um peso de bateria de 550 kg).

Mas todas usarão um novo sistema modular (o eDrive entra já na sua 5ª geração) em que motor elétrico, transmissão, inversor estão todos integrados na mesma unidade e, tal como a bateria, são todos feitos pela própria BMW.

BMW i4 - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Este sistema eDrive terá mais células por módulo, menos componentes, será mais compacto e flexível, podendo ser aplicado em vários modelos elétricos do grupo e com diferentes níveis de rendimento.

Importante será o novo carregador de bordo (que a BMW usará em veículos elétricos ou híbridos plug-in) com capacidade de carga até 150 kW, potência em que a tal bateria de 80 kWh pode ser carregada de 0 a 80% em apenas 35 minutos (a uma cadência 100 km a cada 6 minutos).

Tesla 3 como modelo

A BMW está habituada a ser a referência que outras marcas usam no desenvolvimento dos seus novos modelos, mas aqui assume, sem complexos, a sua nova posição: "o Model 3 da Tesla esteve sempre presente neste projeto, desde a sua gênese", admite Ferrufino.

Não surpreende, pois o Model 3 tornou a locomoção 100% elétrica tangível e desejada por parte de milhares de clientes nos Estados Unidos, Europa e Ásia.

As dimensões e proporções dos dois modelos são quase idênticas e mesmo oferecendo bom espaço para quatro adultos e um porta-malas generoso (470 a 1290 litros), este i4 não é claramente indicado para um quinto ocupante, que viajará sempre demasiado apertado e desconfortável ao meio da segunda fila de bancos.

BMW i4 - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Depois de uma paragem nas "boxes" para arrefecimento de freios e pneus e uma troca de impressões inicial, voltamos à pista, desta vez com o próprio Ferrufino ao volante que, com modéstia, avisa logo, com um sorriso escondido pela máscara, que os seus engenheiros de chassis conseguem fazer a pista mais depressa e melhor do que ele.

Não é fácil acreditar. até porque logo após a primeira combinação de curvas já vamos a mais de 170 km/h antes da frenagem, não se sentindo nenhum movimento bamboleante da carroceria, ao mesmo tempo que o motor elétrico não mostra qualquer tipo de debilidade nas acelerações mesmo após sucessivas repetições.

Ferrufino está nitidamente satisfeito com os resultados alcançados e as impressões iniciais, ainda que no lugar de co-piloto, apontam para que a posição de referente dinâmico em eficácia de comportamento possa continuar na posse da BMW quando a era elétrica já não for apenas uma promessa.