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Ford: Procon notifica concessionários a explicar relato de falta de peças

Fábricas da Ford em Camaçari (foto) e Taubaté estão sem produzir componentes desde o dia 11 de janeiro, quando montadora anunciou fim da produção nacional de veículos - Shutterstock
Fábricas da Ford em Camaçari (foto) e Taubaté estão sem produzir componentes desde o dia 11 de janeiro, quando montadora anunciou fim da produção nacional de veículos
Imagem: Shutterstock

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

03/02/2021 12h11Atualizada em 03/02/2021 15h47

O Procon-SP, fundação de defesa do consumidor vinculada ao governo paulista, enviou hoje notificação para a Abradif (Associação Brasileira dos Distribuidores Ford), cobrando esclarecimentos sobre reclamações de falta de peças de reposição relatada pela entidade, que tem 24 horas para responder.

O pedido de explicações acontece após reportagem de UOL Carros, publicada na sexta-feira passada, revelar que associação notificou a montadora no mesmo dia, relatando o suposto problema.

Em circular enviada a toda a rede, a Abradif afirma que suas associadas já têm recebido notificações dos Procons devido à indisponibilidade de componentes para manutenção.

No mesmo documento, a associação acrescenta que cobrará da montadora orientação de como "proceder diante da nova situação por ela criada exclusivamente, responsabilizando-se por todos seus efeitos".

As fábricas da Ford em Camaçari (BA) e Taubaté (SP) estão paradas desde o último dia 11, quando a empresa anunciou o fim imediato da produção nacional de veículos.

No anúncio do encerramento das atividades, a montadora informou que as fábricas seguiriam ativas "por alguns meses para garantir disponibilidade dos estoques de pós-venda". A empresa até tentou convocar uma parte dos seus quadros para a retomada das atividades, sem sucesso. A entrada das unidades na Bahia e em São Paulo permanece bloqueada desde então pelos sindicatos, que cobram a manutenção dos empregos ou indenizações "justas".

Ford diz que tem 'estoque robusto'

Procurada pela reportagem, oficialmente a Ford não comenta a denúncia de falta de peças e afirma que "continuará fornecendo assistência total ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia para seus clientes no Brasil e na América do Sul".

No entanto, obtivemos acesso à resposta enviada hoje pela empresa à Abradif após ser notificada.

O documento diz que "não existe o alegado desabastecimento do mercado de reposição por parte desta montadora, pelo contrário, já que a Ford possui um estoque robusto de peças, inclusive daquelas produzidas nas plantas de Taubaté e Camaçari, não havendo, portanto, nenhum problema de fornecimento de componentes que tenha alguma relação com o encerramento da produção de automóveis no Brasil".

A Ford acrescenta, ainda, que conta com cinco depósitos para fornecimento de peças, "uma das maiores capacidades de armazenamento da indústria no Brasil".

"Apesar da crise de abastecimento global ocasionada pela pandemia da Covid-19, que tem gerado problemas no fornecimento de insumos e na fabricação de componentes, não existe problema no fornecimento à rede de concessionários Ford.

A Abradif, por sua vez, informa que "foi notificada e esclarecerá o tema junto ao Procon-SP".

Procon-SP vai se reunir com montadora

Concessionária Ford - Divulgação - Divulgação
Vendas caíram consideravelmente e vão cair ainda mais quanto acabarem estoques de Ka e EcoSport
Imagem: Divulgação

O Procon-SP notificou a Ford no dia 13 de janeiro para explicar "como será feito o atendimento aos proprietários cujos veículos estão dentro do prazo de garantia; por quanto tempo e, de que forma, serão disponibilizadas as peças de reposição para os veículos que estão fora da garantia; e se o encerramento das atividades das fábricas causará impacto no prazo de entrega dos veículos novos comprados recentemente".

A montadora enviou resposta dentro do prazo solicitado, que está sob análise, e haverá uma reunião amanhã para tratar do tema - informa o Procon paulista.

O Código de Defesa do Consumidor estabelece que "os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto" e acrescenta que, "cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por período razoável de tempo, na forma da lei".

"O entendimento da fundação é de que as peças deverão ser mantidas durante a vida útil razoável do produto e, que, ainda que cesse a fabricação do produto, o fornecedor deve disponibilizar um canal de atendimento para o consumidor", destaca Guilherme Farid, chefe de gabinete do Procon paulista.

Vigília nas fábricas para impedir produção

Protesto taubaté ford - Rogério Marques/Futura Press/Estadão Conteúdo - Rogério Marques/Futura Press/Estadão Conteúdo
Funcionários protestam em Taubaté após anúncio de fechamento; sindicato barra entrada e saída da fábrica
Imagem: Rogério Marques/Futura Press/Estadão Conteúdo

Segundo o Sindmetau (Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região), os funcionários da fábrica do Vale do Paraíba estão de licença remunerada desde 11 de janeiro e, desde o dia seguinte, mantêm vigília ininterrupta nas portarias para impedir a entrada e a saída de qualquer peça ou equipamento - e garantir que não haja nenhuma produção.

O bloqueio é realizado como forma de pressão para retomar as negociações com a Ford em defesa dos empregos - de acordo com o sindicato, a companhia tinha firmado acordos de estabilidade com os trabalhadores das duas fábricas para pelo menos mais um ano de produção no Brasil.

Até o momento, não houve convocação de funcionários em Taubaté para retomar a fabricação de componentes.

Já o Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari confirma que a montadora chegou a pedir a retomada da produção de peças, parada desde 11 de janeiro. A unidade da Bahia fabricava os três carros nacionais da oval azul, bem como motores, câmbios e outros itens.

"A Ford solicitou [a volta ao trabalho], mas, como as negociações sobre uma possível indenização justa não avançaram da maneira como a gente esperava, fizemos uma assembleia. Foi decidido que que iremos travar a produção de qualquer tipo de peça enquanto houver esse posicionamento intransigente da empresa", diz Kleiton Alder Tenório da Silva, secretário de comunicação do sindicato.