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Como motoboy voltou a andar sobre duas rodas após ficar paraplégico

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Simone Machado

Colaboração para o UOL

25/10/2020 04h00

Em outubro de 2004 o motoboy Leonardo de Oliveira, mais conhecido como Leo Soprano, viu a vida mudar. O jovem apaixonado por motos bateu sua Honda CRB 600 em um carro e fraturou duas vertebras, ficando paraplégico - sem os movimentos do peito para baixo.

Morando em Londres, na Inglaterra, Leo, hoje com 43 anos, havia deixado o Brasil cinco anos antes para se aventurar na Europa motivado justamente por sua paixão por motos. Ao ir para o país inglês aos 20 anos, o jovem queria realizar o sonho de comprar uma moto com motor de alta cilindrada, sonho que parecia distante de ser realizado no Brasil devido ao alto custo do veículo.

"Trabalhei como lavador de pratos em um restaurante em Londres e assim eu comecei a vida na Inglaterra. Pouco tempo depois fui promovido a motoboy. Eu pilotava moto o dia todo e na Inglaterra as entregas são feitas com motos maiores que era o meu sonho pilotar. Além disso, a profissão é bastante valorizada e dá apara ganhar dinheiro, em poucos meses consegui comprar a minha própria moto", conta.

Mas ao sofrer o acidente Leo viu sua vida mudar. Sozinho na Europa ele ficou dois anos no hospital se recuperando do trauma. Ao receber alta retornou para o Brasil e depois de um período de recuperação com a família voltou para a Europa, passando a viver na Itália.

Depois de 12 anos do acidente o brasileiro descobriu, através de um amigo que também ficou paraplégico depois de um acidente, que havia um curso de pilotagem de motos para pessoas cadeirantes com aulas realizadas no circuito de Silverstone, na Inglaterra.

A partir daí Leo começou a pesquisar sobre o assunto, já que o jovem acreditava que nunca mais subiria em uma moto, e conheceu o Diversamente Disabili, na Itália, que o ajudaria a novamente pilotar uma motocicleta.

Leonardo de Oliveira - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

O projeto Diversamente Disabili tem o objetivo de levar o esporte sobre duas rodas às pessoas que perderam movimentos ou tiveram membros inferiores amputados. Através dele, quem faz também é possível conseguir a AS - habilitação especial que permite aos amputados pilotar nas ruas.

Foi no projeto que Léo pôde acelerar novamente. Em uma moto esportivas de 600 cilindradas com diversas adaptações como um apoio na lombar, para evitar que o brasileiro escorregasse para trás e também fixação para os pés nas pedaleiras.

"Também tem adaptação para eu mudar as marchar e frear, que é feio tudo com os dedos das mãos. Aos poucos você vai memorizando e acostumando com os comandos. Quando fiz o curso para reaprender a pilotar os instrutores gostaram do meu desempenho e já me indicaram para uma equipe de motovelocidade da minha categoria, que passou a me patrocinar para disputar campeonatos para motos adaptadas", conta Leo Soprano.

O brasileiro tem habilitação do tipo AS que o permite dirigir. Ele utiliza uma scooter adaptada que se acopla à cadeira de rodas e forma um triciclo, dando a ele autonomia para realizar as tarefas do dia a dia e para atividades de lazer.

Devido a pandemia e um problema no rim, no ano passado, Leo não disputou campeonatos nos últimos dois anos. Ele relata que está em busca de novos patrocinadores para voltar a disputar uma temporada completa nas pistas.

"Esse ano só estou treinando e há três meses em um desses treinos consegui mais um feito importante na minha vida e na minha carreira: me tornei o primeiro cadeirante do mundo a conseguir raspar o cotovelo no chão pilotando uma moto. Agora busco mais apoio para no próximo ano conseguir competir", diz.