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Andamos no caminhão autônomo de R$ 700 mil da Mercedes feito no Brasil

Vitor Matsubara

Do UOL, em Lençóis Paulista (SP)

20/09/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Caminhão é feito pela empresa de tecnologia Grunner em parceria com a Mercedes-Benz
  • Axor 3131 recebe mais de 20 modificações; custo do caminhão é de R$ 700 mil
  • Empresa estima economia de combustível de até 60% em relação aos tratores

Carros autônomos ainda estão longe de ganhar as ruas no mundo inteiro. Mesmo assim, a tecnologia de condução sem motorista evolui a passos largos, inclusive nos caminhões. Prova disso é que os primeiros pesados autônomos já estão trabalhando duro no interior de São Paulo.

UOL Carros foi até Lençóis Paulista para andar em um Axor 3131 profundamente modificado para transitar em meio a plantações e, especialmente, poder rodar de forma autônoma.

Axor Autônomo 2 - Malagrine Estúdio/Divulgação - Malagrine Estúdio/Divulgação
Primeiro conceito de caminhão autônomo foi desenvolvido em 2010
Imagem: Malagrine Estúdio/Divulgação

A tecnologia foi desenvolvida pela Mercedes-Benz em parceria com a Grunner. Foi a empresa de soluções tecnológicas em agricultura que desenvolveu, por conta própria, o primeiro protótipo de caminhão autônomo há 10 anos.

Vários aprimoramentos foram feitos nos anos seguinte até que, em 2016, a própria fabricante alemã procurou a Grunner para fechar uma parceria exclusiva que culminaria no desenvolvimento do bruto que vocês estão vendo nesta reportagem.

Um caminhão por dia

Axor Autônomo 2 - Vitor Matsubara/UOL - Vitor Matsubara/UOL
Grunner realiza mais de 20 modificações no caminhão
Imagem: Vitor Matsubara/UOL

A tecnologia é do nível 2, que exige a presença de um motorista na cabine para intervir na direção em qualquer eventualidade.

Porém, dependendo da aplicação, a Grunner diz que é possível acompanhar a atividade por telas a uma distância de 2 a 4 quilômetros, uma vez que o equipamento trabalha por meio de coordenadas de GPS. Neste caso, o operador consegue controlar o veículo por meio de um joystick.

Com peso bruto total de 31 toneladas e 310 cv de fábrica, o Axor recebe mais de 20 modificações antes de pegar no batente.

Axor Autônomo 3 - Malagrine Estúdio/Divulgação - Malagrine Estúdio/Divulgação
Axor ganha bitolas largas e suspensão com bolsas pneumáticas
Imagem: Malagrine Estúdio/Divulgação

Os eixos recebem bitolas mais largas (a distância entre elas é de 3 metros, suficiente para não esmagar as mudas nas plantações) e gigantescos pneus de uso misto, que trabalham em conjunto com o sistema de tração para impedir que o caminhão atole.

Várias peças do Axor, como faróis e lanternas, recebem grades de proteção para não serem danificadas durante o trabalho. Atrás da cabine, o escapamento recebe um isolamento especial para evitar que o calor cause um incêndio no meio de um canavial.

Axor Autônomo 4 - Malagrine Estúdio/Divulgação - Malagrine Estúdio/Divulgação
Monitor exibe informações do trajeto e percurso a ser realizado
Imagem: Malagrine Estúdio/Divulgação

Mas a modificação mais complexa é a instalação do sistema de condução autônoma de nível 2, o que, na prática, significa que o veículo ainda precisa de um motorista para iniciar o movimento e assumir o controle da direção em determinadas situações.

Apesar disso, o diretor comercial da Grunner, Mateus Belei, afirma que é possível finalizar um caminhão autônomo por dia nas instalações da empresa.

Além do transbordo de cana-de-açúcar, o caminhão também pode ser preparado para trabalhar em mineradoras, florestas e na colheita de grãos.

O custo estimado do caminhão com todas as modificações é de R$ 700 mil, sendo que o valor do Axor original de fábrica é de R$ 495 mil.

Aqui é trabalho!

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Caminhão em ação: trabalho é feito 24h por dia
Imagem: Malagrine Estúdio/Divulgação

Rodamos alguns quilômetros por estradas vicinais até chegar à plantação da Agro Cana Caiana.

Lá, dois caminhões já estão trabalhando duro sem parar - literalmente falando, já que a colheita é realizada 24h por dia, divididas em turnos de oito horas.

Entro na cabine e quase tudo é idêntico a um Axor convencional. Há apenas duas exceções: um monitor de 10 polegadas com tela tátil e uma alavanca para controlar os movimentos da caçamba, ambos posicionados à direita do motorista.

Assim que o caminhão entra em movimento, tudo que preciso fazer é apertar um botão no canto do monitor e pronto: o veículo já está em condução autônoma.

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Condutor fica na cabine para realizar manobras e assumir controle em eventualidades
Imagem: Malagrine Estúdio/Divulgação

É curioso ver como a direção (que tem assistência eletro-hidráulica e é extremamente leve nas manobras) é corrigida milimetricamente à medida que avançamos, o que acontece graças a um mapeamento previamente realizado em cada linha.

A partir dessas informações é que o caminhão se guia em meio ao canavial sem passar por cima das mudas ou compactar o solo em volta delas. Estudos afirmam que o tráfego controlado resulta em um ganho de produtividade de 21%.

O veículo percorre a trajetória do mapeamento com uma precisão impressionante. Durante nosso trajeto, a margem de erro não passou de 0,3 cm.

Fim da linha

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Economia de combustível chega a 60% em relação a um trator
Imagem: Malagrine Estúdio/Divulgação

Conforme nos aproximamos do fim de cada linha de plantação, um alerta dá a deixa para reassumir o controle e dar meia volta.

Mesmo com a caçamba toda carregada, o Axor se comporta como se estivesse trafegando em um asfalto dos mais lisos.

Méritos para os pneus de uso off-road e especialmente para a suspensão que combina feixe de molas com bolsas pneumáticas para garantir o equilíbrio do caminhão em qualquer piso.

Já de volta ao volante, a última etapa é realizar o transbordo no treminhão responsável por fazer o transporte da carga. Após o implemento elevar a caçamba a quase 5 metros de altura, o serviço está feito e o Axor está pronto para começar tudo de novo.

A empresa diz que a economia de combustível é de 40% a 60% em relação aos tratores. A Grunner estima que mais de 60 caminhões autônomos já estão trabalhando pelas plantações no país.

Errata: este conteúdo foi atualizado
A grafia correta do nome da empresa de tecnologia é "Grunner", e não "Groomer", como havia sido grafado anteriormente.

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