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Anfavea: vendas sobem 31% em julho, mas desemprego também cresce

Fábrica da VW em São Bernardo do Campo (SP): indústria automotiva segue lento crescimento - Divulgação
Fábrica da VW em São Bernardo do Campo (SP): indústria automotiva segue lento crescimento
Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo (SP)

07/08/2020 11h00

Resumo da notícia

  • Entidade aponta alta de 31% nas vendas em julho de 2020
  • Apesar de crescimento, cenário no ano ainda é ruim
  • Setor demitiu quase 1,5 mil funcionários no mês passado

As vendas de automóveis de passeio voltaram a dar sinais de lento crescimento em julho.

Segundo a Anfavea (Associação das Fabricantes de Veículos Automotores), foram 174,5 mil unidades vendidas em julho, registrando alta de 31,4% em relação ao mês anterior. Frente a julho do ano passado, porém, a queda é de 28,4%.

De janeiro a julho deste ano foram 983 mil unidades vendidas, queda de 36,6% em relação ao ano passado, quando a indústria já havia comercializado mais de 1,5 milhão de unidades no acumulado.

Com a retomada da produção em praticamente todas as montadoras, houve um crescimento de 73% frente a junho, totalizando 170,3 mil unidades fabricadas.

No geral, o cenário ainda é negativo: queda de 36,2% em relação ao mesmo período de 2019 e declínio de 48,3% no acumulado.

De acordo com a associação, isso se deve não à baixa demanda, e sim pela decisão da maioria das fabricantes em trabalhar em apenas um turno ou em dois turnos com distanciamento social, o que acaba interferindo no volume de produção.

No geral, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, afirmou que "a neblina (da economia e do setor automotivo) não permite enxergar o horizonte", referindo-se a previsões para o futuro.

Exportações em alta

Nas exportações, a indústria chegou a 29,1 mil unidades, resultando em um crescimento de 49,7%.

Diante dos números de julho de 2019, a queda foi de mais de 30%, sendo que, no acumulado, houve declínio de 43,7%.

De acordo com Luiz Carlos, o aumento se deve em grande parte pelo represamento de exportações.

"Como as empresas ficaram paralisadas em abril e maio, parte dos embarques foram realizadas em julho para reabastecimento de estoques de Argentina e México.

"Antes da pandemia estavam trabalhando em um ritmo para atingir 3 milhões de veículos produzidos, mas quando tudo isso aconteceu ficamos com estoques muito elevados em veículos e peças. A partir de maio e junho, a indústria foi se adaptando ao novo ritmo. Tivemos um pequeno momento de dificuldades com concessionárias e Detrans fechados, mas chegamos a um ritmo de estoque compatível ao novo patamar do mercado".

Desemprego também sobe

Em julho, houve uma redução de quase 1.500 empregos no setor em relação ao mês anterior. Segundo a Anfavea, já são 3.500 demissões desde o início da pandemia e praticamente 6 mil no período de um ano.

A associação disse que já previa um cenário parecido e alertou que o cenário poderia ser pior, uma vez que várias montadoras estão se apoiando na MP 936 para segurar empregos.

Proconve: Anfavea pede adiamento para 2025

Luiz Carlos também falou sobre a polêmica negociação para adiar a nova fase de emissões de poluentes para veículos novos.

O Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) está previsto para entrar em vigor em 2022 no caso de veículos leves.

Caso consiga o adiamento, a previsão é que as metas sejam cumpridas de dois a três anos após o prazo atual, ou seja, até 2025.

O executivo aproveitou para ressaltar que "desde o início do compromisso, estamos entregando tudo aquilo que está ao nosso alcance e que foi prometido segundo as regras do Proconve" e disse que a Anfavea "não está propondo nenhuma alteração de requisitos ou limites".

"Toda nova fase exige das montadoras tempo para o desenvolvimento e testes de cada produto para atender às determinações. Os veículos atuais que estão sendo vendidos desde 2014 são bastante atuais em termos de emissões de poluentes. A nova fase é muito desafiadora, mas vamos fazer", afirmou.

Questionado sobre os motivos do adiamento, a associação usou outros países para justificar a decisão.

"A Europa está com uma rota de eletrificação muito forte, inclusive com subsídios a veículos elétricos muito significativos. E claro que, depois de tantos investimentos em eletrificação, as fabricantes não querem abandonar a Rota Verde por conta dos investimentos. No ponto de vista que estamos atrasando as tecnologias em relação a países como índia e México, é bom notar que esses países não coíbem as vendas de veículos que não atendem as fases anteriores. No Brasil é diferente, já que nossa legislação é pontual e não permite a comercialização de veículos que não atendem as leis", afirmou Henry Joseph Jr., diretor técnico da Anfavea.

"Estamos na fase de fazer investimentos, algo que os europeus já fizeram. Além disso, os governos oferecem subsídios de até 7 mil euros para quem comprar veículos elétricos. Portanto, quando comparamos não apenas a indústria, mas toda a infra-estrutura, nossa realidade é que somos um país mais pobre. Essa é a realidade", ressaltou Luiz Carlos.