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Elétricos e serviços de mobilidade podem matar concessionárias, diz estudo

Especialistas acreditam que modelo tradicional de concessionária precisa mudar no futuro - Divulgação
Especialistas acreditam que modelo tradicional de concessionária precisa mudar no futuro
Imagem: Divulgação

Vitor Matsubara

Do UOL, em São Paulo (SP)

25/06/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Estudo aponta que concessionárias precisam mudar modelo de negócios
  • Ascensão de carros elétricos e dos serviços de mobilidade vão transformar indústria
  • China: exceção entre mercados que comprarão cada vez menos carros no futuro

Recentemente, em entrevista a UOL Carros, o presidente da Volkswagen, Pablo Di Si, afirmou que não via sentido em reabrir as fábricas sem concessionárias funcionando para vender carros.

Di Si tem razão: as revendas ainda são parceiros fundamentais para o sucesso da indústria automotiva, tanto é que (depois de intensa pressão sobre as autoridades) o setor foi um dos primeiros a obter autorização para reabrir as portas em São Paulo (SP), mesmo em meio a índices cada vez maiores de vítimas da Covid-19.

Antes mesmo do coronavírus, uma pergunta já pairava na cadeia automotiva: qual será o futuro das concessionárias?

Um estudo feito pela consultoria Deloitte com base em dados coletados na América do Norte, Europa e na Ásia pode dar uma pista do que pode vir por aí, inclusive no Brasil.

China é 'último dos moicanos'?

Salão de Xangai - Vitor Matsubara/UOL - Vitor Matsubara/UOL
Salão de Xangai mostra que China ainda quer comprar (muito) carro
Imagem: Vitor Matsubara/UOL

Os automóveis ainda serão bens de consumo cobiçados. O estudo informa que as vendas vão crescer nos próximos 15 anos, embora em uma proporção muito inferior à observada nas últimas décadas.

Há um enorme potencial de crescimento na China, cuja perspectiva de aumento nos lucros pode chegar a 70% até 2035. As vendas no segmento premium também devem subir e responder por 8% do volume total de veículos comercializados no país. Mesmo assim, nem tudo são rosas para as fabricantes de carros.

"A China é o único mercado que está crescendo no momento. Os consumidores ainda querem possuir um veículo, mesmo que eles nem o utilizem com frequência. Ainda há muito potencial, mas, apesar disso, as empresas precisam pensar em como fazer dinheiro. Elas precisam pensar como a digitalização pode ajudar concessionárias e montadoras a ter lucro", afirma Marco Hecker, especialista no mercado automotivo da Deloitte na China.

Mobilidade e elétricos ameaçam revendas

Serviços de carsharing - Divulgação - Divulgação
Serviços de carsharing podem acelerar 'morte' do carro particular
Imagem: Divulgação

A situação, porém, será bem diferente em mercados importantes, como Estados Unidos (alta estimada de apenas 9%) e Europa (queda de 2%). O Japão também deve enfrentar um declínio de 4% nas vendas de automóveis.

Os resultados devem acontecer com base no aumento da procura por serviços de mobilidade, que gradualmente vão decretar o fim dos carros particulares em alguns países.

Além dos aplicativos de transporte particular, como Uber, os serviços de carsharing também vão crescer exponencialmente, principalmente depois da fase pós-coronavírus.

Considere aí o modelo de P2P (no qual proprietários alugam seus veículos por curtos períodos de tempo), semelhante ao sistema "pay per use" (ou "pague pelo uso", em tradução livre), no qual o usuário paga uma tarifa por minuto ou por hora para realizar seus deslocamentos.

Além disso, a Deloitte lembra também que as concessionárias vão precisar rever seu modelo de negócios e adaptá-lo à frota nas grandes cidades.

A consultoria acredita que a frota de carros nos centros urbanos será em sua maioria elétrica, enquanto os veículos movidos a combustão ainda devem rodar nas localidades mais afastadas, como áreas rurais.

Assim, as revendas precisarão oferecer estruturas adequadas para atender cada tipo de cliente.

Especialistas do setor também acreditam que o modelo atual das concessionárias está fadado à extinção, e que a rede autorizada das montadoras sofrerá cortes significativos em poucos anos.

"Acredito que o número de concessionárias vai diminuir no mundo, e não só pela necessidade das montadoras de diminuir custos. Hoje o cliente já chega (na revenda) decidido sobre o que vai comprar. Existe uma tendência dos mercados de eliminar os intermediários e isso acontecerá em todos os setores", opina Antonio Azevedo, CEO e fundador da LogiGo, empresa especializada em conectividade.

O futuro é digital (e elétrico)

Concessionária digital - Divulgação - Divulgação
Realidade virtual ajuda clientes a escolher carro em concessionária digital
Imagem: Divulgação

Existe ainda outros dois importantes fatores que jogam contra o modelo atual de concessionária. Um deles é a popularização dos carros elétricos, que devem resultar em uma redução drástica na venda de peças de reposição e alguns serviços de pós-venda, uma vez que carros elétricos possuem manutenção mais simples do que veículos a combustão.

O segundo fator é o alto custo para manter um imóvel tão grande como uma revenda tradicional. Normalmente os gastos com aluguel e outras despesas fixas são muito elevados de acordo com a localização.

Assim, algumas montadoras já investem em um modelo de concessionária digital, no qual há menos veículos (ou até nenhum) exposto e toda a apresentação do produto é realizada de forma virtual. Com o auxílio de ferramentas de realidade virtual, o cliente pode conhecer e até configurar seu próximo carro em minutos. No Brasil, Fiat e VW já adotam este modelo.