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Produção de carros cai 99% em abril; resultado mensal é o pior da história

Com fábricas fechadas, montadoras produziram apenas 1.800 carros em abril - Divulgação
Com fábricas fechadas, montadoras produziram apenas 1.800 carros em abril
Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo (SP)

08/05/2020 11h28

Resumo da notícia

  • Montadoras produziram apenas 1.800 veículos no mês passado
  • Anfavea critica atuação de autoridades na gestão da crise
  • Associação ressalta importância de cuidar da saúde das pessoas

A Anfavea (Associação das Fabricantes de Veículos Automotores) revelou que a produção de veículos teve uma queda de 99% em abril.

Foram apenas 1.800 unidades fabricadas no mês, acarretando no pior resultado mensal de produção desde 1957.

O número é reflexo direto da paralisação voluntária de todas as fábricas de automóveis do país. Até agora, apenas Renault e BMW retomaram as atividades de forma gradual e com diversas restrições.

"Foi um resultado péssimo, mas esperado. Nós entendemos essas decisões porque a saúde é fundamental para nós e para a sociedade. Estamos contribuindo de alguma maneira com o achatamento da curva dos casos ao paralisar as fábricas de forma espontânea e colocando os funcionários que precisam seguir trabalhando em home office", afirmou Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.

Preços vão subir

O executivo também falou sobre o aumento de preços realizado por algumas montadoras e disse que, apesar de a decisão caber a cada empresa, dificilmente os custos não serão repassados ao consumidor.

"É contraditório (aumentar preços em momento de crise), mas infelizmente não está nas nossas mãos. Nós temos uma enorme pressão de custos nas montadoras. A combinação explosiva de queda de volume e o custo adicional elevado. Cada montadora vai ter que decidir o quanto de fôlego ela tem para suportar o aumento de custos. Estamos falando de quase R$ 2 adicionais no câmbio em relação a dezembro. Boa parte dessa valorização foi desnecessária por conta de uma crise política. Enquanto essa turma (políticos) não se tocar o câmbio terá essa volatilidade", disse.

Luiz aproveitou a oportunidade para criticar a atuação das autoridades brasileiras.

"Essa crise econômica poderia ser menos grave se a gente tivesse a responsabilidade e a sensibilidade de todos os políticos na coordenação dessas ações na pandemia. Infelizmente temos políticos discutindo aumento nos salários dos servidores públicos. Não consigo entender como tem gente que consegue colocar esse assunto em pauta", disse.

"O Brasil precisa ter uma coordenação melhor para conseguirmos o achatamento da curva da saúde e uma melhor preparação. Defendemos as medidas públicas de isolamento e estamos praticando-as, mas também estamos olhando com podemos trabalhar juntos para achatar a curva da recessão. Não tenho dúvidas que vamos ter recessão, mas o tamanho dela vai depender de nossa habilidade em gerir e coordenar as medidas".

Emplacamentos despencam em SP

Os emplacamentos também caíram de forma expressiva: foram 55.735 realizados no país, representando queda de 65,9% frente aos números de março.

Os resultados por estado impressionam: em São Paulo, apenas 551 emplacamentos foram registrados, resultando em queda de 99%. A menor queda foi registrada em Roraima (24%), mas o estado não figura entre os maiores mercados do país.

No período acumulado de janeiro a abril deste ano, a queda nos resultados foi de 26,9%.

Já as exportações tiveram queda de 76,6% em abril, totalizando 7.200 unidades. A Anfavea diz que o resultado era esperado, uma vez que a maioria dos países está com restrições na economia e até nas fronteiras por conta do Covid-19.

Apesar de tantos resultados negativos, Luiz também mencionou um estudo no qual o mercado brasileiro deve ter uma queda "muito próxima a de outros países", ainda que cada nação tenha sentido os efeitos do coronavírus em momentos distintos.

Preparando o retorno

A Anfavea também criou um protocolo com 34 regras para o retorno da produção nas fábricas de veículos. Entre elas estão cuidados na higienização das mãos, espaçamento das estações de trabalho e desinfecção de todas as áreas.

"Fiquei impressionado com o comprometimento e o cuidado das empresas associadas. Nós pegamos as experiências das matrizes na Alemanha, Itália, França, Estados Unidos e Ásia e trocamos conhecimentos. Isso vai desde o momento que o funcionário deixa sua casa até a chegada na empresa, com procedimentos como medição da temperatura corporal e cuidados no chão de fábrica e nos refeitórios. É um trabalho de primeiro nível no mesmo padrão das matrizes", afirmou Luiz Carlos.