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Ex-ator mirim da Globo vira youtuber com vídeos de infrações a 200 km/h

Guillermo Hundadze apareceu em produções da Globo em 2007 e 2008 e hoje acelera seu Mercedes e sua moto no Youtube a altas velocidades Imagem: Reprodução

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

23/04/2020 04h00

Guillermo Hundadze, ex-ator mirim da TV Globo, tem voltado a chamar a atenção na frente da câmera.

Desta vez, porém, é por um motivo bem diferente das interpretações que o levaram a ficar conhecido em todo o País. Hoje com pouco mais de 20 anos, ele tem se arriscado na carreira de youtuber, com vídeos em que aparece descumprindo leis de trânsito, acelerando acima do limite de velocidade e zombando de autoridades.

A última participação de Hundadze em alguma obra da Globo ocorreu em 2008, quando foi protagonista do especial de fim de ano "O Natal do Menino Imperador". No ano anterior, ele chamou a atenção do público como o personagem Quinzinho na novela "Eterna Magia".

Carismático, ele foi convidado para testes após participação no quadro "Lar, Doce Lar", do programa Caldeirão do Huck, que reformou a casa da sua família em 2005.

Guillermo ainda criança, quando era ator da Globo; ele foi destaque da novela 'Eterna Magia', de 2007 Imagem: Reprodução/TV Globo

Tentamos contato com o jovem por meio das respectivas contas no Instagram e no Facebook, onde também há conteúdo do gênero, além do WhatsApp, mas ele não respondeu até o momento.

A maior parte das postagens do "youtuber", cujo canal recentemente passou de 100 mil inscritos, é dele conduzindo em alta velocidade em vias urbanas e rodoviárias com seus veículos, que incluem um Mercedes-AMG A45 e uma motocicleta Yamaha MT-09. Outras gravações exibem o rapaz fazendo o mesmo nos Estados Unidos, onde diz ter morado.

As infrações postadas no Youtube levaram Hundadze a aparecer na Globo mais uma vez, há pouco mais de dois meses.

Na ocasião, o programa "Bom Dia Brasil" veiculou dois vídeos postados pelo youtuber, nos quais ele aparece acelerando automóveis em vias públicas do Estado de São Paulo, onde reside atualmente, dirigindo bem acima do limite de velocidade. Na ocasião, seu nome não foi mencionado.

Aceleradas em frente à casa de Doria

Hundadze não se intimida nem com a presença da polícia e faz xingamentos em frente à casa do governador Imagem: Reprodução

Em pelo menos dois vídeos recentemente publicados na rede social, Guillermo Hundadze passa em frente à casa de João Doria (PSDB), na Zona Oeste da capital paulista, para xingar o governador por conta da quarentena, decretada para conter a disseminação do coronavírus.

Em postagem feita no último dia 15, ele aparece dirigindo seu Mercedes-Benz em frente à residência do político, supostamente durante a madrugada, e não se intimida com a presença de policiais militares que ficam de plantão no local, fazendo a segurança.

"Ele [Doria] não me deixa trabalhar. Tira minhas noites de sono e eu tiro a dele. Votei no Doria como muita gente, posso falar", diz na gravação. No momento em que passa pelo imóvel, Hundadze grita, com as janelas do carro abertas: "Vai trabalhar, Doria! Vai se ferrar, seu jumento!"

Ele repete a cena em outro vídeo, publicado no domingo passado. Dessa vez, ele está com sua Yamaha, que acelera até cortar o giro defronte à casa do governador paulista, para fazer mais xingamentos. Em seguida, o "youtuber" acelera a 125 km/h sua moto em ruas próximas e provoca: "Complicou para o seu lado, hein, governador?".

De acordo com o jovem, a postagem chegou a ser removida pela rede social, mas voltou ao ar após ele entrar em contato com o Youtube para reclamar da "censura", como diz.

Hundadze relata que trabalha com análise de crédito e consulta do histórico de veículos usados. Seu perfil no Youtube remete ao site da empresa.

Audi a 254 km/h na Castello Branco

Em vídeo reproduzido pela Globo, 'youtuber' põe quase 250 km/h em seu Audi A3, que teve perda total Imagem: Reprodução

Em postagem reproduzida pela Globo em fevereiro passado, o "influenciador" dirige um Audi A3 Sportback a 254 km/h. Recentemente, ele contou a seus seguidores, na seção de comentários de um dos vídeos do respectivo canal, que o Audi teve perda total.

Por conta da natureza do seu trabalho, o ex-ator mirim diz conhecer bem as leis de trânsito brasileiras. Em publicação de 8 de fevereiro, feita um dia após a reportagem da emissora, ele reage com ironia:

"Já morei um tempo nos Estados Unidos. Se nem a Justiça norte-americana conseguiu fazer isso [responsabilizá-lo pelos vídeos de infrações e crimes de trânsito], imagina a brasileira".

A aparição inesperada na Globo fez Guillermo Hundadze ironizar o jornalista autor da reportagem, questionando por que ele não mencionou o nome do "youtuber". Também sugere ter investigado a vida do repórter, "que nem teria carro". Na postagem, exibe dois crachás, supostamente do tempo em que trabalhava na companhia de comunicação. "Já fiz parte por muito tempo".

Procuramos a emissora, segundo a qual "o Guillermo nunca teve contrato de prazo longo com a Globo. O último trabalho dele na empresa foi em 2008".

O jovem relata, ainda, que, por conta da repercussão negativa da reportagem, iria começar a editar os vídeos, não mostraria mais o velocímetro nem mencionaria o local onde a gravação foi feita. "O vídeo do A3 nem foi no Brasil", pontua. Porém, a gravação original entrega: ele estava a mais de 200 km/h na Rodovia Castello Branco, no interior paulista.

De moto a quase 140 km/h na cidade

Guillermo acelera sua Yamaha MT-09 a 137 km/h na contramão em ruas do bairro Santana, na capital paulista Imagem: Reprodução

Outra postagem mostra ele pilotando sua MT-09 a quase 140 km/h em ruas estreitas do bairro Santana, na Zona Norte da capital paulista. No entanto, Hundadze enfatiza que a gravação não aconteceu em vias brasileiras.

Dizer que as aceleradas aconteceram fora do território nacional é um expediente comum a outros "infuenciadores": muitos dizem que o vídeo foi realizado no México. Também é frequente afirmarem que postagens exibindo o velocímetro acima do permitido não servem como prova para a aplicação de multas e outras sanções.

O "youtuber" Eduardo Razuk também diz em vídeos postados no Youtube que as gravações não podem ser utilizadas pelas autoridades de trânsito. Razuk foi preso na sexta-feira passada em Campo Grande (MS) por receptação de um Toyota Corolla paraguaio, após reportagem de UOL Carros mencionar o veículo, e é investigado por uma outros crimes pela Polícia Civil do Mato Grosso do Sul.

Projeto de lei prevê usar vídeos como prova

Guillermo Hundadze exibe orgulhoso a placa que recebeu do Youtube por atingir 100 mil seguidores Imagem: Reprodução

O Projeto de Lei 130/2020 quer mudar esse cenário. O texto, de autoria da deputada federal Christiane Yared (PL/PR), propõe que os vídeos postados nas redes sociais sirvam como prova, além de prever penas mais duras aos infratores, bem como a penalização das empresas que veiculam esse tipo de material.

"Na lei atual, a infração só é válida se for lavrada por um agente de trânsito ou partir de um radar. Com a aprovação do projeto, os vídeos passariam a valer como prova e as redes sociais seriam obrigadas a retirar o material do ar, sob pena de serem penalizadas" diz a parlamentar ao UOL Carros.

A deputada é mãe de Gilmar Rafael Souza Yared, que morreu em 2009 na cidade de Curitiba (PR) em acidente provocado pelo então deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho (PSB), que estava a alta velocidade e apresentava indícios de embriaguez. Outro jovem também perdeu a vida na batida. Condenado, Carli Filho hoje cumpre prisão domiciliar.

Segundo Christiane Yared, o projeto de lei estabelece a suspensão do direito de dirigir por um ano, ampliado para dois anos em caso de reincidência. Se o infrator não for habilitado, fica impedido de tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). As penalidades para as redes sociais, informa, ainda estão em debate.

"Esses 'influenciadores' em geral são muito jovens e acham que estão acima da lei, colocando em risco a própria vida e a de outras pessoas. Querem fama, poder e dinheiro. Alguns sentem-se superiores e têm a sensação de que não vão perder a vida. Dá certo uma, duas, três vezes, mas um dia pode dar errado", opina.

A parlamentar acredita que o projeto "passa tranquilo" no Congresso e já requereu votação em regime de urgência. Por conta da pandemia, o texto hoje está parado nas comissões de Viação e Transportes e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Também conversamos com Rodolfo Rizzotto, coordenador do programa SOS Estradas e fundador de entidades de vítimas de trânsito. Ele ajudou a redigir o Projeto de Lei 130/2020.

"Esses vídeos que a gente encontra com tamanha facilidade são uma prova da impunidade no trânsito brasileiro. Ao contrário do que as pessoas dizem, nós temos muito mais uma fábrica de infratores do que uma indústria da multa", critica.

"Eles geram receita para plataformas como o Google. É o máximo da impunidade com benefício da remuneração. O infrator é remunerado pelas infrações e pelos crimes de trânsito", complementa.

Remoção de vídeos depende de denúncia

O UOL Carros entrou em contato com o Google, dono do Youtube e questionou a permanência no ar de vídeos exibindo crimes de trânsito.

A empresa respondeu que "qualquer usuário que acredite ter encontrado uma violação de nossas políticas pode fazer uma denúncia e nossa equipe fará a análise do vídeo".

"Quando não há violação à política de uso do produto, a decisão final sobre a necessidade de remoção do conteúdo cabe ao Poder Judiciário, de acordo com o que estabelece o Marco Civil da Internet", complementa a nota do Google.

Questionamos o Instagram e o Facebook. A resposta foi parecida: "O Facebook conta com padrões da comunidade que detalham o que é permitido ou não na plataforma. Contamos com nossa comunidade para denunciar conteúdos que possam estar violando nossas políticas para que sejam revisados e, se for o caso, removidos". O Facebook é proprietário do Instagram.

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